A produção brasileira "Antena da Raça" integra a lista dos sete documentários da seleção oficial na edição de 2020 da Mostra Cannes Classics, evento paralelo ao Festival de Cannes. Excepcionalmente, neste ano, por conta da pandemia do novo coronavírus, os filmes serão apresentados no Festival Lumière, em Lyon, entre 10 e 18 de outubro, e no Réncontres Cinématographiques de Cannes, entre 23 e 26 de novembro.
A obra, que tem como diretores Paloma Rocha e Luís Abramo Campos, retoma a experiência transgressora e o contexto político e cultural no qual o programa "Abertura", exibido por pouco mais de um ano entre 1979 e 1980, quando foi extinta a TV Tupi – e Glauber Rocha estavam inseridos. Na época, ele propôs temas polêmicos em um período que o país enfrentava um processo de redemocratização. A linguagem do filme, então, dialoga com o estilo gauberiano, provocando uma reflexão crítica sobre o processo democrático e o papel da sociedade e sua relação com os meios de comunicação.
O programa "Abertura" teve seu material de arquivo produzido originalmente no formato de vídeo UMATIC. Em 2008, todo o conteúdo foi copiado para o formato beta digital e depositado na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Em 2018, os programas foram restaurados na Afinal Filmes, com fotografia de Luís Abramo, áudio de Ricardo Mansur e supervisão de Paloma Rocha. Em "Antena da Raça", o encontro dos brasileiros de hoje com os personagens de Glauber e do programa exibido pela TV Tupi religa mais de 40 anos de história, estabelecendo um link entre esses períodos distintos do país. Ao longo da montagem, foram usados trechos dos filmes "Pátio", "Barravento", "Deus e o Diabo na Terra do Sol", "Terra em Transe", "Câncer", "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", "Cabeças Cortadas", "Der Leone Have Sept Cabezas", "Claro", "Di Glauber" e "A Idade da Terra".
Isto é muito bom. Não apenas pelo destaque ao cinema/doc brasileiro, mas pela sempre necessária e fundamental presença de Glauber Rocha. O programa "Abertura",assim como toda a obra glauberiana, estavam tão à frente daquele tempo que provocou a ira mesmos de esquerdistas "fanáticos" (sim, eles existem também, que acusaram Glauber de traidor, entreguista, etc. O tempo e a História já provaram que Glauber estava certíssimo. (GFilberto Motta/Florianópolis-SC)