Além da cota de tela, cinema demanda incentivos federais para divulgação e promoção de filmes nacionais

Simone Oliveira, da Globo Filmes (no canto esquerdo) e Luiz Bannitz, da Encripta (Foto: Ticiane da Silva/ Agência Pressphoto)

Foi realizado nesta quarta-feira, dia 16 de agosto, o último painel desta edição do Gramado Film Market, braço de mercado do Festival de Cinema de Gramado. O debate reuniu Luiz Bannitz, Diretor de Business Affairs da Encripta e Diretor de Conteúdos e Negócios do Looke, e Simone Oliveira, Head da Globo Filmes, e girou em torno especialmente das demandas do mercado de cinema na atualidade. 

Bannitz abriu sua fala relembrando como o market share do cinema nacional, que era em torno de 12% em 2019, antes da pandemia, ainda sofre para recuperar. Em 2021, foi de 2% e, em 2022, dobrou para 4%. É uma tendência de recuperação crescente, mas a estimativa é que os níveis pré-pandemia sejam recuperados somente em 2026. "Neste momento em que discutimos regulação e fomento, precisamos pensar em como vamos trabalhar formação de público. É algo que precisa de um trabalho mais forte em termos de regulação e incentivo. Hoje, competimos com diversos serviços, e as pessoas talvez estejam desacostumadas a assistir filmes no cinema, ter esse tipo de entretenimento", analisou.

"Associado a isso, tem a questão das salas de cinema, que ainda são poucas e extremamente concentradas nas capitais. É uma competição muito desproporcional entre os blockbusters e os filmes pequenos – estes, precisam de oportunidades e mais salas disponíveis para eles. Menores, de repente. O momento de regulação deve pensar ainda em como fomentar uma maior pulverização das salas de cinema pelas capitais de forma isonômica e também no interior dos estados. Fazendo isso, também conseguimos trabalhar a formação de público", acrescentou. "Temos uma tendência de priorizar a produção – que é importante e fundamental, claro, mas temos que pensar em outros aspectos também. Como distribuidora, sinto falta de linhas de incentivo para lançarmos filmes no exterior também. Políticas que proporcionem nosso filmes estrearem lá fora, acessarem mercados para além do nacional. Com essas linhas funcionando e equilibradas, teremos um melhor desenvolvimento da cadeia", destacou. 

Simone, por sua vez, afirmou que apesar de o Governo Federal estar agora preocupado em estimular o mercado, o momento pede urgência. "Os últimos anos foram devastadores para o cinema. Agora, estamos na iminência de votação da cota de tela, que é muito importante. É ótimo que as pessoas estejam voltando aos cinemas – nos Estados Unidos, 25% das pessoas que foram ver 'Barbie' estavam indo aos cinemas pela primeira vez após a pandemia – mas precisamos ter as cotas para nos nossos conteúdos. Os filmes nacionais que estavam em cartaz antes de 'Barbie' saíram, mesmo que estivessem indo bem", apontou. "E precisamos de incentivos para divulgação e promoção também, para que os distribuidores possam promover esses filmes de maneira forte. O público está passivo e, se não chamarmos as pessoas para o cinema, elas vão esperar os filmes saírem no streaming. Precisamos dessa soma de cota de tela e incentivo promocional", defendeu. 

"A maioria dos países têm esses incentivos à produção, que é essencial, mas também esse olhar para a distribuição e o número de salas. Grandes complexos são caros para a população em geral, então também precisamos trabalhar com promoções. A Globo Filmes está em contato com os exibidores pensando justamente nisso, em como levar o público para ver os filmes na tela grande", acrescentou. 

Simone também mencionou que o problema não está no brasileiro não querer assistir aos filmes nacionais. Para justificar, ela revelou que, em 2022, dos dez filmes mais vistos no Globoplay, nove eram brasileiros, com o Top 3 formado por "Minha Mãe é Uma Peça 3", "Eduardo e Mônica" e "Turma da Mônica – Laços". E o interesse do público não está apenas em títulos novos – prova disso é que "Tropa de Elite 2", de 2010, ocupou a quinta posição entre os mais vistos. 

Por fim, a executiva da Globo Filmes abordou a importância da divulgação "corpo a corpo" dos filmes. "No nosso caso, aproveitamos o ecossistema Globo para levar o elenco dos filmes nos programas de TV, por exemplo. Mas eles também viajam pelas praças e participam das pré-estreias. Com 'Medida Provisória' fizemos muito isso. Cria o desejo das pessoas de assistirem. Por isso é importante o incentivo do Governo para a promoção, mas também esse 'corpo a corpo', que era muito comum antigamente. Acho que as pessoas se acomodaram um pouco", opinou. 

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