Clube Filmes, por meio da ICE Capital, abre ofertas de investimentos para produção de novo longa

O novo projeto da Clube Filmes, uma adaptação audiovisual do livro "Tristeza em Pó", de Daniele Toledo, dos quais a produtora já adquiriu os direitos, contará com aporte financeiro de diferentes investidores. A oferta de captação para financiamento foi lançada nesta semana pela ICE Capital, empresa que se lançou no mercado no ano passado com a proposta de mediar rodadas de investimentos no setor audiovisual por meio do crowdfunding com aprovação da CVM. Pela primeira vez, a plataforma mediará a captação de recursos de ponta a ponta para um longa-metragem. 

O filme terá a direção de Fabrício Bittar, de "Como Hackear Seu Chefe". O enredo reconta a história de Daniele Toledo, injustamente acusada pela morte da própria filha com o suposto uso de cocaína na mamadeira da criança. O projeto está em fase inicial e, até o momento, não foram divulgadas informações sobre roteiro e elenco. 

"Nosso objetivo é oferecer oportunidades para investidores fazerem aportes e terem remuneração especificamente financeira", conta William Koga, co-fundador da ICE Capital, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. Koga conheceu o trabalho de Bittar no último ano, por meio do lançamento do "Como Hackear Seu Chefe", e o procurou atrás de detalhes do projeto. "Gostei muito do filme e me chamou a atenção o fato de que ele não custou caro, foi produzido em um tempo relativamente curto e rendeu alta remuneração. A partir daí, começamos a evoluir a ideia do Certificado de Investimento Audiovisual, de forma que tivesse um custo baixo, mas com valor agregado de produto, sem comprometer o lado artístico do filme. Algo completo, que atraísse efetivamente retorno para o investidor", explica. 

"Como Hackear Seu Chefe", de Fabrício Bittar, é o longa mais recente da Clube Filmes

Dinâmica de investimento 

Na prática, a ideia funciona assim: os tais Certificados de Investimento Audiovisual foram ofertados a investidores – com valores a partir de mil reais -, que fazem esse aporte inicial no projeto e, futuramente, recebe retorno do investimento, quando o projeto começar a dar lucros. "Para o produtor, é um investimento que ele recebe. Ele se obriga a entregar a obra e pagar a remuneração. Deixamos claro que a remuneração depende da performance. Esse é o risco que o investidor corre. Ele recebe a remuneração se o projeto decolar e proporcionalmente a isso. Para o investidor, é uma oportunidade de investir no audiovisual nacional, escolher essa área em meio a inúmeras opções que o mercado de investimento oferece. A chegada do streaming trouxe liquidez para o mercado. Tem gente investindo, dinheiro circulando, e os investidores podem participar disso de forma direta. Identificamos essa demanda por parte do investidor. E nós, particularmente, acreditamos muito no mercado audiovisual e no seu potencial", aponta Koga. 

O número de certificados que serão emitidos depende dos valores investidos. Os aportes começam em mil reais, mas há a possibilidade de cobrir a oferta inteira ou adquirir dois certificados, por exemplo. "Enquanto tiver espaço na oferta, nós acolhemos novos investidores. Do nosso lado, gostaríamos que fosse bem pulverizado, ou seja, com diferentes investidores", diz o executivo. 

Remuneração 

Cada certificado garante um retorno preferencial de até 120% – todas as receitas vão para os investidores até que sejam pagos os valores que eles investiram (100%) e mais uma remuneração fixa de 20%. Quitada essa primeira parte, existe uma outra, de remuneração variável. Isto é: depois de superadas as receitas iniciais, a produtora passa a ficar com 70% dos resultados do filme e, os investidores, com 30%. E assim proporcionalmente, dependendo dos negócios que forem feitos, como licenciamento ou renovação de contrato com as janelas, garantindo que o investidor continue a ter retorno. Se acontecer de o produto ser vendido para um terceiro, o lucro da venda é dividido também em 70/30, mas aí o certificado é cancelado, uma vez que a produtora não seria mais detentora dos direitos da obra. 

A intermediação com mercado é feita por meio da ICE e a gestão do negócio em si pela produtora, mas também em parceria com a ICE. "Depois de encerrada a oferta, nós somos 'os olhos' dos investidores. Semestralmente enviamos relatórios de acompanhamento do desenvolvimento do projeto e as evoluções de negociações. Movimentações relevantes, como a seleção para um Festival, por exemplo, também são comunicadas imediatamente. Permanecemos acompanhando de perto o cumprimento das obrigações previstas no certificado e a produtora tem como obrigação nos dar subsídios para atendermos os investidores", detalha Koga. 

Sobre prazos, ele afirma que a empresa trabalha com estimativas, mas que é flexível: "Estimamos dois anos para a produção e o início da rentabilização do projeto. Mas não podemos cravar data, é algo que muda muito. A ideia, no caso específico desse projeto, é trabalhar o lançamento nos cinemas, depois nas plataformas digitais de venda e aluguel e, na sequência, streaming e/ou televisão". 

Co-fundador da ICE Capital, William Koga quer consolidar a empresa com investimentos no setor audiovisual

Consolidação no setor de financiamento audiovisual 

No caso específico do filme de Bittar, os investidores entram no projeto em fase inicial, quando as filmagens ainda nem começaram. Mas a ideia da ICE é, até o fim do ano, ter uma carteira de opções de projetos audiovisuais em diferentes etapas para apresentar aos investidores. "Queremos ter tanto o projeto daquele criador que só tem a ideia e nada mais até o projeto de grandes produtores. Queremos um portfólio com projetos que ainda não saíram do papel e outros que já estão em fase final e já têm até trailer, por exemplo. Podemos ajudar em todas as fases, todos os tamanhos de produções", afirma Koga. 

Outro movimento interno que a empresa fará a curto prazo é montar um time de curadoria, que possa identificar talentos que precisam desses aportes financeiros para colocarem seus filmes na rua. "Acredito que nosso formato de investimento é receptivo a isso e deve ser muito benéfico para o audiovisual nacional", conclui o co-fundador da ICE. 

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