"Mussum – O Filmis" conta a história do artista para além do papel em "Os Trapalhões"

Cacau Protásio, Ailton Graça e Yuri Marçal, do elenco de "Mussum", e o diretor Sílvio Guindane (Foto: Cleiton Thiele/ Agência Pressphoto)

Primeiro longa-metragem para os cinemas do diretor Sílvio Guindane, "Mussum – O Filmis" está na seleção oficial do 51º Festival de Gramado e foi exibido para o público na noite da última quinta-feira, dia 17 de agosto, como parte da programação da mostra competitiva de longas-metragens brasileiros. 

O filme narra a história de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, e vai além do papel inesquecível do humorista em "Os Trapalhões", ao lado de Didi, Dedé e Zacarias, abordando a infância pobre, a carreira militar, a relação com a Mangueira e o sucesso com os Originais do Samba, além de bastidores do grupo humorístico. Protagonizado por Ailton Graça, o longa traz Thawan Lucas Bandeira, Yuri Marçal, Cacau Protásio, Neusa Borges, Jeniffer Dias, Késia e Cinnara Leal no elenco. Baseado no livro "Mussum – uma história de Humor e Samba", de Juliano Barreto, o longa tem produção de André Carreira, pela produtora Camisa Listrada, coprodução Panorama Filmes, Globo Filmes, Globoplay, Telecine e RioFilme. Paulo Cursino assina o roteiro. A distribuição é da Downtown Filmes e a estreia nos cinemas já está confirmada para o dia 2 de novembro. 

Em debate realizado nesta sexta, 18, Guindane falou sobre a forte presença da música popular brasileira no filme: "Essas referências já vinham do roteiro. Meu papel em relação à música foi muito mais em cima de como colocar a MPB que estava no roteiro na tela. Minha preocupação era principalmente que esses atores que fossem interpretar os músicos cantassem de verdade. Todos os números foram cantados, nada foi dublado depois. Era a preocupação de trazer para a tela essa verdade cênica que eu acho que a música brasileira merece e, ao mesmo tempo, fazer com que essa potência que os Originais tinham chegasse no público – o grande público pouco conhece a carreira musical dele hoje em dia". 

No entanto, o diretor ressaltou que não se trata de um filme sobre "Os Trapalhões" ou sobre os Originais do Samba, e sim sobre o Mussum e a história dele, e enfatizou a importância da cena final, que traz um discurso direcionado especialmente às pessoas pretas. "Temos essa necessidade de mostrar para esse público e reiterar coisas que, muitas vezes, não escutamos. É sobre coisas que estão no nosso dia a dia até hoje. O que é dito no final é o que eu gostaria de ter ouvido quando criança – mas fui obrigado a aprender com a vida, tomando na cabeça. Às vezes, saímos da estética que cinematograficamente poderia parecer mais fluida pra chegar naquele final, que tem um didatismo proposital e necessário. Esse final que vai para o lado didático foi um pedido meu para o Cursino (o roteirista). Fui chamado para esse projeto para dar uma visão de um preto filmando preto. E faltava um desabafo, verbalizar tudo isso. No Brasil, não fazemos isso. A população é mantida na ignorância propositalmente por conta de um projeto de poder de gente branca, que quer deixar a camada preta da população na ignorância para servir. Sendo que essa camada é a base mais importante da sociedade e não consegue observar a importância que tem", declarou, revelando que seu próximo filme vai partir justamente daí e mostrar o que acontece com a classe média alta no dia em que os pretos não descem para trabalhar.  

Interpretando um protagonista pela primeira vez no cinema, o ator Ailton Graça, que vive Mussum em seus anos de sucesso com "Os Trapalhões", relembrou o processo: "A condução do diretor e o lugar de observação dele no set foi fundamental para construir gestos e pensamentos e dar a temperatura desse personagem. Estou no processo de construção do Mussum há dez anos – com pesquisas, mergulho, imersão. Todos tinham referências do Mussum, mas quem foi o Antônio Carlos? É um diálogo que fomos costurando, participando de laboratórios… Uma construção bem próxima da que fazemos nos espetáculos de teatro. Foram trocas contínuas para a construção do personagem. O elenco preto tinha uma missão ancestral atrelada no contar a história dessa maneira. São coisas que precisamos semear para as nossas crianças". O ator acrescentou: "Para quem tem outra construção do privilégio, o final pode soar didático. Para nós, é uma filosofia". 

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