Hub de negócios quer criar modelo de produção audiovisual mais ágil e eficiente

Dani Tolomei e Leonardo Edde (da Urca Filmes/SICAV) são os nomes por trás da Transformação Audiovisual, hub de negócios que propõe um movimento de mudança da cultura na forma como pensamos, criamos, produzimos e distribuímos o audiovisual. A dupla se reuniu com Ana Carolina Lima, head de conteúdo do Globoplay; Malu Andrade, diretora executiva da Coração da Selva; e Fabio Lima, fundador e CEO da Sofa Digital; em um painel organizado pela Expocine na tarde desta quinta-feira, dia 18 de novembro, para discutir novas práticas e tendências de negócio para potencializar a criação e o impacto na exibição. 

Edde abriu a conversa contextualizando que, na pandemia, a transformação digital avançou em um ritmo ainda mais acelerado em relação ao qual vinha avançando e essa curva tende a continuar. Então, questionou: "Por que permanecer com a mesma forma de criar se a forma de consumir mudou tanto?". Para ele, especialmente no cenário atual, de pós pandemia e crise institucional no setor, mudanças são urgentes. "Precisamos evoluir na nossa cultura, na maneira como desenvolvemos os novos projetos, produzimos e pensamos, sobretudo, nos negócios. Ainda há preconceito na área em se falar sobre criar produtos para 'fãs'. Os conceitos de fã, produto e negócio ainda são tratados de forma preconceituosa pela nossa indústria. Mas acho que quem não começar a pensar nesses conceitos não vai avançar", opinou. 

Hub de negócios audiovisuais 

Edde criou, ao lado de Dani Tolomei, um hub de negócios audiovisuais que leva no nome sua premissa: Transformação Audiovisual. "Mais do que aplicar ideias, adaptamos valores e ferramentas criando um audiovisual ágil. Nossa indústria trabalha com altos níveis de incerteza e vive em risco. Ao redor do mundo, em universos assim, é onde entram as práticas ágeis, para ajudar a trazer assertividade e a tomar decisões objetivas e práticas. Nossa indústria audiovisual é uma das mais fortes do mundo. Portanto, se esse movimento começa a ser tendência lá fora, temos a obrigação de trabalhar no topo dessa tendência também", afirmou Tolomei. "Quando trabalhamos com um audiovisual ágil, trabalhamos com processos criativamente libertadores. Ajudamos a focar e a gastar energia criativa no lugar certo, onde realmente precisa", completou. 

A Transformação Audiovisual atua a partir de quatro premissas. São elas: toda ideia resolve um problema; pessoas em colaboração constante, em equipes multidisciplinares desde a origem da ideia; ciclos ágeis, testagens, interações e prototipações de histórias; e o sucesso da história é levar valor para o fã/espectador. A respeito desta última, Tolomei ressalta: "A criação de estratégias para atingir e falar com o fã deve estar presente desde antes da origem da ideia. Vivemos no paradoxo da escolha então é preciso ter sempre em mente que os conteúdos precisam ser relevantes de fato. É questionar o que é relevante pro fã, pra quem assiste, e trazer isso para a criação do projeto. O objetivo é entregar ao fã o que ele precisa e nem sabia que precisava". 

Relação dos players e produtores com os fãs 

Ana Carolina Lima, do Globoplay, enfatiza que, por se tratar de um serviço direto para o consumidor, a plataforma ouve o fã o tempo inteiro – principalmente pelas redes sociais, de onde são tirados vários insights. "Temos uma equipe que cuida disso. Nossa relação com os fãs é muito profunda – fazemos conteúdo novo, trocamos conteúdo, tudo com base no que eles querem". Como exemplo, ela citou a criação de um programa chamado "Talk Five", exclusivo do Globoplay, que reunia as cinco protagonistas de "Malhação – Viva a Diferença" para conversas com o público: "Esse programa surgiu da demanda que recebemos nas redes. Não existia esse projeto. E para além das redes sociais, também fazemos inúmeras pesquisas. Nosso time traz um monte de informações. No mundo em que vivemos hoje, não tem como ser diferentes. Temos que pensar sempre com e para quem estamos falando. Sempre encontramos, no fim das contas, um conteúdo que seja bom para os dois lados – para nós e para o público. Quantidade de conteúdo é importante, mas qualidade é fundamental". 

Malu Andrade, da Coração da Selva, concorda que saber para quem o produto audiovisual se destina é essencial no processo de produção. Ela conta ainda que, na produtora, foi criada uma sala de roteiro hiper jovem, isto é, com pessoas da Geração Z. "Para entender como chegar nesse público", justifica. "E isso funcionou muito bem. Além dos jovens, temos sempre uma pessoa mais velha, que é mais experiente. Esse casamento foi muito bonito. Temos projetos em potencial daqui pra frente que, com certeza, vão dar muito mais certo. É um público que consome, então sabe o que funciona. Se não for assim, você não cria um conteúdo que faz sentido". 

Andrade também discorreu a respeito do termo "produto": "Não tem problema nenhum olhar pros projetos como produtos. Tem muito preconceito com essa palavra, como se fosse algo ruim. Mas os games, por exemplo, fazem isso brilhantemente. Por mais independente que o jogo seja, autoral, o desenvolvedor sabe muito bem quem é o público dele. O algoritmo é cruel. Por isso precisamos buscar relevância e sustentabilidade". 

Já Fabio Lima, da Sofa Digital, diz que mais do que chamar a atenção do público para determinado conteúdo, é importante criar uma intenção de assistir. Foi pensando nisso que eles criaram o portal Filmelier, que ajuda nesse processo de encontrar conteúdos e descobrir onde assisti-los. "Por termos essa organização de informações, conseguimos entender o usuário no momento da intenção, isto é, quando ele está buscando um conteúdo. Pra gente, a audiência se divide em como buscam palavras-chave e como navegam, ou seja, como começam esse processo de busca e como se resolvem a partir daí. Pessoas buscando conteúdos são como animais buscando alimento na selva. Pôster, título e sinopse são sinais importantes. São dicas, ajudam no storytelling da pessoa encontrar o conteúdo. Por isso temos uma metodologia, um padrão de criar sinopses. E estamos sempre testando os pôsteres e trailers na internet. É importante para nós ter essa visão da audiência. Para garantir que os filmes sejam o mais vistos o possível. Lançamos em TVOD cerca de 500 a 600 filmes por ano na América da Latina. Por isso, desde a aquisição, já pesamos no fã", explicou.

Não faz muito tempo que a Sofa também começou a trabalhar com desenvolvimento de audiovisual nacional. "Produzimos seis filmes totalmente baseados em leitura de audiência. Sabíamos que tipo de conteúdo lançar, para qual audiência, em qual plataforma. Existe um desenho muito claro de audiência para o qual vamos continuar produzindo filmes", adiantou. Um dos principais talentos com os quais a Sofa trabalha é Luccas Neto, que faz conteúdo para criança. "O Luccas é um bom case. Ele é treinado em testar a audiência diretamente, por conta do seu canal do YouTube. Então ele sabe bem o que funciona em termos de histórias e personagens, por exemplo". 

"Filmakathon"

Desde a sua criação, a Transformação Audiovisual vem fazendo cursos e consultorias. E, em parceria com a Sofa Digital, vai lançar em março de 2022 a primeira "Filmakathon", isto é, um hackathon para produção de filmes do zero, em apenas quatro dias, partindo de um briefing real da Sofa. "Vamos desenvolver os projetos seguindo nossos métodos e ferramentas. Trabalhar tudo isso que estamos falando na prática", resumiu Tolomei. Mais detalhes sobre a iniciativa serão anunciados em dezembro, mas as pré-inscrições já estão abertas pelo site

"Existe uma grande demanda por conteúdos e isso está claro, mas é uma demanda por conteúdos relevantes. Precisamos financiar de forma diferente e produzir mais rápido. Nossa ideia, com o Filmakathon, é compartilhar o conhecimento sobre essas novas práticas. É uma ideia voltada para quem já está no mercado e para quem ainda não conseguiu entrar. É nosso primeiro passo em direção a essa educação para a transformação audiovisual", finalizou Edde. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui