A Empresa Brasileira de Radiodifusão (EBC) enxerga no complexo processo de desligamento do sinal analógico que vai abrir espaço para o LTE na faixa de 700 MHz uma oportunidade para impulsionar a interatividade na TV brasileira. Isso porque, de acordo com as regras já publicadas pela Anatel e pelo Ministério das Comunicações, as famílias cadastradas no Bolsa Família receberão um set-top box com o middleware de interatividade Ginga.
O problema é que o Ginga que está sendo embarcado nas TVs, por força de obrigação legal, depende de uma conexão de banda larga, item que certamente não será encontrado nas casas do Bolsa Família. A EBC, através do seu projeto Brasil 4D, usa um Ginga voltado para a radiodfusão, que apenas usa a rede celular como canal de retorno e é essa “caixinha” que o assessor especial da EBC, André Barbosa, quer emplacar no Grupo de Implantação da Digitalização (GIRED).
“Na portaria está prevista a interatividade e essa é a nossa briga no GIRED porque nós vamos querer que interatividade seja entendida como o Ginga que nós acabamos de classificar e que está indo para o módulo técnico do Fórum (Fórum Brasileiro de TV Digital) pra virar norma ABNT”, afirma ele.
A seu favor, Barbosa tem o compromisso dos fabricantes de set-top box de que é possível produzir a “caixinha” a um custo de US$ 60 cada e ainda entregar às famílias uma antena externa e um cabo HDMI. Por outro lado, as teles certamente vão brigar para gastar o mínimo possível já que, como se sabe, o dinheiro saiu do bolso delas (R$ 3,6 bilhões) e ainda deverá custear a aquisição dos transmissores para as emissoras que migrarão de canal e os custos com mitigação de interferência.
Barbosa explica que o Ginga nasceu completo, ou seja, com a parte boradband e a parte broadcast. O Fórum de TV Digital, onde a EBC também é suplente e, portanto, não tem direito a voto, optou por desenvolver inicialmente a parte broadband. “A nossa luta foi dizer que grande parte da população brasileira ainda não tem internet domiciliar”, afirma.
Com o Ginga broadcast, defende ele, é possível unir celular e televisão em um projeto convergente. “Você está casando celular com baixo tráfego de internet com televisão aberta. A ideia é mandar aplicativos e dados pela radiodifusão, o que é diferente de mandar pela internet, por IP”, afirma.
Momento histórico
André Barbosa classifica o GIRED como um “momento histórico” justamente porque coloca teles e radiodifusão em uma mesa de negociação. Para ele, a convergência entre esses dois mundos é inevitável, embora ainda não se saiba qual será o formato vencedor.
“Eu acho que é oportunidade para plantar uma semente, para que você crie um amalgama, uma confiança. A gente não vai ficar em uma reunião só, será o tempo necessário para que essa migração termine, portanto, até 2018 pelo menos. É como se fosse um Fórum da TV Digital com as telecomunicações. É isso que a gente sempre quis, que as plataformas do Plano Nacional de Banda Larga e a da TV Digital estivessem integradas. Os modelos de negócio estão clamando por isso”, afirma ele.
Brasil 4D
O projeto Brasil 4D (Digital, Desenvolvimento, Diversidade e Democracia) passou por uma prova de conceito com cerca de 100 famílias na Paraíba e hoje está em fase de projeto-piloto com 300 famílias do Distrito Federal. As famílias podem realizar consultas bancárias (na Caixa e Banco do Brasil), confirmar consultas médicas na rede pública e acessar as vagas de emprego, por exemplo.