Com atuação e direção de Guga Coelho, "Nunca Fomos Tão Modernos" estreia nos cinemas

O filme "Nunca Fomos Tão Modernos" chega aos cinemas nesta quinta-feira, dia 21 de abril. Com locações pela cidade do Rio de Janeiro e direção de Guga Coelho, que também atua no longa-metragem, a comédia romântica conta com distribuição da Pipa Pictures (de "Jovens Polacas", "Christabel", "Noites de Alface", "Delicadeza é Azul" e "Lima Barreto ao Terceiro Dia" – este com previsão de lançamento para junho deste ano -, entre outros) e apoio do Canal Brasil.

Na trama, Santiago (Guga Coelho) é um cara azarado e o seu casamento com a Marina (Letícia Spiller) está de mal a pior – muito mais por causa da situação financeira do casal do que pela falta de amor entre eles. Atarefado e preocupado com o trabalho, ele acaba deixando sua esposa sempre de lado, o que chateia e enfurece Marina. Com o intuito de tentar salvar o seu casamento e de sanar a crise conjugal, Marina desabafa com o seu melhor amigo, Argeu (Dudu Azevedo), e a proximidade entre eles acaba proporcionando um plano para provocar ciúmes no marido. O filme conta ainda com participações especiais de Lucinha Lins, Luiza Tomé, Cláudio Tovar e Álamo Facó, além de Ney Sant'anna, convidado especial, que faz uma participação afetiva. Assista ao trailer:


"Foi uma luta muito grande fazer esse filme. Estou indo para o meu quarto e, se antigamente já era difícil, imagine agora", disse Guga Coelho em entrevista exclusiva para TELA VIVA. O ator e diretor contou sobre a história do projeto: "Antigamente, a Globo tinha a Casa de Criação, que reunia roteiristas. Minha mãe (a autora Ana Maria Moretzsohn, de obras como "Pedra Sobre Pedra" e "Riacho Doce") fazia parte do projeto e escreveu esse roteiro lá. Foi uma história que ela escutou da minha tia Vera e junto de Sérgio Marques, também autor, transformou em um argumento. O texto foi premiado na Casa de Criação mas não foi levado pra frente. Naquela época, não havia a possibilidade da Globo tratar de uma temática assim. Descobri essa história por acaso, quando estava usando emprestado o computador dela". 

Antes de "Nunca Fomos Tão Modernos", Coelho dirigiu curtas, documentários e seu primeiro longa de ficção, "A Saga da Alma de um Poeta". "Esse filme é uma história sobre física quântica misturada com Machado de Assis. O projeto era artístico e acabou não sendo bem absorvido pelo mercado. A partir daí, decidi fazer um filme comercial – não no sentido pejorativo, mas sim comercial pensando no espectador, no entretenimento. Não queria ficar fazendo filmes que não fossem veiculados. O saudável é poder fazer todos os filmes possíveis e que eles encontrem seus nichos, suas salas. Dá pra fazer", comenta. Tendo estudado cinema em Nova York, o diretor afirma que uma das coisas que faz um filme "virar" é ter um roteiro premiado. E seguindo essa premissa, ele em breve adaptará uma peça de teatro, também de autoria de Ana Maria. 

"Nunca Fomos Tão Modernos" foi rodado há cerca de cinco anos. "Esse atraso no lançamento é típico da indústria nacional, não é só meu. É um lapso natural que acontece e que, a meu ver, é muito ruim para a indústria brasileira. Isso priva o cinema de participar das discussões, do que está no debate nacional. Os filmes acabam sendo datados, as pessoas não se interessam mais. Na hora de escrever um roteiro, temos que pensar em fazer algo que esteja dez anos pra frente", opina. 

Cena de "Nunca Fomos Tão Modernos", que estreia nos cinemas nesta quinta, 21

Desafios da distribuição 

Coelho, que cresceu acompanhando o mercado audiovisual de perto, tem fortes opiniões a respeito da indústria atual. "O produtor que trabalhou comigo nesse filme, Tininho Fonseca, que infelizmente não resistiu à Covid, foi do Cinema Novo. Nossa ideia era justamente essa, trazer esse estilo de se filmar de antigamente que ganhava o mundo. A própria figura do cineasta, hoje, está em extinção. Ele virou um diretor contratado. Tem que pedir licença para a Ancine para filmar, se esforçar no pitching, depois ter que lidar com a produtora escolhendo atores… É curioso pensar sobre como a gente se rendeu e se submeteu a algo que não é culturalmente nosso. Devíamos ter seguido o modelo de Domingos de Oliveira, feito cinema pequeno. Quisemos ser americanos. O pequeno produtor sofreu muito na mão da Ancine e, hoje, os grandes sofrem a mesma coisa na mão do streaming, com plataformas pedindo coisas impossíveis", reflete. 

Entre os principais problemas, ele aponta os desafios da distribuição. "O que aconteceu com o 'De Pernas Para o Ar 2' é tratado pela mídia como exceção, mas acontece muito. Igual o Lázaro Ramos agora, tendo que pedir por favor para o público assistir ao seu filme na primeira semana. Isso está errado. Os filmes brasileiros têm que ser vistos como informação, têm que estar à disposição do público. Muitos foram feitos e não conseguiram ser distribuídos – aí fica parecendo que houve desperdício de dinheiro público. Estamos em um período tão sério do nosso país. A sociedade civil tem que tomar as rédeas, se empoderar. Caso contrário, ficaremos submissos à classe política. É hora de crescer como sociedade". 

Além de atores, Letícia Spiller e Dudu Azevedo são produtores associados do longa

Financiamento 

Além de atuar e dirigir, Coelho também trabalhou no roteiro e na produção. "Na verdade, eu atuo porque não tenho dinheiro para pagar outro ator", brinca. "Mas eu sou filho de roteiristas, aprendi muito em casa, depois me formei em cinema. Então acho que sei fazer as coisas dentro de um filme", afirma. 

Para ele, o cinema independente – como é o caso desse filme – só dá certo porque as pessoas se entregam de alma, mas isso acaba imprimindo na tela. O diretor explica: "Quando você se preocupa muito com a burocracia, fica anos cuidando de orçamento e documentação, na hora de sair para filmar já está cansado, já usou toda a força do seu filme para resolver documento. As leis de incentivo foram ótimas, claro, mas era para incentivar a indústria privada, e não transformar a cultura brasileira submissa ao dinheiro público. Viramos reféns. Todos precisamos sentar e conversar. O erro do governo passado foi esse – colocar dinheiro na produção e lavar as mãos para a distribuição. Por que a lei de incentivo não ajuda os exibidores e as distribuidoras que estão fechando? Por que não atuamos em formação de plateia? Se você usa dinheiro público, precisa retornar pro público. Falta esse olhar para a cadeia como um todo". 

Guga Coelho e Dudu Azevedo interpretam rivais em "Nunca Fomos Tão Modernos"

Estreia 

"Nunca Fomos Tão Modernos" chega aos cinemas depois de um extenso período de crise – que já vinha de antes da pandemia e foi intensificada pelo fechamento das salas por quase dois anos. "Eu investi meu dinheiro e o dinheiro de parceiros nesse projeto. Então sinto que preciso dar alguma coisa em retorno, para além do discurso. A expectativa, agora, é olhar para a tela e falar 'esse é o resultado da confiança que vocês têm em mim'. Meu ganho é ver que as pessoas que confiaram em mim podem seguir confiando. É um trabalho muito sério", garante. 

Futuro do cinema 

Coelho ainda pondera sobre o futuro do cinema brasileiro. "Tem gente boa para caramba filmando, especialmente nas periferias. E é aí que precisamos das leis de incentivo. É isso o que temos que fazer: olhar para a nova geração. São intelectuais orgânicos, as pessoas que vão contar a história do Brasil em um futuro próximo. Não podemos deixar o cinema renegado a uma panelinha de dois ou três", pontua. 

"Eu sou sempre otimista. Tenho filhos, não posso me dar o direito de ser pessimista. Tem muita gente boa, ideia boa sendo rodada. O que falta é o recurso para a juventude lançar mão dos seus filmes e contar suas histórias. Eles precisam de incentivo. E não os grandes! Houve uma distorção absurda ao longo dos anos. O dinheiro público tem que ir para os pequenos, não para os grandes. Cinema de base é o que temos que fazer. Pode ser um nicho, mas vai crescendo. Precisamos fazer um pacto. Não adianta criticar o governo atual e falar que ele não liga para a cultura se a gente não vai ao cinema assistir filme nacional. Ou falar que o cinema brasileiro só usa dinheiro público mas também não assistir os longas feitos com dinheiro privado. Também está errado", conclui. 

"Nunca Fomos Tão Modernos" chega aos cinemas das principais capitais do país nesta quinta-feira, dia 21 de abril.

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