Novo episódio do "Tela Viva em Foco" aborda as diferentes formas de viabilizar as produções audiovisuais

(Foto: Reprodução YouTube)

O novo episódio do "Tela Viva em Foco", programa do canal da TELA VIVA no YouTube, reuniu representantes de grandes produtoras audiovisuais do Brasil para debaterem temas como a diversificação de recursos para a realização dos projetos – questão que já era recorrente no setor e se intensificou nos últimos anos com a paralisação da Ancine e a pandemia. Com a interrupção do fluxo dos mecanismos de incentivo no último governo, sobretudo do Fundo Setorial Audiovisual, as produtoras que conseguiram seguir trabalhando no período buscaram e encontraram novas fórmulas que, embora não substituam o recurso público, ajudam a compor o orçamento das produções.

Sócia e CEO do departamento de entretenimento da Barry Company, Juliana Funaro lembrou que o cinema brasileiro contava com uma tranquilidade e um certo conforto em relação às políticas públicas, principalmente após 2011, e que diante da paralisação da Ancine foi obrigado a se reinventar. "A Barry modificou muitos modelos de negócio de maneira geral e, no mercado, pude sentir uma busca forte por essa ampliação. Agora, em 2023, vivemos um bom momento, com a volta dessas políticas e novos editais. É uma retomada, mas não perdemos o aprendizado que esses novos modelos trouxeram. A gente se capacitou muito. Hoje, os planos de financiamento podem ser mais dinâmicos porque usam essa junção de políticas públicas com financiamento de players e mecanismos de tax credit e cash rebate", pontuou. 

Ana Saito, produtora executiva da Gullane, contou que a empresa sempre buscou formas de financiamento diferentes, entendendo o que era melhor para cada projeto. "Com a retração que vivemos anos atrás, isso virou uma necessidade maior, quase que uma questão de sobrevivência. De alguma forma, coincidiu com o período de chegada e fortalecimento do streaming no Brasil, que também abriu novos caminhos. Hoje, podemos unir modelos e compor a partir de diferentes opções", afirmou. 

Luciana Druzina, CEO da Druzina Content, destacou que a produtora sempre apostou na força do modelo internacional, e que na recente crise focou ainda mais nessas possibilidades – como fundos de financiamento de outros países e também coproduções internacionais. 

Retomada do diálogo e avanço nas políticas públicas 

As três produtoras têm uma visão positiva em relação ao momento atual. Para Juliana, o cenário é resultado de um processo que veio bem antes da volta do Ministério da Cultura: "Estamos satisfeitos com esse avanço. Durante a pandemia, fizemos um trabalho muito profundo junto com a Ancine para essa compreensão das necessidades do setor, e acho que ela vem espelhando isso nos novos editais. Ainda temos acertos a serem feitos. Isso já tinha no passado, mas com o mercado cada vez mais dinâmico, não teremos nunca editais que atendam completamente às necessidades. Com o tempo, teremos que fazer acertos, coisas que virão naturalmente da demanda dos produtores, de toda a cadeia. O MinC nos ajudou lá em Brasília nessa compreensão da importância da economia criativa de modo geral. Mas a retomada dos editais não veio só por conta dele. É trabalho de todo um setor que funcionou apesar de todas as resistências e os problemas". 

Ana reforçou que essa união do setor foi fundamental e que esse processo de retomada se fortaleceu com a volta do MinC. "Ainda temos muito por desenvolver, as políticas públicas têm potencial de exercitar sua musculatura e avançar. Faz sentido que os editais tenham que ser revistos o tempo todo, pois o mercado está muito vivo e mudando", destacou. "E acho importante entendermos a previsibilidade de financiamento para que a gente consiga se planejar, estruturar modelos e organizar projetos para o futuro", acrescentou. 

Luciana, por sua vez, salientou que o setor hoje retomou o diálogo e a troca com a Ancine que tinha antigamente e que, para além de garantir essa previsibilidade que Ana mencionou, também é importante que os editais estejam ajustados aos valores praticados atualmente. "Eles já estão percebendo que precisamos de editais com valores mais altos para que a gente consiga produzir. Mas o caminho está aberto. Tem coisas que vemos nos editais que não funcionam, aí o setor se une, explica que poderia ser de outra forma, e logo já vemos avanços. Antes do último governo tínhamos um diálogo ativo com a Ancine e perdemos isso. Voltar a ter esse retorno rápido foi algo muito positivo", celebrou. 

Coprodução internacional: troca artística e financeira  

A Barry Company, a Gullane e a Druzina Content são produtoras que apostam muito no modelo de coprodução internacional – na Barry, por exemplo, 95% dos projetos em coprodução são com outros países, e a produtora já soma 27 coproduções internacionais finalizadas e exibidas. "Essa troca com o parceiro estrangeiro é muito importante por inúmeras razões – criativas, pelo plano de financiamento, por esse olhar distinto… Eu percebi que o Brasil vinha num crescente muito grande até o começo da pandemia, com obras brasileiras em todos os grandes festivais e mercados. Em 2018, tivemos a primeira questão com o TCU que acabou paralisando a Ancine. Isso se refletiu na presença – ou a não presença – das nossas obras nos festivais subsequentes", analisou Juliana. "Hoje, vemos uma grande retomada, com trabalhos importantes. Isso se deve muito a parcerias internacionais. É muito expressiva a potência que as obras ganham com o regime de coprodução internacional. E nós seguimos querendo ampliar essa potência, com mais parcerias internacionais e com novos países também". 

A Gullane acredita que a coprodução internacional é um caminho que potencializa a chegada da cinematografia brasileira em outros territórios. "Hoje, o Brasil está conquistando esse lugar de volta. Existe esse desejo e essa demanda. Nosso objetivo é ampliar e abrir novos mercados para coproduzir, tendo a troca artística como principal vantagem e a troca financeira em segundo lugar. Com a coprodução, podemos investir em projetos mais ambiciosos", comentou Ana. 

Luciana também enxerga as coproduções internacionais como uma forma de viabilizar que suas produções entrem em outros mercados e janelas. "No começo, nós íamos atrás dessas possibilidades. Depois, passamos a receber projetos interessados em ter a gente como coprodutores. Principalmente na América Latina, que não tem tantos meios de financiamento", citou. A produtora também mencionou os recentes acordos de coprodução bilateral assinados pelo Brasil – com Portugal, por exemplo – que também reforçam essa troca e fomentam essas oportunidades. 

Importância do cash rebate 

No entanto, as três produtoras enfatizam a importância de que o Brasil desenvolva um mecanismo de cash rebate a nível nacional para que o interesse dos outros países em filmar aqui – ou com produtoras locais – não caia. "Os parceiros estrangeiros têm muito interesse nas histórias que a gente conta. Temos histórias muito peculiares no Brasil, até porque somos um país muito grande, então temos histórias diversas. Isso favorece nossas narrativas. E a gente foi melhorando muito o jeito de contar essas narrativas, de forma mais universal mesmo. O grande problema na troca com os parceiros internacionais é que o Brasil está muito atrasado nos programas de cash rebate e tax return. Se não tomarmos cuidado, daqui três anos teremos problemas de falta de interesse, porque em todos os mercados de fora que tenho ido o maior chamariz é sempre esse: os valores desses mecanismos. Se não tivermos esses programas que vão além das nossas políticas públicas de Ancine, MinC e etc, nós vamos sair do mapa e do radar de interesse dessas outras potências do setor", alertou Juliana. 

Ana complementou: "O cash rebate é fundamental para trazermos novas formas de financiamento. Na Gullane, já estamos coproduzindo com outros países e utilizando, dentro do financiamento deles, esses mecanismos. Concordo com o que a Juliana disse e acrescento: o que a gente tem sentido mais é a falta de previsibilidade dos nossos processos de abertura de financiamento – seja de fundos, de cash rebate, desses resultados. Isso nos prejudica bastante no cronograma de um projeto, especialmente de uma coprodução internacional. Não sabemos quando teremos acesso – ou não – ao recurso". Para ela, a resolução dessa questão junto da adoção do cash rebate é fundamental para o Brasil garantir sua presença de forma mais consistente no mercado nacional e internacional. "Se a gente não instala esse programas, não só não atraímos produções de fora como perdemos essas produções, que vão procurar outra localidades que atendam suas demandas e tenham o benefício", acrescentou. 

Luciana reiterou que essa falta de previsibilidade é realmente um ponto sensível. "Muitas vezes, surge a oportunidade de entrar em um projeto bacana de coprodução internacional, em que os outros países já estão com sua parte captada, e eu não sei quando vai entrar um programa de financiamento no Brasil para que eu possa participar do projeto também. Isso aconteceu com a gente recentemente. E sem o cash rebate, vamos ver cada vez mais nossas histórias sendo contadas em outros lugares", concluiu. 

Assista ao programa na íntegra no canal da TELA VIVA no YouTube ou aqui abaixo:

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