Especialista em coproduções, Barry Company destaca necessidade de mecanismo de cash rebate no Brasil

Grazi Massafera em "Uma Família Feliz" (Foto: Divulgação)

A produtora Barry Company esteve presente na última edição do Festival de Cannes, no Marché du Film, apresentando três projetos em desenvolvimento e um filme em fase de finalização a players e parceiros estrangeiros. Depois dos encontros no mercado, a empresa está firmando parceria com duas coprodutoras, uma da Espanha e outra da França, para a animação "Amigos" ("The Friends"), dirigida por Gabriel Nobrega e com roteiro de Roger Keesse, que já conta com a coprodutora canadense Syon Media. 

"Amigos" ainda foi um dos 32 projetos selecionados, entre 651 inscrições, para o MIFA Pitches, atividade de mercado que ocorreu em junho, paralelamente ao Festival de Annecy, o maior festival de animação do mundo. O filme é uma adaptação do romance infantojuvenil best-seller "The Friends", de Kazumi Yumoto, e conta a história de um grupo de amigos de escola que começam a se interessar pelo tema "morte" depois do falecimento da avó de um deles. Para descobrir o que é e como acontece, começam a seguir um velho que vive recluso em sua vizinhança e que eles acreditam que está prestes a morrer.

"De uns anos para cá o Brasil tem crescido muito, tanto em presença quanto em premiações, em Cannes e também em outros festivais, como Locarno e Berlinale, além de outros dedicados a séries, como o Emmy. Este ano, especificamente, foi uma volta triunfal. Ano passado já foi bom, mas ainda era um pós-pandemia muito próximo. Agora, estávamos todos com muita sede de encontro, negociações e trocas. Enxergo um interesse cada vez maior dos mercados internacionais no Brasil. Há sete, oito anos atrás, nós íamos atrás dos coprodutores. Hoje, eles já nos procuram. Este ano tivemos, mais uma vez, a demonstração de que o Brasil é um parceiro, e não só um mercado", afirmou Juliana Funaro, CEO e diretora executiva da divisão de entretenimento da Barry Company, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

A importância das coproduções 

Uma das espinhas dorsais da Barry Company está justamente nas coproduções internacionais. "É ter troca com outras identidades, culturas e olhares. Independente da narrativa que você está contando, é muito importante. Sempre entendemos a coprodução internacional como algo que vai muito além de uma composição financeira. A gente pode ter uma história completamente brasileira para contar, mas é interessante ter um olhar estrangeiro até para saber se eles estão entendendo o que a gente está falando. O cinema argentino, por exemplo, apesar de terem um DNA muito forte, sempre comunicaram muito bem com outros países. Acho que o Brasil passou a comunicar melhor suas histórias depois dessas trocas com parceiros internacionais. De maneira geral, é um dos nossos grandes diferenciais. Temos quase todos os nossos projetos com coproduções internacionais", contou. 

E falando sobre o projeto "Amigos", Juliana observou: "A cultura oriental tem uma forma muito bonita de ver a morte, que é diferente da ocidental. A morte também é assunto para criança. Elas perdem os bichinhos, os parentes, ainda mais nesse contexto pós-pandemia. Todos temos perdas. Temos um grande número de coprodutores interessados nesse projeto – logicamente porque temos uma equipe muito bem montada para ele, mas também porque a história é muito curiosa. É um tema que tem que ser conversado e tratado com as crianças, talvez de uma forma mais lúdica, mas que é necessário". Para este longa, a Barry já tinha um coprodutor canadense e, depois, fechou acordos ainda com França e Espanha. O filme já está estruturado e passa por um momento de definir quais etapas serão feitas em cada um dos países. "É um projeto muito gostoso, no qual todo mundo acredita muito e está bastante envolvido", celebrou. 

E as novidades em coproduções seguem. Um dos grandes projetos futuros de longa-metragem é a adaptação audiovisual de "O Filho de Mil Homens", livro de Valter Hugo Mãe, uma coprodução nacional entre Barry Company e Biônica Filmes que, internacionalmente, também contará com parceiros de Portugal e França. 

"Temos um cuidado muito grande para escolher parceiros que de fato agreguem para além da viabilização financeira do projeto. Isso é fundamental. Jamais pensamos só em composição financeira, isso seria um tiro no pé", enfatizou. "A gente vai atrás de parceiros que estejam alinhados com o tipo de projeto que a gente quer trazer – mais comercial, menos comercial, se precisamos de apoio na concepção, ou mais na finalização… Tudo isso é muito importante. O que a gente tem na escolha dos nossos parceiros internacionais é uma curadoria prévia. Antes de ir atrás dos coprodutores, analisamos o que cada projeto busca e quais seriam os parceiros ideais para ele. É um processo necessário, porque a chance de cair numa parceria que vá atrapalhar em vez de ajudar também existe", pontuou. 

Programa federal de cash rebate como próximo passo 

Juliana destacou que, em Cannes, viu o Brasil sendo muito procurado e, mais do que isso, enxergou o impacto do esforço da Spcine em relação ao fortalecimento dos mecanismos de cash rebate no Brasil – um programa a nível nacional é, inclusive, algo pelo qual a produtora luta pessoalmente há cerca de seis anos. Atualmente, o país conta apenas com cash rebates em São Paulo e Rio de Janeiro – o que, para Juliana, já faz diferença no interesse dos estrangeiros na parceria com as produtoras brasileiras. 

"Para potencializarmos essa troca internacional, não tenho dúvida nenhuma de que o próximo passo é termos um programa de cash rebate federal. Todas as grandes potências têm, e há anos, com valores entre 30 e 40%", ressaltou. Juliana citou como exemplo os programas da Colômbia, Canadá, Japão, Inglaterra e Uruguai – "Impuros", por exemplo, é uma série que a Barry fez com cash rebate do Uruguai. Outro exemplo é os Estados Unidos que, para além do cash rebate a nível nacional, tem todos os cash rebates estaduais. 

O site da Entertainment Partners mostra quais países possuem o programa de incentivo – e o Brasil está fora desse mapa. "Isso é muito grave. As iniciativas de cash rebate em São Paulo e no Rio de Janeiro são incríveis, mas não darão conta da demanda. A gente já tinha que ter isso há muito tempo. É fundamental que haja uma conscientização, e a gente vem falando isso em várias instâncias. Temos articulações para que isso aconteça, mas ainda não se efetivou. No meu ponto de vista, seria a conquista mais importante a curto prazo", reforçou. 

Próximos projetos

No papo, Juliana também falou sobre os próximos projetos da Barry Company, que incluem os já citados filmes "Amigos" e "O Filho de Mil Homens", além de uma trilogia de longas com a Amazon Prime Video; a finalização da quinta temporada de "Impuros" e já o desenvolvimento da sexta; a série "Amor da Minha Vida", para o Star+; uma adaptação do livro "Capão Pecado", de Ferréz; um projeto sobre o dançarino Ismael Ivo e a série de comédia "Dura na Queda", com direção de Luis Pinheiro e roteiro de Caco Galhardo. 

Por fim, vale mencionar ainda o filme "Uma Família Feliz", thriller psicológico de autoria de Raphael Montes e direção de Jose Eduardo Belmonte que está na seleção de longas-metragens brasileiros do 51º Festival de Cinema de Gramado. 

"Vejo positivamente o futuro próximo da produção audiovisual nacional. Acho que teremos obras interessantes produzidas e lançadas no segundo semestre. Enxergo que há, de fato, uma movimentação forte no mercado, com alterações e modificações de dinâmicas que, se por um lado assustam, por outro instigam que a gente se reinvente. Temos um Ministério da Cultura e uma Ancine que funcionam, com novos editais do FSA. Existe um movimento grande tanto de políticas públicas quanto de produções para o streaming, o que ajuda o mercado como um todo. Temos esses dois caminhos. Ficamos muito tempo sem produção independente e, agora, temos esses dois braços que correm paralelamente. Grandes mercados conseguem trabalhar com a interação de todos os modelos e programas juntos. Não podemos ignorar os avanços que fomos obrigados a aprender na pandemia. As dificuldades fazem a gente se reinventar. Estamos muito mais fortes", concluiu Juliana.

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