Abert aponta em relatório aumento de violações à liberdade de expressão

A Abert lançou nesta terça, 22, o Relatório ABERT sobre Violações à Liberdade de Expressão. "A violência sistemática contra o jornalismo crítico e independente tenta minar, sem sucesso, a credibilidade da imprensa profissional, barreira eficiente contra a propagação de notícias falsas e parte fundamental para as democracias.  A Abert lembra que a liberdade de imprensa não aceita retrocessos", afirmou em evento virtual o presidente da Abert, Flávio Lara Resende.

De acordo com o relatório, pelo menos 230 profissionais e veículos de comunicação sofreram algum tipo de ataque em 2021. O número representa um aumento de 21,69% em relação a 2020. Ao todo, foram registrados 145 casos de violência não letal em 2021.

Desde que a Abert começou a monitorar os casos de violações à liberdade de imprensa e de expressão no Brasil, em 2012, esta foi a segunda vez sem registros de assassinato de jornalistas pelo exercício da profissão.

Nesta primeira década de monitoramento, apenas em 2019 e 2021 a imprensa brasileira não foi atingida por violência letal. Ainda assim, a Abert acompanha os desdobramentos do assassinato do radialista Weverton Rabelo Fróes, o Toninho Locutor, em abril de 2021, executado com seis tiros em frente à casa onde morava, na área rural de Planaltino (BA). A polícia local continua investigando a autoria e a motivação do crime.

Já os atentados – oito, no total – chamam a atenção não apenas pelo aumento significativo no número de casos, que dobrou em relação ao ano anterior, mas pela maneira como foram executados, muitas vezes, com o uso de armas de fogo.

Como em 2020, as ofensas tiveram o maior registro de ocorrências em 2021. Foram 53 relatos, envolvendo pelo menos 89 profissionais e veículos de comunicação, um aumento de 30,88% no número de vítimas.

Em quase sua totalidade (92,45%), os ataques partiram de políticos ou ocupantes de cargos públicos. O número nem sempre representa a realidade, já que muitos casos não são relatados.

Em seguida, estão as agressões, com 34 casos, envolvendo pelo menos 61 profissionais da comunicação, vítimas de chutes, pontapés, socos e tapas – um aumento de 3,39% no número de comunicadores agredidos. Os homens representaram a maioria das vítimas (80,33%). Em 62,22% dos casos, equipes de TV foram as mais atingidas.

As intimidações também tiveram destaque, com 26 casos registrados de Norte a Sul do país, o que equivale a um aumento de 4% em relação a 2020. O número de vítimas aumentou consideravelmente: pelo menos 43 profissionais tiveram o trabalho interrompido, foram recebidos aos gritos ou mesmo impedidos de continuar cumprindo o dever de informar. O número é 43,33% superior ao contabilizado no relatório passado. Mais de 58% dos profissionais atacados eram homens.

Manifestantes e políticos ou ocupantes de cargos públicos foram os principais autores das intimidações à imprensa.

O Relatório traz ainda os casos de ameaças, roubos, furtos e de vandalismo ocorridos em 2021.

A exemplo dos relatórios anteriores, as decisões judiciais – no total de 29 – não entraram na contabilização de violência não letal.

Ataques virtuais

Os ataques virtuais estão em capítulo à parte. De acordo com estudo encomendado pela Abert à Bites, empresa de análise de dados para decisões estratégicas para negócios, apesar da redução de 54% em relação a 2020, as postagens em redes sociais como o Twitter, Facebook e Instagram, com palavras de baixo calão, expressões depreciativas e pejorativas dirigidas à imprensa profissional e aos jornalistas, estiveram em 1,46 milhão de posts, o que representa cerca de 4 mil ataques virtuais por dia, ou quase três agressões por minuto.

Acesse o estudo da Bites na íntegra aqui.

Zona vermelha

Pela primeira vez em 20 anos, o Brasil passou, em 2021, para a chamada "zona vermelha" do Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa da organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF).

De acordo com levantamento da RSF, o país teve uma queda de quatro posições em relação ao ano anterior, passando da 107ª colocação para a 111ª.

Desde 2002, quando a organização começou a publicar a pesquisa sobre as condições para o exercício do jornalismo em 180 países, esta é a pior colocação do Brasil na lista, que aparece ao lado de Bolívia, Nicarágua, Rússia, Filipinas, Índia e Turquia.

Já a Noruega, pelo quinto ano seguido, ocupa o primeiro lugar. Na sequência estão Finlândia, Suécia e Dinamarca. Os países com a pior classificação são Eritreia (180ª), Coreia do Norte (179ª), Turcomenistão (178ª) e China (177ª).

O Relatório da ABERT pode ser acessado  aqui.

(Com informações da Abert)

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