Tati Leite, única brasileira na equipe do live-action "O Rei Leão", conta que docs da Nat Geo foram inspiração

Nesta sexta-feira, 25, a VFX artist Tati Leite, única brasileira na equipe do live-action "O Rei Leão", lançado nos cinemas em julho deste ano, participou de um painel especial durante as programações do Whext, festival de produção publicitária promovido pela Apro. Na ocasião, ela falou sobre os processos de criação do longa com foco nos trabalhos de efeitos visuais. O longa ocupa a segunda colocação entre os filmes de maior bilheteria este ano, perdendo apenas para "Vingadores: Guerra Infinita". 

"Jon Favreau, diretor do filme, queria algo que fosse foto-realístico, e definiu que a inspiração principal seriam os documentários da National Geographic. A ideia para a nova versão era trazer algo mais, que a diferenciasse bastante da animação tradicional lançada lá em 1994. Quando as primeiras imagens do longa começaram a surgir, muita gente questionou se era mesmo um live-action ou só um tipo de animação. Ele foi totalmente gerado por computador, então podemos dizer que é um tipo de animação, sim. Houve apenas uma cena filmada de forma tradicional – todas as outras vieram de computadores", esclarece a artista visual. 

Leite detalhou o passo a passo de criação do filme, que começou com a gravação de falas e diálogos com os atores selecionados para dublar os personagens. "Jon, além de diretor, é ator. Então para ele essa é uma parte bastante importante do filme. Ele valorizou ao máximo os momentos com os atores juntos no set, como se estivessem contracenando mesmo", conta. Em seguida, vieram as modelagens em 3D. "Como a ideia era fazer tudo como se fosse um set de filme real, absolutamente todas as coisas foram modeladas em 3D, uma por uma: rochas, montanhas, terrenos, insetos, animais. Tudo foi criado e, depois, animado. Foi desenvolvido um universo digital completo, com ambientação e personagens", explica. "Para conseguir referências boas e reais, todo o grupo principal do filme, incluindo o diretor, o diretor de fotografia e o supervisor de efeitos especiais, além de outros profissionais da área criativa, foram para África, a fim de criar uma biblioteca de imagens. Eles queriam entender como a luz se comportava na Savana, como era o pôr e o nascer do sol ali. Na viagem, foram produzidas 240 mil imagens e 7 mil vídeos", revela. Nessa fase de trabalho em 3D, foram modelados 921 ambientes, 25 espécies de árvores, 49 plantas únicas, 18 tipos de grama, 17 personagens principais e 63 outros animais. 

A fase seguinte consistiu no que Leite chama de "location scout". "Era hora de buscar onde cada cena iria se passar. Nessa fase, toda a equipe criativa no set virtual usava óculos de VR para, assim, entrarem nas cenas mesmo. Com controles remotos, eles podiam mexer e interagir com todos os elementos que estavam em cena. Eles podiam literalmente mover montanhas", brinca. Segundo Leite, trata-se de um sistema multi-usuário de interação, que funciona como se fosse um jogo. Já a quarta etapa foi pontuada pela animação dos personagens. Ali, foram quase 8 mil animações criadas e submetidas à aprovação. "Contamos com uma equipe de 130 animadores vindos de 30 países diferentes, que se dividiam em equipes baseadas em Londres, Los Angeles e Bangalore. Para mim, os melhores trabalhos são feitos dessa maneira: com diversidade", afirma.

As próximas etapas foram as de iluminação e edição – nessa fase final, foram 1490 shots finais e cerca de 170 mil frames, para aí então chegar ao momento de pós-produção, onde os modelos foram refinados e todos os detalhes acrescentados. "O maior desafio era conseguir essa aparência de live-action, mas com um equilíbrio entre apelo estético e realidade. Para mim, o atrativo de usar esse tipo de produção virtual é criar um processo muito mais colaborativo, com mais gente trazendo inputs desde o início. Quando o diretor dá um feedback para o artista, ele já pode fazer a alteração na hora. É um trabalho em tempo real", pontua. Ao todo, o filme levou cerca de quatro anos para ser concluído e envolveu cerca de 1500 pessoas somente na etapa de pós-produção. 

Sobre a discussão sobre o filme ser live-action ou animação, a VFX artist recupera: "Animações tradicionais, como 'A Bela e a Fera' e 'Aladdin', são fáceis de transformar em live-action. É só produzir um casting de atores. Em 'O Rei Leão', isso não seria possível. Então digo que o filme é visualmente live-action, mas essencialmente animação". Por fim, Leite analisa: "Existe uma preocupação da Disney de renovar seu conteúdo a cada geração. Se a história é boa e legal, por que não recontá-la de uma maneira diferente? Além disso, temos acesso a cada vez mais tecnologias diferentes, o que nos permite dar uma nova cara para boas histórias". 

Tati Leite ainda traz em seu currículo experiências em longas como "Captain Marvel", "Ant-Man and the Wasp", "Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald", "Mission Impossible: Fallout" entre outros. 

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