Através de imagens de arquivo, João Moreira Salles elabora não apenas um filme, mas as memórias de Elisa Moreira Salles, sua própria mãe, além de reconstituir acontecimentos que marcaram o século XX, registrados em vídeos amadores por ela. Esse é o mote de "No Intenso Agora", filme do cineasta que chega à programação do Curta! e ao streaming, através do Curta!On – Clube de Documentários. A exibição é na Quarta do Cinema, 30 de novembro, às 21h50.
Partindo da revolução cultural implementada por Mao Tsé-Tung, na China, o filme – narrado pelo próprio João Moreira Salles – apresenta imagens feitas de maneira informal por Elisa, em meio a uma realidade totalmente diferente da que ela vivia. Surpreendendo o que o próprio filho esperava da mãe, suas impressões configuram profunda admiração pelo que estava diante de seus olhos e de sua câmera.
Passando para os registros feitos em maio de 1968 em Paris, onde a família Moreira Salles residia, o diretor também se utiliza de gravações feitas por fontes distintas – além das filmagens da sua mãe – para tentar reconstituir a força do movimento estudantil da época, que culminou em uma greve geral que parou o país. A narrativa busca refletir sobre o que teria levado a esse estopim. Outro momento histórico analisado através de imagens gravadas por Elisa – também complementadas por vídeos de outros autores – foi a Primavera de Praga, na então Tchecoslováquia. O filme traz ainda imagens breves do Brasil da época.
"No Intenso Agora" constrói, a partir dessas memórias registradas em vídeo, um olhar diante dos detalhes e traça considerações relevantes sobre questões como raça, cultura, liberdade, repressão e sistemas de vida. Também mira em inconsistências, que muitas vezes passariam despercebidas. Assim, João Moreira Salles desloca-se entre o afeto pela própria mãe, o desapontamento com os contrassensos históricos e a admiração pelo utópico desejo de mudança que esses movimentos compartilhavam.