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Longa-metragem “Fluxo”, de André Pellenz, é rodado sem contato físico entre a equipe

“Fluxo”, longa dirigido e roteirizado pelo cineasta carioca André Pellenz (de “Minha Mãe é uma Peça” e “D.P.A. – Detetives do Prédio Azul”) e produzido por Angelo Salvetti, Cosimo Valério e Altino Pavan começou a ser rodado remotamente no Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza. A produção está sendo filmada seguindo rígidos protocolos de distanciamento social: não há contato físico entre diretor, equipe técnica e elenco – exceto o casal de protagonistas, Bruna Guerin e Gabriel Godoy, que são os únicos a contracenarem pessoalmente. “O trabalho de direção remota tem sido estimulante. De repente, precisei rever tudo, da maneira de trabalhar até a linguagem do filme. Mas quem faz cinema gosta de pensar fora da caixa”, declara o diretor em entrevista exclusiva para TELA VIVA.

Na trama, Carla (Guerin) e Rodrigo (Godoy) estão em crise, mas precisam adiar a separação física por conta de uma quarentena decretada para conter a pandemia de um vírus. O casal é obrigado a continuar no mesmo apartamento, sem sair de casa. Juntos 24 horas por dia, eles têm que dividir espaços e tarefas, além de tentar manter o equilíbrio emocional. Com o confinamento forçado, Rodrigo e Carla passam a se olhar através de um afeto inexistente antes da convivência, enquanto percebem que há algo de errado acontecendo nas ruas lá fora. “Sempre quis filmar o conceito de que a relação entre duas pessoas irá mudar com uma convivência forçada. Não é um conceito inédito – muitos filmes já trabalharam com ele – mas achei que no contexto atual seria perfeito. Além disso, as condições de produção iriam, obrigatoriamente, influir na linguagem e no resultado artístico do filme. Essa é uma característica do cinema – que talvez seja a forma de arte que mais incorpora os elementos práticos em seu resultado”, observa o diretor. O elenco também conta com nomes como Silvero Pereira (que vai filmar de Fortaleza), Guida Vianna (que está no Rio), Ronaldo Reis (o Severino, de “Detetives do Prédio Azul”), Alana Ferri e Monika Salvino – todos filmados em suas casas e por meio de seus próprios dispositivos, como laptops e smartphones.

Os atores Bruna Guerin e Gabriel Godoy em cena de “Fluxo”

Sobre os desafios envolvidos nesse processo de filmagem “à distância”, Pellenz comenta: “O mais difícil é superar a ausência pessoal no set e entender a dinâmica dos atores que, afinal, eram também os olhos e as mãos da equipe. Marcar um plano apenas imaginando onde poderia estar a câmera, dirigir os atores por vídeo e passar dez horas todo dia, durante semanas, ligado ao mesmo tempo no Zoom e no Google Meet não é fácil”. O diretor – que também é o roteirista do longa – explica ainda que, por se tratar de um projeto de baixo orçamento, não houve ajuda de equipamentos como câmeras-robôs e drones, por exemplo, que podem auxiliar bastante as produções remotas. “Isso acabou entrando para a linguagem. É um filme ‘analógico’, com muita câmera na mão, inclusive nos diálogos. O que os atores fizeram é sensacional e provavelmente único. Além disso, o trabalho do diretor de fotografia, Enio Berwanger, e da diretora de arte, Raíza Antunes, que nem chegaram a visitar a locação ou me conhecerem pessoalmente, é de arrepiar. Paciência, organização e muita criatividade foram levadas ao extremo nesse filme”, elogia o cineasta.

Analisando esse processo e pensando em quais práticas podem ser levadas para o trabalho no pós-pandemia, Pellenz pontua: “Para filmar nesse modelo tivemos de ser bem mais objetivos e práticos. Entendemos que muita coisa pode ser resolvida em reuniões virtuais. O monitoramento e a comunicação também podem ser aprimorados. Claro que cada pessoa de uma equipe está lá porque é importante e tem uma função – produtor não rasga dinheiro contratando sem precisar – mas a distribuição delas pode ser mais racional”.

O diretor e roteirista de “Fluxo”, André Pellenz

O filme ainda não está pronto – de acordo com o diretor, o objetivo é que ele esteja finalizado ainda este ano, para entrar no circuito dos festivais. Mas, para ele, “é muito difícil pensar em datas agora, ainda mais sem saber como ficarão as salas de cinema”. De qualquer forma, a velocidade de viabilização é uma das características principais do projeto, uma vez que, ao todo, ele levará menos de um ano entre a redação do roteiro, a produção, as filmagens, a edição e a finalização. “Foi de fato um processo muito rápido. Escrevi o roteiro de maneira quase visceral e, com a colaboração preciosa dos atores, reescrevi cenas até a hora de filmar”, conta.

Por fim, Pellenz faz um desabafo a respeito do futuro do setor audiovisual: “Nosso mercado já estava sofrendo muito antes da pandemia com o descaso do atual governo e a da inexplicável ‘não-atuação’ da Ancine. Não adianta nada ter vacina para a Covid-19 enquanto todos os países estimulam seu audiovisual e o Brasil ignora o seu. Não se trata de esquerda ou direita – fosse isso não haveria tantos incentivos nos EUA. Venho de projetos relevantes no cinema e na TV, tanto de dramas como comédias e aventuras infanto-juvenis, que deram bom retorno financeiro ao Estado, geraram muitos empregos e contribuíram para cultura deste país, e dá um tremendo desânimo ver em que ponto estamos”.

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