Série do Globoplay sobre Herbert de Souza, o Betinho, foca na intimidade do ativista

Filipe Bragança e Julio Andrade em "Betinho: No Fio da Navalha" (Foto: Loiro Cunha)

Nesta sexta-feira, dia 1º de dezembro, estreia no streaming da Globo a série "Betinho: No Fio da Navalha", série Original Globoplay que mergulha na trajetória do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho. Passando por sua história pessoal até o amplo legado social que contribuiu para o país, a série é protagonizada por Julio Andrade, que também integra o time de direção. A produção é criada por José Junior e tem direção geral de Lipe Binder. 

"Eu já gostava da família, mas Betinho virou um herói para mim. Em toda a minha existência, acho que é o maior brasileiro que já habitou nosso país. É uma figura muito inspiradora. Fui chamado para a série quando o Julio Andrade já estava envolvido. Sou muito intenso na pesquisa – gosto de saber ao máximo – e o Julinho talvez seja pior que eu. A gente realmente fez um grande laboratório de tudo. Conversamos com muita gente que está viva ainda, pessoas que são retratadas na série. Então viemos muito bem preparados. Eu já sabia que ele era um grande herói mas, depois de beber de todo esse conteúdo, eu fiquei muito inspirado, e senti uma responsabilidade enorme de deixar esse legado permanente na história do Brasil. Em quase 30 anos de carreira, posso falar que esse é meu maior trabalho", afirmou o diretor geral Lipe Binder em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

Em oito episódios, disponibilizados semanalmente, dois a cada sexta-feira, a obra dramatúrgica biográfica retrata a luta de Betinho por grandes causas sociais, em especial o combate à AIDS e à fome, e resgata momentos importantes da vida do homenageado entre os anos 1960 e 1990, intercalando imagens de diferentes fases. Em seu caminho, o ativista enfrentou a AIDS, a ditadura militar, a hemofilia e tantos outros obstáculos pessoais, mas escolheu a fome da população como seu principal inimigo, fundando a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, a maior campanha de solidariedade do Brasil, que completa 30 anos em 2023. A organização também é reconhecida pelo Natal Sem Fome. 

"Acho que não poderia ter timing melhor para contar essa história do que agora, com tudo o que está acontecendo no país. A essência do Betinho é perfeita para o que está acontecendo hoje. A série não é sobre a ideologia ou as posições políticas dele. Todo mundo sabe qual era a posição do Betinho. Mas estamos falando de um cara que falava com todos os brasileiros, do presidiário ao general. Era 'o' brasileiro. Um cara que amava o país, que tinha orgulho de ser brasileiro. Ele não combatia a fome por um partido político ou por uma ideologia, e sim porque ele não queria ver brasileiros passando fome. Essa é a mensagem", ressaltou Binder. 

O diretor Lipe Binder (Foto: Leo Aversa)

Opções artísticas e detalhes de produção  

A série revela um lado pessoal pouco conhecido do ativista, a partir de uma trama familiar no centro da narrativa costurada por eventos históricos, como as Diretas Já. Entre as locações, a trama passeia por lugares simbólicos da trajetória de Betinho, como as ruas da capital paulista e a igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. "A parte das locações foi um desafio, porque a série foi quase inteira feita em São Paulo, sendo que boa parte da história se passa no Rio. Eu tenho muito medo de fazer essas coisas porque não acredito que ninguém vá notar – e se uma pessoa notar, já é ruim. Fizemos muitas escolhas para criar essa reprodução, e acabamos optando por muitos interiores, onde você consegue uma fidelidade maior. O apartamento do Betinho, por exemplo, fizemos em estúdio, e eu bati o pé para que tivéssemos imagens de LED do Rio de Janeiro, porque o Rio é uma cidade que você vê pela janela. Foi uma solução que funcionou bastante", revelou o diretor. "Mas também tivemos uma semana no Rio, onde fizemos a cena da manifestação das Diretas Já na Calendária e outras cenas na praia do Flamengo. Ou seja, conseguimos colocar o Rio na série, mas foi um grande desafio para nós e para a direção de arte", pontuou. 

E ainda falando dos desafios, Binder relembrou que o projeto é antigo, e inicialmente estava previsto para acontecer antes da pandemia. "Depois, tudo ficou mais caro. Tivemos que equacionar esse projeto como um todo para caber no orçamento. Foi um processo em conjunto, e o Alex Miranda, que assina o roteiro final, participou de tudo. Conseguimos olhar para a história e preservar a essência dela", disse. Nesse sentido, o diretor contou que uma opção artística feita a partir daí foi a de focar na intimidade, no ser humano por trás da figura dos grandes eventos, que a maioria das pessoas conhece. Esse foi o fio condutor. "Apesar de tudo isso dialogar, entrar na intimidade da pessoa é muito potente", observou. 

Outro recurso adotado foi: em vez de reproduzir os grandes eventos históricos em que Betinho esteve presente, eles pegaram imagens reais desses eventos e inseriram o ator Julio Andrade e outros nomes do elenco "dentro" deles, isto é, filmando com as mesmas câmeras de antigamente. "Filmamos com Super 8, em 16. As câmeras de vídeo antigas dão um efeito muito legal. Você olha e parece que o Julinho realmente estava lá. Acho que funcionou muito bem, foi uma escolha feliz da nossa parte", celebrou. 

O projeto contou ainda com a participação ativa da família de Betinho, em especial de Daniel Souza, seu filho, um dos consultores e produtor associado da obra. A série traz também outros personagens que fizeram parte do convívio do sociólogo, como Dona Maria, mãe do protagonista, interpretada em diferentes fases por Silvia Buarque e Walderez de Barros. Já Ravel Andrade e Julio Andrade, irmãos na vida real, contracenam como os também irmãos Chico Mário e Betinho. Outro irmão de Herbert de Souza que ganha destaque na trama é Henfil, cartunista, quadrinista, jornalista e escritor brasileiro, personagem de Humberto Carrão. Leandra Leal vive Irles Carvalho, primeira mulher do sociólogo e mãe de Daniel, e Julia Shimura é Maria Nakano, sua companheira até o fim da vida e mãe de seu segundo filho, Henrique.   

Lançamento seriado em streaming 

Binder tem experiência com dramaturgia longa – já dirigiu novelas como "Sinhá Moça", "Gabriela", "Amor à Vida" e "O Outro Lado do Paraíso", além da série "Aruanas" – e por isso ressalta que o projeto de Betinho ter sido uma série de oito episódios foi uma decisão acertada: "Um filme de duas horas seria pouco para contar essa história, que tem tanta coisa – ditadura, exílio, volta para o Brasil, criação do IBASE, Ação Cidadania, Natal Sem Fome. Teve também seu fim trágico, além da morte dos irmãos antes disso. É muito conteúdo, então o tamanho do projeto foi perfeito". 

Nesse sentido, ele também destaca o fato de a série ser lançada numa plataforma de streaming para, principalmente, atingir as novas gerações. "Tenho uma filha de 17 anos, e a maior parte da geração dela não conhece esse cara. Poder mostrar, falar do orgulho da nossa história, desse personagem brasileiro, e transmitir para as novas gerações esses valores é muito bom. Esses jovens têm muita sintonia com o Betinho e não sabem. Seria ótimo fazer esse casamento para que ele seja um ídolo das futuras gerações. Essa era a grande responsabilidade, e algo que me moveu durante a série", salientou. "E é ótimo que ela chegue no streaming, porque essa geração praticamente não consome mais TV aberta. O streaming hoje é a ponte entre os jovens e os mais velhos", brincou. 

Por fim, Binder falou sobre a importância de que o Brasil conte suas próprias histórias. "Acho que temos que preservar melhor a nossa história e a nossa cultura, dando mais valor ao que é nosso. O Brasil valorizando os brasileiros. Podemos fazer muito mais nesse sentido", concluiu. 

"Betinho: No Fio da Navalha" foi criada por José Junior com roteiros de Alex Medeiros, Sergio Machado, Armando Praça, George Walker, José Júnior, Manaíra Carneiro e Rafaela Camelo; redação final de Alex Medeiros; direção de Lipe Binder e Julio Andrade; e direção geral de Lipe Binder. A série Original Globoplay é produzida pela AfroReggae Audiovisual em parceria com a Formata Produções e Conteúdo e o Globoplay. 

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