"B.O.", a primeira série da Netflix protagonizada por Leandro Hassum, estreou na plataforma em setembro. A "workplace comedy" brasileira traz a rotina agitada e peculiar de uma delegacia de polícia no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde um novo e atrapalhado chefe acaba de chegar. "B.O." é produzida pela Camisa Listrada e foi criada por Carol Garcia, César Amorim, Fabíola Alves e Victor Rodrigues. A direção-geral é de Pedro Amorim, com o próprio Hassum e Carol Minêm também assinando como diretores.
A roteirista Gautier Lee é uma das colaboradoras do roteiro. Em entrevista para TELA VIVA, ela falou sobre o formato de sitcom e os desafios do roteiro de comédia. "Para mim, o desafio em escrever comédia em geral é levar o humor que a narrativa pensada em sala propôs para o roteiro em si. É muito fácil para mim ser engraçada pessoalmente, olhando no olho da pessoa, mas ser engraçada encarando uma página em branco é muito mais desafiador", afirmou. "Fui colaboradora na sala de 'B.O.' e não pude ficar com a equipe durante todo o processo – apesar disso, foi muito enriquecedor trabalhar com tantos roteiristas de comédia ao mesmo tempo. Fomos liderados pela Carol Garcia, que é uma excelente roteirista de comédia, e eu aprendi um monte trabalhando com ela", contou.
Gautier também esteve na equipe de roteiro de "Auto Posto", do Paramount+, e analisou: "O maior ponto em comum entre 'B.O.' é 'Auto Posto' é o fato dos dois projetos serem comédia de workplace. Mas, mesmo tendo formatos similares, as duas séries têm tipos de humor completamente diferentes. Em 'B.O.', temos o Leandro Hassum como protagonista, e ele é um ator que tem um tipo de humor que já é muito bem conhecido. Já o 'Auto Posto' tem um humor diferente por ser um falso documentário – e isso nos abre um outro leque de piadas que podem ser feitas dentro desse formato. As duas séries inclusive foram referências para uma série de workplace que eu criei e desenvolvi no Colaboratório criativo da AFAR Ventures com a Netflix Brasil".
Do ponto de vista de uma diretora e roteirista queer negra e que levanta, entre outras bandeiras, a luta de pessoas trans na sociedade, Gautier observou que, hoje, há uma atenção maior em relação aos discursos de ódio que são propagados com a desculpa de serem piadas – e essa atenção tem vindo tanto do público como de profissionais da comédia. "Ainda assim, há quem defenda que a comédia não deveria ter limites. Mas, para mim, o pilar fundamental do riso é o respeito. É possível fazer piadas engraçadas sem reforçar estereótipos. E quem defende o contrário, provavelmente não sabe nem sequer fazer piadas e usa a comédia como instrumento para destilar preconceitos", declarou.
Por fim, ela defende a importância e a relevância de ouvir os grupos minorizados na sociedade – como LGBTQIAP+, negros, PCDs, indígenas – para evitar que a "comédia" ultrapasse os limites. "Atualmente, temos diversos comediantes de grupos historicamente marginalizados que têm trazido uma nova perspectiva para a cena da comédia brasileira. Nomes como Bruna Braga e João Pimenta já estão trazendo repertórios que, além de inclusivos, são extremamente divertidos. E a esperança é que esses artistas sejam cada vez mais reconhecidos, possibilitando que novos talentos tenham uma entrada mais fácil no mercado", concluiu.