Produtores cobram de canais participação no risco das produções

Ter uma participação mais ativa, inclusive financeira, no desenvolvimento de projetos de produção pode ser o modelo para agilizar o processo criativo de novos programas. Segundo Débora Ivanov, sócia da Gullane Filmes, as produtoras não têm fôlego para desenvolver vários projetos de porte, com bons roteiristas e talentos. “Ressentimos muito ter ideias ótimas, mas sem recursos para investir nessa etapa”, diz, lembrando que os canais não aceitam conversar sobre um projeto ainda pouco desenvolvido. “O produtor acaba dando um jeito. Vai levar mais tempo, talvez um ano, para voltar ao canal com o projeto mais desenvolvido”, completou a produtora em debate realizado na ABTA 2014 nesta terça, 5, em São Paulo.

“A nova linha do Fundo Setorial do Audiovisual para desenvolvimento será muito importante. Vai ter um volume de conteúdo de qualidade para ser negociado no Brasil. Mas isso é moroso. Todo mecanismo novo requer um tempo de amadurecimento”, disse Débora.

A equação, diz ela, seria os canais “arriscarem um pouco mais”, investindo com os produtores no desenvolvimento dos projetos.

Carla Albuquerque, da Medialand, concorda apenas em parte: “o canal não é pai da produtora, é marido. Ele divide riscos”, disse. No entanto, ela acredita que cabe às produtoras investir em desenvolvimento dos projetos, inclusive na produção de pilotos. “Os projetos precisam ter um plano de negócios, muitas vezes até sem a participação de um canal”, diz. “E se eu quiser que a primeira janela seja um Netflix?”, questiona.

Carla cobra dos canais mais agilidade nas decisões sobre programação, lembrando que muitas vezes essa decisão nem é tomada no Brasil. “Os canais precisam agilizar as tomadas de decisão internas. Entender que o produtor independente não é um fornecedor”, disse.

Balcão de investimentos

Débora Ivanov também abordou o financiamento da produção. Segundo ela, o Fundo Setorial do Audiovisual pode não ser, em alguns casos, a melhor opção. “Os projetos mais urgentes só acontecerão se os canais tiverem condições de bancar”, disse, apontando a morosidade do fundo na análise de projetos e liberação de recursos. “Há espaço para melhorar muito o FSA, mas não acredito que um dia será um balcão, onde buscamos os recursos mais rapidamente”, completou.

Para Carla, a Ancine é apenas uma das fontes financeiras e o FSA é um investidor e quer ter retorno do investimento. “Como empresária, não posso ter um negócio que só sobreviva através da Ancine. Tem os prazos inerentes do dinheiro público, assim como os cuidados que esse tipo de investimento demanda”, completa.

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