Daniel Rezende, diretor de "Turma da Mônica", quer novos filmes com os personagens

Em 2019, o público brasileiro assistiu a uma versão em live-action da Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, pela primeira vez nos cinemas. "Turma da Mônica: Laços", adaptação da graphic novel de Vitor e Lu Caffagi, que nas telonas ganhou direção de Daniel Rezende (de "Bingo – O Rei das Manhãs"), conquistou um milhão de espectadores em apenas duas semanas de exibição e, ao todo, levou um público de mais de duas milhões de pessoas para os cinemas.

Ao final de fevereiro passado, Rezende encerrou as filmagens de "Turma da Mônica – Lições", sequência de "Laços", que foi totalmente gravado em Poços de Caldas, Minas Gerais. O novo filme é uma outra adaptação da graphic novel homônima escrita e desenhada pelos irmãos Cafaggi. Desta vez, a trama parte da mudança de escola da Mônica (Giulia Benitte) para abordar os desafios da passagem da infância para a adolescência. "O segundo filme já parte de algo mais maduro e profundo. As crianças do elenco estão um ano e meio mais velhas, mais ou menos, e já passaram pela tensão da estreia, da primeira experiência de dar vida a esses personagens. Os quatro estão em um estágio como atores muito surpreendente e bonito de ver. É emocionante. Eles estão seguros tanto com os personagens quanto com eles mesmos. E olha que o roteiro deste segundo filme exigia muito mais deles emocionalmente falando", conta o diretor Daniel Rezende em entrevista exclusiva para TELA VIVA.

Assim como no primeiro filme, o elenco não seguiu um roteiro à risca. "Fizemos algumas leituras para que ele servisse como guia, claro, mas não ficamos presos a ele", explica o diretor. Já entre as novidades, estão a entrada de novos personagens já conhecidos do público – como a jovem Tina, que será interpretada pela atriz Isabelle Drummond – e demais nomes que Rezende ainda não pode revelar, além de mais situações divertidas e emocionantes e cenas no bairro do Limoeiro, onde a trama está concentrada em praticamente 100% do tempo.

"Turma da Mônica – Lições" é uma produção da Biônica Filmes em coprodução com Mauricio de Sousa Produções, Paris Entretenimento, Paramount Pictures e Globo Filmes. A Paris Filmes e a Downtown Filmes assinam a distribuição. A estreia é prevista para dezembro de 2020.

Cinema nacional

Para o diretor, o "cinema brasileiro está engatinhando na tentativa de encontrar sua voz". Ele afirma que a situação é quase que paradoxal: ao mesmo tempo em que o Governo comanda uma verdadeira campanha contra a cultura, o cinema e os artistas, os filmes produzidos aqui se destacam com resultados positivos. "Paulo Gustavo teve a bilheteria do ano, bateu até 'Star Wars'. 'Turma da Mônica' competiu na estreia com 'O Rei Leão', 'Toy Story 4' e 'Homem-Aranha' e não fez feio. O brasileiro ainda tem muito preconceito com o cinema nacional mas, por outro lado, gosta de se ver na tela. E acho que estamos no caminho certo, com nossos filmes representando o Brasil lá fora, em festivais pelo mundo, até no Oscar. Por isso nossa luta vai continuar", analisa.

"Acho que a meta dos artistas agora é trazer o público pro nosso lado, pra comprar a nossa luta", reflete. "Nossa missão deve ser produzir o triplo, melhorar a qualidade e comunicar mais com o público. Meu trabalho é encontrar esse meio termo, que é difícil, isto é, comunicar com o público sem abrir mão da qualidade. Cinema precisa ser feito como mercado", completa.

Sobre possíveis novos filmes dos personagens da Turma da Mônica, Rezende é direto: "Enquanto tiver público, vamos continuar trabalhando nisso". E acrescenta: "Todos os meus projetos estão ligados a personagens brasileiros e a nossa cultura pop. Quero partir desses elementos populares para fazer uma dramaturgia eficiente, profunda e emocionante, de um jeito que não fique devendo nada a um bom filme de fora. O 'Coringa' é um bom exemplo disso. É a coisa mais pop que existe, mas retratada em um filme profundo, que surpreende, que concorre ao Oscar. É a prova de que é possível unir as duas coisas: ter apelo popular e ser bom".

Criação e direção de seriados

Em novembro de 2019, a Netflix lançou a original "Ninguém Tá Olhando", na qual Rezende atuava como showrunner. Mas, em março deste ano, a produção foi cancelada pelo serviço de streaming após uma única temporada. "Fazer série foi uma loucura no melhor sentido. Ser showrunner deixa o ofício de diretor de longa-metragem parecer quase fácil – e olha que é um trabalho muito difícil. Mas aprendi muito com isso, especialmente sobre criação de personagens e universos. Na dramaturgia brasileira são raros os casos em que criamos um universo totalmente novo, que não existe. Nesse sentido, o projeto foi muito interessante. E me diverti fazendo", comenta.

O diretor afirma não ter mais vontade de criar séries. "Estarei em duas novas produções seriadas este ano, mas não são criações minhas", diz. Além disso, ele já está trabalhando na criação de um próximo longa-metragem cujas filmagens terão início em 2021. "O que eu mais gosto é nunca me repetir nos trabalhos. 'Bingo', 'Turma da Mônica' e 'Ninguém Tá Olhando' são projetos bem diferentes. Não gosto de fazer o que eu já sei, e sim o que parece impossível e desafiador", conclui.

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