"Teocracia em Vertigem", especial de Natal do Porta dos Fundos de 2020, será lançado em 10 de dezembro

Nesta quinta-feira, dia 10 de dezembro, o Porta dos Fundos lança em seu canal do YouTube o filme "Teocracia em Vertigem", novo especial de Natal do grupo. Na mesma data, o longa também estará disponível na Pluto TV, recém-lançada pela ViacomCBS no Brasil. Com linguagem documental, a obra satiriza o cenário político brasileiro e questões globais, como a polarização, em um paralelo com fatos ocorridos há 2020 anos, se propondo a parodiar "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, indicado a melhor documentário no Oscar 2020.

Entre manifestações como "Tchau, querido" e "Que Deus tenha a misericórdia dessa nação. Eu voto sim", o especial satiriza o cenário político brasileiro desde o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff até os tempos atuais, em uma adaptação da saga bíblica sobre a crucificação de Cristo. Com uma sociedade polarizada entre Jesus e Barrabás, o filme traz depoimentos de personagens da vida de Jesus Cristo como parentes, apóstolos, testemunhas anônimas e até mesmo "o outro lado", com falas de Caifás e Pôncio Pilatos – que relatam suas visões do caso que mudou a história das religiões no mundo. Assista ao trailer:

Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira, 9 de dezembro, Fábio Porchat, sócio fundador do Porta dos Fundos, retomou o histórico dos especiais de fim de ano do grupo e falou sobre as especificidades deste, que é o oitavo: "É um produto que lançamos desde 2013. Sempre sou eu quem escreve – às vezes sozinho, às vezes com alguém. Neste ano, parti de uma
ideia original do Gabriel Esteves, um dos nossos roteiristas. Começamos a pensar no projeto em março – o especial é algo que demanda bastante antecedência – mas, com a chegada da pandemia, os planos foram mudando um pouco. Nenhuma das ideias iniciais seria possível, afinal, todas envolviam aglomerações de pessoas. Até que o Esteves sugeriu um documentário, já que é um formato que permitiria os atores sozinhos, falando para a câmera. Quando surgiu o título, todo o texto veio na sequência. Parece que quando tem a ideia, as piadas aparecem prontas logo depois e tudo se alinha".

Depois de dois anos sendo lançado diretamente na Netflix, o especial de fim de ano do Porta volta a ser um produto original do YouTube do grupo. Christian Rôças, o Crocas, CEO do Porta: explica: "O especial é como se fosse o nosso Superbowl, é algo que as pessoas já esperam. Em comum acordo com a Netflix, optamos por trazer para o canal porque é um produto que vem, todo ano, para reforçar nosso DNA como marca. Tanto é que eles liberaram para gente os outros dois especiais, de 2018 e de 2019, que até o final deste ano estarão no canal também. É o histórico de sempre lançar no YouTube". O especial de 2018, inclusive, "Se Beber, Não Ceie", foi vencedor do Emmy Internacional na categoria Humor.


Gregório Duvivier em cena de "Teocracia em Vertigem"

As gravações este ano foram realizadas entre os meses de agosto e setembro e respeitaram uma série de protocolos por conta da Covid-19, como testagem constante de equipe e elenco, uso de máscara, álcool gel e distanciamento. "A verdade é que estamos desde março trabalhando remotamente, não paramos, encontramos uma fórmula que funcionou para nós", contou Rodrigo Van Der Put, diretor do "Teocracia em Vertigem" e também de algumas esquetes do Porta. "Essa parte de preparação, como todo mundo já se conhece bem, foi fácil. Já temos essa troca. Como não teríamos a oportunidade de ensaiar, foi um bom passo à frente. Algumas coisas, claro, não deram certo, como a tentativa de uma leitura virtual com 25 atores. Acabamos dividindo em grupos depois. Foi um grande trabalho de confiança no elenco e de fazer o dever de casa, planejando tudo para que, no fim, nada parecesse planejado", completou.

Mesmo nos motes de gravação remota, com as restrições impostas pela pandemia, a produção foi grande: o especial deste ano conta com diversas participações especiais, de artistas como Clarice Falcão, Daniel Furlan, Emicida, Gabriel Louchard, Hélio de la Peña, Marcos Palmeira, Raphael Logam, Renato Goés, Teresa Cristina, Yuri Marçal e a própria diretora de "Democracia em Vertigem", Petra Costa, entre outros.

No elenco, estão também os fundadores do grupo – Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregório Duvivier e João Vicente de Castro – e a trupe fixa do Porta, composta por Evelyn Castro, Fábio de Luca, Gabriel Totoro, Noemia Oliveira, Pedro Benevides, Rafael Infante, Rafael Portugal e Thati Lopes.
Com participação de Arnaldo Antunes cantando "Marcha do Demo" (Titãs, 1988) e até videoclipe original, o projeto tem o DNA do Porta dos Fundos.

Especial censurado

O enredo do filme de 2019, "A Primeira Tentação de Cristo", lançado pela Netflix, retratava Maria como adúltera e sugeria que Jesus teria tido um relacionamento gay. Na época de seu lançamento, em dezembro, Deputados da Assembleia Legislativa de São Paulo começaram a reunir assinaturas para pedir a abertura de uma CPI, com intenção de apurar um suposto crime contra o sentimento religioso comentido pelo grupo. Na sequência, uma promotora do Ministério Público do Rio de Janeiro deu parecer favorável à suspensão da exibição do especial. Mais tarde, a Justiça negou o pedido de suspensão do filme.

No entanto, os problemas não pararam por aí: na véspera do último Natal, a produtora do Porta dos Fundos, na zona Sul do Rio de Janeiro, sofreu um ataque com bombas incendiárias. O local teve a fachada atingida por coquetéis molotov. Somente um dos envolvidos no crime foi identificado mas, até agora, ninguém foi preso.

Diante disso, Porchat garante: "Nós nunca tivemos dúvida de que lançaríamos mais especiais de fim de ano – e nem a Viacom, que é nossa parceira. O que é muito bom porque lá atrás, antes de fechar qualquer contrato, tínhamos isso muito claro em mente, de que não queríamos uma empresa nos controlando. E nossa alegria é essa, a Viacom sempre nos incentivou a continuar fazendo as coisas do nosso jeito. A Netflix também foi muito parceira na luta contra a censura, os advogados deles foram ao STF. Todos os nosso parceiros continuaram do nosso lado e, neste ano, vendo tanta gente topar participar do filme, sentimos ainda mais essa parceria".

Os outros sócios e fundadores do Porta dos Fundos também comentaram o assunto. Para João Vicente de Castro, o especial é a "cereja do bolo" do final do ano do grupo. "Os acontecimentos passados nos deixaram muito mais tristes do que com medo. Mas pra gente, como empresa, é muito importante ter esse produto que, além de um filme especial, é um momento em que todo mundo se junta, é quase uma festa de fim de ano que vira um conteúdo. Foi muito bom estar junto, ainda mais neste ano, que passamos separados. Arrisco dizer que é o melhor especial que já fizemos – mostra um amadurecimento nosso. E vai dar o que falar, sim", afirmou o ator.


Antonio Tabet no especial de Natal de 2020

Antonio Tabet, o Kibe, aponta que a polêmica que aconteceu se resume à homofobia: "No especial anterior, que retratamos Jesus como mau-caráter, não houve nenhuma repercussão nesse sentido. Mas quando teve alguma insinuação de que ele tivesse um relacionamento homoafetivo, teve deputado falando que a gente 'xingou' – nessas palavras – Jesus de gay. Acho que esse especial tende a não ter uma repercussão tão grande porque ele é mais político. O 'cidadão de bem' é mais tolerante com críticas políticas do que com valores que ele julga moralmente certos ou errados".

Já Gregório Duvivier diz que o humor é uma atividade política – assim como todas as outras atividades, a exemplo da arte e do jornalismo. "Jesus era uma figura política, o especial mostra isso. Em geral, nossa ideia não é – ao contrário do que parece para algumas pessoas – destruir os valores cristãos. Pelo contrário. Nossos especiais são cristãos, fazem quase um resgate dessa história", pontuou.

O "Teocracia em Vertigem", especial de 2020, não ignora os acontecimentos passados. Ao contrário: as cenas da explosão na produtora estão presentes no clipe que encerra o longa. Além disso, alguns comentários de ataque que o grupo recebeu foram colocados nas falas dos personagens em alguns momentos do filme. Por fim, a campanha de divulgação bate na tecla do livre arbítrio e traz a mensagem: "Não assista ao novo especial de Natal do Porta dos Fundos. E vamos juntos pelo direito de liberar a proibição da liberação da liberdade de expressão e ir contra a censura de dizer o que podemos ou não assistir".

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