A gigante chinesa do comércio eletrônico Alibaba, do bilionário Jack Ma, anunciou a compra do jornal South China Morning Post. Editado em inglês em Hong Kong, o jornal goza de boa influência, sendo reconhecido como um dos veículos mais independentes na cobertura da China. O valor estimado do negócio foi de US$ 100 milhões.
Em comunicado, Joseph C. Tsai, VP executivo do Alibaba, disse que a meta é criar uma plataforma global de notícias sobre a China, melhorando a imagem que o país tem no mundo ocidental. A primeira importante medida tomada pelo novo proprietário será a derrubada do paywall que impede o crescimento aos acessos à versão online do jornal, sobretudo em território internacional.
Ele também procurou ressaltar a independência editorial do jornal: "ao relatar a notícia, o SCMP será objetivo, preciso e justo". Desde que começaram os rumores da compra, há algumas semanas, vem sendo apontadas preocupações em torno da liberdade do jornal. Isso porque os veículos de Hong Kong ainda têm liberdade editorial, diferente do que acontece com os veículos da China Continental, que sofrem censura de Pequim. A preocupação é que, ao ser de propriedade de uma empresa da China Continental, o jornal não consiga se manter independente. A resposta do principal executivo do grupo foi "o que é bom para a China, é bom para o Alibaba", o que não ajudou a amenizar as preocupações dos grupos defensores da liberdade de imprensa.
Histórico
O SCMP já ganhou diversos prêmios por sua cobertura de escândalos políticos e os direitos humanos na China, temas que são proibidos para a mídia do continente. Se destacou na cobertura da repressão na Praça da Paz Celestial em 1989, bem como durante os protestos de rua pró-democracia do ano passado em Hong Kong.
Com 112 anos de existência, o jornal, que já foi de propriedade de Rupert Murdoch, foi considerado o mais rentável do mundo em receita por leitor, mas viu seu lucro cair nos últimos anos. Em 1997, o lucro líquido do jornal foi de US$ 200 milhões, valor que caiu para US$ 17,7 milhões em 2014. O ganho de leitores em sua plataforma online é superado pela queda de leitores da versão impressa, o que justifica o fim da cobrança pela publicação online, sobretudo quando o seu acionista tem como meta principal usar o veículo como instrumento de propagando da cultura chinesa no mundo ocidental.
Além do jornal, o Alibaba leva com o SCMP Group outros ativos de mídia da empresa, incluindo revistas, mídia exterior e digital. A empresa também tem uma participação no jornal Bangkok Post e, em outubro, comprou uma participação majoritária no site de moda MyDress.com.
As ações do jornal deixaram de ser negociadas na bolsa de Hong Kong em fevereiro de 2013, quando o número de ações negociadas livremente pelo público caiu abaixo do requisito mínimo exigido.
Precedente
Jack Ma não é o primeiro bilionário da economia online a investir em veículos de mídia. Jeff Bezos, fundador da Amazon, comprou, em 2013, o The Washington Post. À época, Bezzos admitiu não entender nada do mundo da mídia e das notícias. No entanto, ao justificar seu investimento de US$ 250 milhões, disse acreditar que encontraria uma saída rentável para o jornal aliando seu conhecimento da Internet, o conhecimento da equipe do jornal e a segurança financeira que podia proporcionar.