Idealizadora do festival de animação Lanterna Mágica aposta em ocupar espaços e democratizar acesso ao cinema

Camila Nunes, idealizadora e diretora do Lanterna Mágica (Foto: Mayara Varalho)

O Lanterna Mágica – Festival Internacional de Animação realiza sua 6ª edição em 2024 de casa nova: entre os dias 19 e 24 de março, o CineX, cinema localizado no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON), recebe animações do mundo inteiro. A programação é totalmente gratuita e pode ser conferida no site oficial do festival

Desta vez, o evento aporta em uma sala comercial. "Nossa ideia é ocupar esses espaços, garantindo o acesso de pessoas de todas as classes sociais ao cinema. O CineX possui salas de cinema consideradas atualmente como VIPs. Quantas pessoas podem pagar para assistir filmes nessas salas? Geralmente os mais ricos, e a classe média alta. Garantir para pessoas de todas as classes sociais o consumo gratuito de cultura é a nossa meta. Por isso, é importante reforçar que a nossa programação é gratuita e a gente leva um público de todos os lugares da cidade, incluindo as regiões periféricas e escolas públicas. Muitas das primeiras experiências das crianças que frequentam a Sessão Escola é em uma sessão do Lanterna Mágica. Isso, pra mim, é uma das sensações de maior orgulho", revelou Camila Nunes, idealizadora e diretora do Lanterna Mágica, em entrevista para TELA VIVA. 

Conforme a diretora reforçou, toda a programação do festival é gratuita, incluindo as sessões de cinema: "Queremos com essa ação incluir o maior número de pessoas nas exibições. Nosso maior objetivo é levar o cinema para todos. Somos um festival inclusivo e nossa proposta é universalizar esse acesso. Pensamos nisso como uma contrapartida social. O projeto é executado principalmente através de política pública cultural, e garantir o consumo de cultura através desse meio é o que mais nos importa". 

Mostras competitivas e não-competitivas, com curtas e longas 

Serão nove mostras, entre competitivas e não-competitivas, ao longo de seis dias, exibindo curtas e longas-metragens de diversos cantos do Brasil e do mundo. A abertura do evento será na terça-feira, dia 19 de março, às 20h, com exibição do longa "Bizarros Peixes das Fossas Abissais" (2024), de Marcelo Fabri "Marão", que tem elenco de voz composto por nomes como Natália Lage, Guilherme Briggs e Rodrigo Santoro. A sessão será seguida de um debate com o diretor e roteirista, mais conhecido como Marão.

Integram a mostra competitiva nacional filmes produzidos nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Entre os selecionados para a competitiva nacional, estão títulos como "A cabeça e o corpo", de Val Dobler e Mirian Miranda (SC); "Bug", de Andrey Oliver, Enzo Bonini, Julia Marques, Marina Lobo e Pedro Mancini (SP); "Carcinização", de Denis Souza (RS); "Ciranda Feiticeira", de Lula Gonzaga e Tiago Delácio (PE); "Curacanga" de Mateus di Mambro (BA); e "Diafragma", de Robson Cavalcante (AL); entre outros. Já a mostra competitiva internacional apresenta produções do México, Ucrânia, Finlândia, Holanda, Espanha, Estados Unidos, Noruega, Hungria, França, Alemanha e Portugal.

Há, ainda, uma mostra exclusivamente voltada para o panorama da animação produzida em Goiás, além da Mostra de Animação Africana em parceria com o Festival Animage, de Pernambuco, e a Mostra Gondwana, que reúne filmes dos outros países de África e Américas, com foco na animação feita por pessoas racializadas nesses países, incluindo os povos originários.

"O surgimento do Lanterna se deu, a princípio, pelo interesse de assistir a bons filmes independentes de animação que eram produzidos no Brasil e no mundo, pois a nossa referência e acesso à exibição eram das grandes produtoras, como Disney, Pixar e Studio Ghibli", relembrou Nunes. "Lógico que a importância e referência desses studios são inquestionáveis, mas não são os únicos tipos de animação existentes. E, principalmente, eles não contam as nossas próprias histórias. Por isso a importância de assistir e trazer filmes de diversos estados brasileiros e também do mundo. Dessa forma a gente conhece cada cultura existente através da animação", completou. 

Três eixos de programação: exibição, mercado e formação

A programação da 6ª edição é baseada em três eixos: o da exibição, que inclui as mostras competitivas e não competitivas; o segundo, de mercado, contemplado pelo Lanterna Film Market, que contém estudos de caso, palestras e debates, além de promover o encontro entre produtoras, distribuidoras e animadores; e o terceiro é centrado no Lanterna Educa, que compreende as exibições voltadas para as escolas públicas, além das atividades de formação, como as oficinas e debates, que são voltados para o público em geral.

"Um dos maiores atrativos dos festivais de cinema é a possibilidade do encontro e das trocas. O Lanterna Mágica é um evento de experimentação. Sendo presencial, ele provoca estímulos em todo o público presente", analisou a idealizadora. E, falando especificamente do ambiente de mercado do festival, ela pontuou: "É importante frisar que, desde a pandemia, grande parte do público se vê carente de encontros. Garantir essas mesas e painéis não é somente uma questão de formação, mas também abrir a possibilidade do debate. Acreditamos muito que o engrandecimento da área audiovisual faz parte do debate coletivo, onde podemos encontrar as melhores maneiras de resolver nossas questões. Trazer cases de sucesso de grandes produtoras de animação para fora do eixo Rio-São Paulo é ainda mais enriquecedor quando saem daqui também produções que estão alcançando o mundo". 

Nunes explicou que a programação busca abarcar vários aspectos da produção de animação – como os estudos de caso do processo criativo da Mr. Plot com a animação "Mundo Bita" e da representatividade na série "Bia Desenha". A agenda proporciona ainda questionamentos e novidades sobre a inteligência artificial na animação e cases de sucesso de compositores musicais. 

Momento promissor para a animação goiana 

"Essas possibilidades de networking fortalecem o mercado e comprovam mais uma vez que talvez nós estejamos em um dos momentos mais favoráveis para Goiás", observou. "Daqui saiu no ano passado o primeiro longa-metragem de animação goiana, 'A Ilha dos Ilús', da Mandra Filmes; Daqui também saiu o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro na categoria Melhor Animação, para o filme 'A Menina Atrás do Espelho', da Caolha Animation. E atualmente o Lanterna Mágica é o único festival de animação na região CONNE (Centro-Oeste, Norte e Nordeste) que contém os eixos de Exibição, Mercado e Formação", destacou. 

Lanterna Educa 

Essencialmente, o Lanterna Mágica sempre teve ações de formação, como oficinas de animação gratuitas para a população e exibições dos filmes com debate em diferentes turmas de ensino, do infantil ao EJA, até lares de idosos. "Essas atividades nos possibilitaram chegar em um público vasto e também a patrocinadores interessados em exibir sessões e atividades de formação além do período do festival. Isto porque o eixo de cinema e educação no festival traz muito resultado positivo a curto, médio e longo prazo", afirmou Nunes. Nesta 6ª edição, a idealizadora decidiu denominar todas as ações de formação que o festival já fazia há algum tempo. "O Lanterna Educa surgiu com o intuito de manter e expandir as ações de formação ao longo do ano", explicou. 

Na programação do eixo, estão oficinas de animação abertas ao público; o Laboratório Hospital de Projetos Animados, voltado a produtores e animadores que desejam passar por uma imersão especializada de melhora no desenvolvimento dos projetos; e a Sessão Infantil, com exibições de filmes para crianças da rede pública de ensino durante a semana. "A novidade deste ano é a Oficina de Animação para os professores, pois desde a pandemia a classe teve de se reinventar com as tecnologias e técnicas nas salas de aula. Portanto, o objetivo é formá-los como multiplicadores com o intuito de estender este braço do festival e, consequentemente, da classe animadora no país", concluiu. 

"As expectativas para este ano são altas. Primeiro porque o festival mudou de casa e está indo para uma sala VIP, de um cinema comercial. E para mim, enquanto diretora mulher negra, poder executar o festival nesse cinema de forma completamente gratuita para toda a população democratiza o acesso e a ocupação desses espaços. Segundo, a criação e nominação dos três eixos principais do festival, e trazer convidados nacionais e internacionais para estar presente durante a programação é muito enriquecedor. Por fim, a parceria com a Mostra África do Festival Animage de Pernambuco e a criação da Mostra Gondwana rompe as fronteiras e nos coloca em contato direto com as nossas raízes e produtores da diáspora", finalizou a idealizadora do Lanterna Mágica. 

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