"Meu filme é um hino de amor à vida", diz Barbara Paz sobre o longa "Babenco"

Em novembro do ano passado, a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais anunciou o longa que representou o Brasil na disputa por uma vaga na categoria Melhor Filme Internacional no Oscar 2021: o documentário "Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou", de Bárbara Paz. O filme foi selecionado pelo Comitê de Seleção, composto por profissionais do audiovisual indicados pela Academia. A entidade independente que representa os profissionais da indústria este ano foi reconhecida oficialmente pela Academy of Motion Picture, Arts and Sciences (AMPAS) como única responsável pela seleção. O documentário é uma produção HB Filmes e produzido por Bárbara Paz. A coprodução é da Gullane (pelos irmãos Caio Gullane e Fabiano Gullane), Ava Filmes, Lusco Fusco, Globo Filmes, GloboNews e Canal Brasil. No Brasil, a distribuição é da Imovision.

"Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou" traça um paralelo entre a arte e a doença do diretor Hector Babenco. O filme revela medos e ansiedades, mas também memórias, reflexões e fabulações, num confronto entre vigor intelectual e a fragilidade física que marcou sua vida. "Sempre quis dirigir um filme, um longa-metragem. Sou apaixonada pelo ser humano, pelo contador de história que todo ser é. Isso me ajudou a encontrar o meu caminho de documentarista. Acho que já estava nos meus planos fazia tempo. Estava estudando durante esse trajeto até aqui, ganhando força e bagagem para fazer o primeiro", conta Barbara Paz em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "O maior desafio foi ele ter partido no meio do caminho. Escolher o que ficou não foi tarefa fácil. Como diria o Hector, 'temos que ter um poder de síntese'. Não conseguiria contar tudo. Tinha que escolher um retrato, e escolhi o meu, de amor", completa a diretora, que afirma ainda que o estilo de direção de Babenco não a influenciou nem um pouco nas escolhas estéticas do longa: "Segui o meu olhar. A minha visão de contar uma história. Ali tem o meu estilo próprio fotográfico e lírico. Acho que meu filme tem outra atmosfera sonora, visual e estética". 

O documentário já foi selecionado para mais de 20 festivais internacionais e estreou mundialmente no Festival de Veneza de 2019, recebendo o prêmio de Melhor Documentário na Mostra Venice Classics e o prêmio Bisato D'Oro 2019 (Prêmio Paralelo ao 76º Festival Internacional de Cinema de Veneza dado pela crítica Independente). No início do ano, conquistou o prêmio de Melhor Documentário no Festival internacional de Cinema de Mumbai, na Índia. O filme também já foi selecionado para o festival do Cairo, Festival de Havana, Festival de Mar del Plata, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Festival do Rio, Mostra de Tiradentes, Festival de Aruanda, FIDBA (Festival Internacional de Cinema Documental), na Argentina,Baltic Sea Docs, na Letônia e para o Mill Valley Film Festival, nos Estados Unidos.

Estreia em meio à pandemia

O filme chegou a estrear nos cinemas em novembro passado e, atualmente, encontra-se disponível nas plataformas digitais Net Now, Looke, Google Play Store, Apple Store, Vivo Play e Oi Play. Também está programada uma exibição do longa pela GloboNews no dia 28 de março, às 23h. "Claro que eu fiz o filme para uma tela grande, na sala escura, para assistir em silêncio. Trabalhei muito o som e a imagem para a tela grande. Mas, infelizmente, estamos vivendo um momento de suspensão na humanidade. E o audiovisual tem acolhido as pessoas em casa, então dou graças a Deus que existe essa possibilidade do streaming", comenta Paz. 

Além da questão prática do lançamento nos cinemas ou no ambiente digital, o filme também chega ao público em um momento no qual o tema "saúde" está em alta devido ao contexto da pandemia. Nesse sentido, a diretora reflete: "É muito louco pensar que estamos vivendo esse momento tão triste na história da humanidade. Meu filme é um hino de amor à vida, da sobrevivência através da arte, do amor pela arte, do amor pela vida. Estar no aqui e agora. É um filme que deve ser visto hoje". 

"Esse era um filme missão"

Barbara Paz define "Babenco" como um filme missão: "Ou fazia ou morria", declara. "Eu fiz esse filme com metade do orçamento de recursos próprios. A outra metade com meus coprodutores, como Globo Filmes, Canal Brasil e Itaú Cultural, e de órgãos públicos, como a Spcine e o Fundo Setorial. Foi tudo com muita dificuldade. Esse filme é um pedaço de mim. O cinema nacional vai sobreviver a esse governo. Eles passarão, nós passarinho", diz, citando o poema de Mario Quintana. 

Paz também fala sobre o fato de muitos dos filmes nacionais qualificados para o Oscar terem direção de mulheres – como o seu, claro, no qual ela assina a direção mas também integra as equipes de roteiro, direção de fotografia, produção e montagem: "Eu acho essa mudança maravilhosa e necessária. Chegou a nossa vez de poder mostrar nosso talento, nossa voz, de termos nosso espaço no mundo e sermos protagonistas da nossa própria história". 

Próximos planos 

Filmar "Babenco" despertou Paz ainda mais para a direção de longa-metragens – atualmente, ela tem projetos de ficção e outros documentais. "Não vou parar de dirigir. Esse foi só o começo de uma longa história", garante. 

Na pandemia, a diretora não parou de trabalhar: dirigiu um curta-metragem chamado "ATO", estrelado pela Alessandra Maestrini; algumas vídeo-arte; e um show do Lirinha na Casa de Francisca, projeto de Laís Bodanzky. "Não parei de escrever e inventar novas possibilidades", afirma Paz, que neste ano ainda voltará a trabalhar como atriz – ela estará no novo longa da Julia Rezende, com produção de Mariza Leão – e também pretende retornar ao teatro. 

Ao longo do mês de março, TELA VIVA celebra o Dia Internacional da Mulher e presta uma homenagem às mulheres de destaque no cenário audiovisual nacional. Acompanhe as próximas entrevistas.

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