Diretor do Cine Ceará, Wolney Oliveira estreia seu quinto documentário no Festival de Gramado

O montador Tiago Therrien, o diretor Wolney Oliveira e a pesquisadora Mayara Magalhães (Foto: Matheus Zanchet/ Agência Pressphoto)

O documentário "Memórias da Chuva", com direção de Wolney Oliveira, foi exibido na noite da última segunda-feira, dia 14 de agosto, no Festival de Cinema de Gramado, como parte da mostra competitiva de longas-metragens documentais do evento. O filme fala sobre a população de Jaguaribara, cidade do interior cearense, distante 162 quilômetros de Fortaleza, que foi obrigada a abandonar sua cidade para dar lugar à construção do Castanhão, açude que forneceria água para Fortaleza. A mudança trouxe mais perdas do que ganhos e, da velha cidade, só restaram as lembranças. 

"Sempre me interessei por contar histórias não contadas, apesar de que, no caso do 'Memórias da Chuva', era uma história que muita gente já conhecia pelo absurdo que foi – saiu na mídia e alguns curtas a respeito foram produzidos, por exemplo. Eles optaram por destruir uma cidade quando existia uma outra possibilidade que a pouparia. Em 2000, pouco antes da cidade ser demolida, minha ex-companheira (Margarita Hernández), que divide o roteiro comigo, tinha ido até lá filmar. Em 2017, Fortaleza já estava entrando em colapso, e o Castanhão tinha apenas 5% de água. Então decidi fazer o filme e bancá-lo, pois me considero um investidor de cinema no sentido de investir em boas histórias. Mais pra frente, ganhamos um edital da Lei Aldir Blanc – que no caso do Ceará, era um edital bem legal, que ajudou a financiar a produção de 17 longas, o meu entre eles", contou o diretor em coletiva de imprensa realizada nesta terça, 15, em Gramado. Ainda sobre o orçamento, ele afirmou ter sido de R$ 800 mil. 

Oliveira, que é diretor do Festival Cine Ceará, que realiza mais uma edição entre os meses de novembro e dezembro deste ano, ainda analisou: "Para mim, um cinema que não te faz rir, chorar, se arrepiar ou se incomodar, não é cinema. Isso foi uma das coisas que mais me atraiu nessa história, o fato de ela ser tão incômoda. E sempre gosto de devolver o que estou pedindo emprestado de um tema, por isso estamos preparando uma exibição desse filme em praça pública, além do Cine Ceará, e estou curioso para ver a reação do público quando exibirmos lá". 

E falando sobre a população local, a pesquisadora do documentário, Mayara Magalhães, afirmou que o projeto foi um trabalho coletivo, porque os próprios jaguaribarenses constituíram e montaram um acervo riquíssimo, que gentilmente cederam para a realização do filme. "Quando a gente fez as duas primeiras viagens, em 2017 e 2018, preparei esse material. Como é um fenômeno relativamente recente, era tudo acessível. Consultei trabalhos acadêmicos e matérias jornalísticas da época, entre outras coisas que os moradores mostraram. Quando veio o financiamento da lei, conseguimos avançar", lembrou. 

O diretor de fotografia Rogerio Resende acrescentou: "Cinema documentário é a oportunidade de garimpar e contar histórias. Mas a fotografia num filme como esse é uma coisa muito complexa – você não consegue traçar uma estratégia ou um pano estético. As coisas vão acontecendo, a história vai se criando. Minha missão foi colocar na tela a emoção que eu sentia filmando e mostrar a grandeza das pessoas que apareciam ali". 

Por fim, Oliveira disse que, como Eduardo Coutinho, que tem como uma grande referência, gosta de "interferir e provocar" com os seus filmes. Nesse sentido, ele aproveitou para anunciar seu sexto longa-metragem: "Lampião, Governador do Sertão", que já está finalizado. 

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