Decisão sobre padrão sairá apenas no ano que vem

O governo irá adiar por mais alguns meses a decisão sobre o padrão digital para as rádios brasileiras. Há meses o padrão norte-americano Iboc tem sido apresentado pelas emissoras associadas da Abert como o único capaz de atender as necessidades das empresas nacionais, tendo o apoio do Ministério das Comunicações. Mas as dúvidas sobre a eficiência técnica do sistema, que já povoavam os corredores da Anatel, chegaram em instâncias superiores. A cautela agora é da Casa Civil, que estima ser possível definir a questão apenas no primeiro trimestre de 2008, na melhor das hipóteses.
?Esse tema da rádio digital tem nos assustado na Casa Civil, em vista do que estamos ouvindo sobre o padrão?, confessou o assessor especial André Barbosa. ?O Iboc tem problemas. Técnicos canadenses nos contaram que à noite há grandes interferências entre as transmissões digitais e analógicas, por exemplo. Existe ainda a questão do alcance. Uma rádio que tem alcance 110 km, no sistema digital cobrirá 70 km. Imagine para uma rádio comercial perder 40 km de cobertura?, afirmou após debate no Senado Federal sobre os desafios para a criação de uma Lei de Comunicação Eletrônica de Massa.
Os primeiros alertas sobre os problemas com o Iboc partiram da Anatel. O superintendente de Serviços de Comunicação de Massa, Ara Apkar Minassian, reclamou publicamente da falta de informações objetivas nos resultados dos testes encaminhados pelas empresas à agência. Os dados incompletos atingem exatamente os pontos levantados por Barbosa: cobertura e nível de interferência.

Comitiva

Para tentar separar as críticas consistentes dos boatos, Casa Civil e Ministério das Comunicações decidiram mandar uma missão aos Estados Unidos para analisar a aplicação prática do Iboc. A comitiva deve fazer um breve tour em emissoras de Washington que adotaram o sistema, conversar com a Federal Communications Commission (FCC) e avaliar os estudos tocados no âmbito acadêmico, provavelmente visitando a universidade de Georgetown. ?Nós sabemos de antemão que, das 13 mil rádios norte-americanas, menos de 1 mil se digitalizaram. Vamos lá pra saber por que isso aconteceu?, explicou Barbosa.
A data da viagem ainda não foi agendada e a Casa Civil espera que o Ministério das Comunicações organize a comitiva. Mas, antes dela, é praticamente nula a possibilidade de uma definição sobre o padrão. ?Não acredito que essa decisão seja em 20, 30 dias já que ainda nem marcamos a viagem. Estamos preocupados em não tomar uma decisão de afogadilho?, ponderou o assessor.

Alternativas

Um outro aspecto para a insegurança em decidir sobre o padrão é a perspectiva nutrida pela Casa Civil de encontrar alternativas ao Iboc. O Comitê Comercial do Consórcio DRM (Europeu) chegou a prometer ao governo brasileiro o desenvolvimento de uma solução que permitisse o uso do padrão europeu em multicasting. Mas a promessa, até hoje, não foi cumprida. ?Michel Penneroux, manda pra gente! Nós queremos uma alternativa?, reclamou André Barbosa, referindo-se ao presidente do comitê.
Mas Barbosa defende um outro plano para construir uma alternativa ao Iboc. O assessor especial apóia levar o debate ao ambiente universitário, que se dedicou anteriormente à pesquisa da TV digital. ?A única maneira de resolver é colocar a inteligência brasileira nisso?, resumiu. Ele aposta que, com a expertise gerada com as pesquisas para TV, a academia precisaria de uns seis meses para apresentar uma solução híbrida ao Iboc corrigindo os problemas do sistema.

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