Thriller "Uma Família Feliz", novo longa de José Eduardo Belmonte, investiga o que há por trás das aparências

Grazi Massafera, José Eduardo Belmonte e Raphael Montes (Foto: Cleiton Thiele/ Agência Pressphoto)

Após ser rodado em Curitiba, o longa "Uma Família Feliz", dirigido por José Eduardo Belmonte, volta à região Sul do país como um dos seis filmes selecionados para a mostra competitiva de longas-metragens do 51º Festival de Cinema de Gramado. A sessão foi realizada na noite da última quarta-feira, dia 16 de agosto. O autor Raphael Montes (de "Bom Dia, Verônica") assina o roteiro original do longa e também faz sua estreia como diretor-assistente. Os produtores são René Sampaio e Juliana Funaro, da Barry Company. O filme é coproduzido pela Globo Filmes e pelo Telecine, com distribuição da Pandora Filmes. 

Na trama, Grazi Massafera é Eva, uma mulher acusada pela sociedade de ser a principal suspeita dos estranhos acontecimentos que envolvem suas duas filhas gêmeas e seu filho recém-nascido. Para provar sua inocência e ter seu marido, Vicente (Reynaldo Gianecchini), assim como sua "família feliz" de volta, ela começa a investigar a situação. 

Em debate realizado nesta quinta, 17, o diretor José Eduardo Belmonte contou que o projeto teve início em 2015, quando o autor Raphael Montes apresentou a ele a ideia do filme. "Na época, eu estava com muita vontade de falar sobre como tínhamos virado uma 'nação de linchadores'. Mais ou menos no mesmo período, a Barry me procurou para saber se eu estava com algum projeto. A partir daí, nos juntamos. Eles foram desenvolvendo o projeto em laboratórios de roteiros, correndo atrás da captação e levantando o filme mesmo", explicou. Para Belmonte, o longa trata de várias temáticas diferentes, mas um dos grandes temas é o pacto narcísico abordado, por exemplo, no livro "Mal-Estar da Maternidade", de Vera Iaconelli. Em paralelo, o autor também queria abordar a depressão pós-parto e a psicopatia. "Foi a partir de todos esses temas que eu e o Raphael convergimos para chegar ao roteiro final – que também tem muita colaboração do elenco e pessoas que foram agregadas ao projeto. O resultado é uma simbiose entre o universo dos textos do Raphael e a minha direção", observou. 

"Uma Família Feliz" ficou parado por quatro anos e retomou graças a grandes esforços da produtora. Ainda assim, foi um processo desafiador, que envolveu rodar um filme com o orçamento de 2017 em 2022. A escolha de Curitiba como locação se deu porque, segundo o diretor, tinha a ver com a temática, e também por assuntos mais práticos, como a logística de produção, a luz, o elenco de apoio e a facilidade de deslocamento. 

Belmonte ainda analisou que, em comum, seus filmes trazem personagens tentando sair dos seus isolamentos para se conectar com a realidade. E afirmou que, como cineasta, é curioso e está sempre em busca de se expandir e conhecer novos universos, "também tentando sair desse isolamento". 

Já Montes falou que, apesar da literatura ser um lugar de trabalho mais solitário, onde a figura do autor é muito forte, ele gosta de conversar, trocar e criar coletivamente. "Esse passo para o mundo do cinema é um pouco por essa vontade de colaborar e criar junto. O desafio era fazer algo que fosse a nossa cara, pois eu e o Belmonte somos muito diferentes. Sou um autor de literatura de gênero, policial, suspense e temas de violência – e acredito que a chave do gênero seja discutir alguns assuntos por meio de um suposto entretenimento. Um desses assuntos que mais me interessa é o jogo de aparências: quem você mostra que é versus quem você realmente é. Nesse sentido, o filme traz esses atores lindos, de aparência à primeira vista perfeita. Mas o que está por trás?", pontuou. "O filme de gênero pega pela emoção. Algumas cenas podem até soar inverossímeis, mas você embarca por conta dessa jornada de emoção", completou. 

Juliana Funaro, que também assina a produção executiva do filme, ressaltou essa questão da coletividade: "A Barry vem fazendo muitos projetos, e esse teve em especial essa característica forte do trabalho colaborativo, que imprime muito no resultado. Fazemos muitas coproduções, inclusive internacionais, e o processo é sempre de muita escuta e troca – mas nem sempre é fácil executar isso de forma tranquila. E todas as pessoas envolvidas nesse projeto encararam isso como uma meta. Só seria possível dessa forma". 

Por fim, Grazi Massafera, que vive a protagonista Eva, comentou como o fato de ser uma atriz que trabalhou muito com televisão fez ela se acostumar a tentar se defender para ganhar a empatia do público. "Mas aqui, o caminho era sentir muito, e não dizer nada. A personagem foi feita em grupo a todo momento. É o olhar do outro personagem que constrói ela", afirmou. A atriz ainda acrescentou que, anteriormente, já trabalhou muito por vaidade, estética e dinheiro, mas que hoje tem no ofício um lugar de desejo, prazer e contribuição social. 

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