Porta dos Fundos consolida relação com as marcas, investe em talentos e prepara expansão internacional

Em 2022, o Porta dos Fundos completa dez anos. O grupo dos sócios Antonio Tabet, Fábio Porchat, Gregório Duvivier, Ian SBF e João Vicente de Castro, que começou com esquetes de humor para a internet, cresceu em estrutura, volume de projetos e receita, ampliou o escopo de trabalho, investiu em expansão nacional e lançou novos talentos, entre outros marcos no cenário audiovisual. Somente em março, o Porta dos Fundos estreou cinco conteúdos: a série "As Seguidoras", no Paramount+; o programa "Desafio Por Um Dia", no Canal Futura; a série "Harina", do Backdoor, divisão mexicana; a nova temporada de "Greg News com Gregorio Duvivier", na HBO; e novos episódios de "Que História é Essa, Porchat?", no GNT. 

O que chama a atenção ao olhar para a recente lista de estreias é a presença multiplataforma do grupo – afinal, foram lançamentos para TV, streaming e internet. Ao mesmo tempo em que eles mantêm projetos de podcast, teatro e conteúdos para as redes sociais, como o TikTok. "É exatamente essa nossa estratégia. Temos como linha de raciocínio do fato de que a grande moeda, hoje em dia, é a atenção das pessoas. E para conquistar essa atenção, temos que estar presente no dia a dia delas. E para fazer isso não é mais como era no passado, quando eram poucas as opções. O mundo ficou mais complexo e produzir conteúdo também – o que eu, particularmente, acho muito interessante", disse Christian Rôças (Crocas), CEO do Porta dos Fundos, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

"Hoje temos que pensar quais são as possibilidades de hábitos de consumo de conteúdo, em quais janelas as pessoas estão e como a gente se faz presente nessa jornada diária. Nossa comunidade, ainda bem, é formada por um monte de gente diferente. Então respeitando essas diferenças de hábito e consumo, determinamos, como estratégia, estar presente em todos os lugares. Produzindo formatos curtos, médios e longos; para telas pequenas e grandes; na horizontal e na vertical", explica Crocas. "Dizemos que o Porta é multicanal, porque estamos em todas as janelas, e multi formato, porque temos reality, programa de entrevista, de auditório, filmes, esquetes e muito mais. Queremos estar em todos os lugares, com conteúdos de alta qualidade e respeitando o tempo da pessoa. E queremos ser lembrados. Por exemplo: se a pessoa consome TikTok e nós não estamos lá, já perdemos uma oportunidade de sermos lembrados pelos usuários dessa plataforma. Mas se estamos lá e a pessoa eventualmente ficou com vontade de consumir mais conteúdo nosso, naturalmente pode nos encontrar em outras janelas, com outros formatos. O próximo passo é nos tornarmos multi solução", adianta o CEO. 

Porta dos Fundos produz esquete em parceria com o WhatsApp

Parceria com o mercado publicitário 

O Porta, anteriormente, tinha as esquetes e o branded content como negócio. Agora, são mais soluções para os parceiros de marca. Existe o Porta dos Outros, por exemplo, uma solução na qual o Porta oferece sua expertise para marcas que querem criar conteúdo, e os podcasts do grupo. "Começamos a ofertar outras soluções de negócio que permitem o Porta de diversificar em termos de receita", conta Crocas. 

Para ele, a relação com as marcas está cada vez melhor – um marco nesse sentido foi o Prêmio Caboré de Veículo de Comunicação / Produtor de Conteúdo conquistado no último ano. "Foi um prêmio inédito, que é muito específico desse mercado. Mostra que as marcas vêm reparando na nossa maturidade. Temos um humor irreverente que atrai a atenção de um público de quase 37 milhões de pessoas mensalmente no digital. É muita gente, e que gosta justamente desse jeito que falamos e nos comunicamos. As marcas também estão amadurecendo nesse sentido, de respeitar nosso tom de voz e nosso humor. É claro que não vamos desrespeitar manuais e do's e dont's da marca em uma campanha. Afinal, são parceiros nossos. Então o momento é de consolidação desse trabalho mesmo. É um caminho que vem melhorando. Todos estão amadurecendo – nós, as marcas, as agências. Estamos entendendo melhor essa conexão", analisa. 

Crocas garante que a audiência do Porta não se incomoda com presença de marca nos conteúdos, mas não gosta quando ela tenta mudar o estilo do grupo. "A audiência nota se isso acontece. À medida que a marca respeita e deixa acontecer, o que cada vez mais vem acontecendo, é melhor para eles no resultado. Agora, se é para manter o tom de voz da própria marca, a gente também pode ajudar, com o Porta dos Outros. Aí não é pro nosso canal – produzimos para o canal da marca, as redes, as janelas. Nos nossos, tem o tom de voz que precisa ser respeitado. Senão, não dá certo", pontua. 

Série "As Seguidoras", do Paramount+, é produzida pelo Porta dos Fundos

Consolidação como produtora audiovisual 

O Porta tem ampliado a produção de conteúdos que não necessariamente trazem seu elenco à frente. "Nossa intenção é ampliar nosso território de marca não apenas com os projetos dos nossos sócios criativos – que continuam, claro. Eles têm seus projetos, mas a gente, como empresa, temos vontade de seguir no caminho de apostar em novos talentos, apresentar gente ao mercado. Temos esse lugar especial de lançar talento. É um caminho amplificarmos nosso território na parte de estúdio – uma unidade de negócio nossa que vem crescendo nos últimos dois anos", afirma o CEO. 

Nesse sentido, também faz parte da estratégia expandir os conteúdos para outros gêneros que não sejam só o humor: "Imagine que somos um guarda-chuva: tem o Porta como empresa de entretenimento e tem o Porta dos Fundos, uma unidade de humor. Saímos do Porta dos Fundos para virar uma empresa maior, em um universo que pode trabalhar outras coisas – com outros talentos, formatos e gêneros. Estamos em desenvolvimento de alguns filmes e séries para o Porta como estúdio. As esquetes continuam e estão sempre se reinventando. Estamos sempre 'dando um sacode' ali, é um carro-chefe. Mas é importante entender o que funciona e o que não funciona mais. Temos um público muito generoso que nos empurra para outros lugares. Hoje, onde derem espaço pra gente entrar, nós vamos". 

Feedback do público e uso de dados 

Falando sobre a relação do Porta com o seu público, Crocas garante que eles prestam muita atenção no que a audiência fala e no que os dados mostram – sem, no entanto, virar refém deles: "Editorialmente, a gente prefere respeitar o nosso próprio tom de voz. Não vamos fazer uma esquete só porque o público está querendo, por exemplo. O público merece que a gente conte uma coisa nova para ele, de surpresa. Por outro lado, vamos olhando para os nossos dados – temas que funcionam mais e as melhores combinações de atores e atrizes, por exemplo, são informações que levamos para a nossa equipe criativa. O que funciona melhor é quando mostramos na criação dados que são tão interessantes que realmente faça sentido que aquilo seja absorvido. Sem atrapalhar ou guiar para outro caminho". 

Reality "Futuro Ex-Porta" recebeu dez mil inscrições de interessados em fazer parte do grupo

Atenção especial aos talentos 

A busca por novos talentos e o investimento nos profissionais já contratados são preocupações constantes para o Porta – especialmente a questão da busca, para Crocas, é um dos grandes desafios: "Queremos sempre nos manter olhando para o palco, isto é, para quem está ali de novo – e não digo novo de idade, e sim de frescor, apresentando coisas diferentes". Ele conta que existe um Comitê Criativo só para os talentos. São vários olheiros que percebem quem está chamando a atenção nas redes sociais, no teatro, no stand up. Na parte de roteiro, o grupo também está constantemente testando novos profissionais – tanto para as esquetes quanto para o braço do estúdio, em projetos de filmes e séries. E recentemente, a empresa contratou ainda um pessoa totalmente dedicada ao investimento na carreira dos talentos já contratados pelo grupo, que tem como missão identificar as demandas de cada um, tais como fazer um curso específico ou melhorar a dicção, por exemplo. 

"Em 2022, estamos completando dez anos e eu diria que neste momento, o talento é prioridade número 1 para nós. O 'Futuro Ex-Porta' (reality show que o grupo lançou para encontrar um novo integrante) mostrou que temos um espaço muito importante de referência para as pessoas. Foram dez mil inscritos e foi muito difícil selecionar só dez. Ou seja, tem muita gente boa por aí", assume Crocas. E para além desses dois caminhos – encontrar novos talentos e investir nos internos – ele aponta uma outra prioridade, que é seguir contando com convidados especiais: "Fizemos conteúdos com a Juliette, com a Pabllo Vittar e com o Caetano Veloso. Isso vem sendo muito saudável. É um jeito de furarmos nossas bolhas de comunidade". 

"Harina" é um conteúdo do Backdoor, divisão mexicana do Porta dos Fundos

Internacionalização 

O projeto de expansão do Porta dos Fundos para os próximos anos ocupa um papel de relevância na estratégia do grupo. Atualmente, eles possuem duas divisões em outros países, com equipes próprias dos territórios: uma na Polônia, a "Backdoor – Wyj?cie awaryjne", e o Backdoor do México. "Hoje estamos totalmente preparados para investir nessa expansão. Fizemos um mecanismo de franquia mesmo, produzindo um playbook: são informações sobre como fazemos, direção, escolha de elenco, o que não fazemos, como são os cenários, enfim, todas as diretrizes estão muito organizadas. As esquetes, inclusive, foram taggeadas e traduzidas. A musculatura está pronta e, agora, o plano é começar esse trabalho. Mostrar o que está dando certo aqui e, junto da Viacom, oferecer essa representação nossa em outros países. É questão de tempo para isso acontecer – irmos em feiras, pitchings – estamos bem preparados e somos aceitos nos lugares. Já recebíamos essa demanda mas ainda não estávamos prontos. Agora, já podemos surfar nesse lugar", enfatiza o CEO. 

Para ele, o humor do Porta é universal e combina com diversos países: "Falamos de dia a dia, de cotidiano. Todas as culturas têm problemas com casal, corrupção, religião. Tudo o que falamos pode ter conexão com outras culturas. Na Polônia, por exemplo, identificamos muitas semelhanças. Eles são super católicos, de extrema-direita e até tem nomes parecidos com os nossos. É muito legal ver as esquetes que eles fazem por lá". 

Em agosto, o Porta dos Fundos completa oficialmente seus dez anos. O plano de comemoração inclui novidades editoriais e ações pontuais, que serão anunciadas a partir de abril. 

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