Documentário "Anhangabaú" propõe reflexões sobre o futuro das grandes metrópoles

O diretor Lufe Bollini (com o microfone) e a equipe do documentário "Anhangabaú" (Foto: Ticiane da Silva/ Agência Pressphoto)

"Anhangabaú", do diretor gaúcho Lufe Bollini, um documentário sobre as construções simbólicas de uma cidade, foi exibido na noite da última quinta-feira, dia 17 de agosto, no 51º Festival de Cinema de Gramado. O projeto é uma realização Elixir Entretenimento, Fogo no Olho Filmes e Kino-Cobra Filmes. Denis Feijão e Rafael Avancini assinam a produção executiva e André Luís Garcia é o roteirista. 

O documentário estabelece pontes entre os conflitos pelo território da comunidade indígena Guarani Mbya com a resistência da maior ocupação artística da América Latina, a Ocupação Ouvidor 63, e o Teatro Oficina, na cidade de São Paulo. O Teatro Oficina e a Ocupação Ouvidor 63 são movimentos que contrariam a lógica do progresso gentrificador que destrói tudo que é memória. A comunidade Guarani Mbya foi a conexão secular dessa resistência que atualmente protege o cinturão verde de São Paulo. 

Rodado entre 2014 e 2020, o filme traz várias camadas narrativas inspiradas pelo arquiteto italiano Massimo Canevacci em seu livro "A Cidade Polifônica". A partir daí, "Anhangabaú" aponta para esta questão fundamental para o futuro das grandes metrópoles: Que tipo de cidade queremos deixar para as próximas gerações? Uma cidade opressora, um assentamento de cimento, uma eterna especulação imobiliária que expulsa os pobres para as periferias? Ou uma cidade com áreas verdes, parques ecológicos, onde os centros sejam espaços de convivência popular e que preserve a história desses territórios? 

Em debate realizado nesta sexta, 18, o diretor contou que o filme começou a ser rodado em 2017, quando eles ainda não sabiam qual seria o formato ideal, mas desejavam observar os fenômenos sociais que estavam acontecendo ali na região e chegar nesse ponto, o prédio da ocupação. "Não queríamos necessariamente conversar com personagens, e sim ficar observando e acompanhando. Era importante pra gente registrar a questão artística da performance mas também o dia a dia, coisas da rotina, o lado humano, e de que forma isso podia dialogar com os problemas. Mostrar a disputa de território era o final. A gente queria fugir de entrevistas clássicas. Acabamos usando isso também como recurso, até para poder amarrar alguns conflitos, mas no Teatro Oficina isso ficou mais claro: queríamos observar performances e como elas falavam sobre as questões que queríamos abordar. E aí a questão indígena veio abarcada", explicou. 

Rafael Avancini, produtor executivo, acrescentou: "A ocupação é uma forma contemporânea de resistir, se expressar e reivindicar direitos. Até chegar nos ancestrais, os guaranis. A origem de tudo está ali, no Vale do Anhangabaú. É uma trajetória longa para entender isso". Como referências, a equipe citou dois filmes: "Cine Marrocos", de Ricardo Calil, e "Era o Hotel Cambridge", de Eliane Caffé. "São filmes que reverberam na gente para entender como fazer cinema com essa temática", pontuou o diretor. 

O produtor Denis Feijão encerrou: "Como realizadores, já somos agentes políticos. Sou movido a esse tipo de cinematografia. Eu moro em São Paulo, na região do Anhangabaú, e é muito importante trazer tudo isso à tona, dissecando esses temas que são relevantes e que muita gente não conhece, principalmente em São Paulo. Através do nosso trabalho, trazemos esse assunto poeticamente. E que tenha visibilidade. A parte mais importante é levar o filme para os lugares". 

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