Gullane encerra 2020 retomando produções e performando bem em premiações

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O ano de 2020 não foi fácil para o setor audiovisual como um todo, passando por produtoras, agências, salas de cinema, distribuidoras, talentos e os demais elos da cadeia. Mas, apesar dos percalços, a Gullane chega fortalecida nesta reta final do ano com reconhecimentos importantes para a produtora: a série "Ninguém Tá Olhando" (foto), com direção de Daniel Rezende para a Netflix, venceu o prêmio Emmy na categoria Comédia, enquanto o filme "Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou", de Bárbara Paz, do qual a Gullane é coprodutora, foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar 2021.

"A gente tem uma relação muito artística com as obras todas da Gullane – qualquer série, filme, documentário – todos são considerados uma obra de arte por nós. Tem um cuidado e um padrão de qualidade que buscamos junto dos diretores a todo custo", conta Fabiano Gullane, um dos sócios, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "Por isso, é uma satisfação ver que continuadamente, ao longo de duas décadas e meia, a gente vem sendo reconhecido por isso em premiações internacionais. Em relação ao prêmio Emmy, acredito que a originalidade, a inventividade, o padrão de realização, o roteiro e toda a qualidade técnica e artística da produção fizeram a diferença. O público especializado, esse que vota no Emmy, soube avaliar isso", completa.

O produtor aponta que o Brasil, como o grande consumidor audiovisual que é, tem quase que uma obrigação de ser protagonista também na produção de conteúdo: "A gente não pode só absorver conteúdos estrangeiros; temos que oferecer a história brasileira para ser vista. E o Brasil tem muito talento nessa área – diretores, roteiristas, técnicos, atores, artistas de todas as naturezas. Esse prêmio é um reconhecimento a toda a indústria audiovisual brasileira, que vem cada vez mais consolidando seu espaço de uma maneira muito forte aqui e no mundo afora. Ganhar o Emmy também tem esse significado, de que estamos conquistando nosso lugar no mercado internacional. A Gullane investe nele desde a nossa essência, fizemos essa construção sólida, passo a passo. Com filmes, coproduções e séries, estamos sempre buscando exportar conteúdo brasileiro. O Emmy coroa tudo isso. É um prêmio do Brasil".


Caio Gullane

Caio Gullane, por sua vez, o outro sócio da produtora, chama atenção para o fato de que o reconhecimento internacional ajuda a despertar o interesse na própria audiência também, que muitas vezes ainda não conhecia o conteúdo produzido localmente antes dele ser reconhecido lá fora. "É muito legal que o próprio brasileiro se interesse cada vez mais por assistir aos nossos conteúdos, aproveitar esse gosto cultural do nosso país. O prêmio é uma motivação grande para todo o elenco e quipe, que entende que nosso trabalho sempre tem a possibilidade de ecoar no mundo todo. Vai muito ao encontro do que a gente tem como missão na Gullane, que é trazer um conteúdo relevante, com qualidade, e que realmente dialogue e atinja o público. Esses elementos foram coroados dentro desse projeto e em tantos outros nos quais a gente se empenha", afirma.

Trabalho em 2020

"Logo no começo da pandemia, entendemos que teríamos que ter cautela e trabalhar muito para um futuro próximo. Sempre acreditamos na retomada", diz Caio Gullane. "A gente verteu a equipe para olhar para dentro; fomos planejar e, em vários casos, replanejar o que estava previsto. Conseguimos trabalhar mais dentro dos roteiros, adaptamos os projetos… O que parecia limitação trasformamos em desafio e encontramos soluções super viáveis, equilíbrio para continuar mesmo nesse momento. Levando em consideração, claro, todas as medidas protocolares, no caso das produções que já retomamos. Aprendemos muito; a realmente voltar pro planejamento, entender que podem ter outras saídas. O home office, por exemplo, veio para ficar em algumas etapas das produções. E adotamos o uso de muitos efeitos especiais em pós-produção – sempre usamos, mas a pandemia deixou claro o quanto a gente pode se valer ainda mais dessa possibilidade", discorre o produtor. "A equipe se manteve forte. Não tivemos nenhum caso grave de Covid e não demitimos ninguém", conclui.

Fabiano elogia o trabalho coletivo feito em prol da retomada do setor: "Toda essa decisão de como filmar, como voltar, foi tudo feito coletivamente. As associações, os sindicatos, todo mundo sentou, conversou e definiu o Protocolo em conjunto, para poder falar uma língua só. Participamos ativamente desse processo para que todos voltassem de maneira única, correta e segura. Foi muito legal ver a união não só da produtora, mas do audiovisual como um todo. Além disso, houve muita cumplicidade – os canais, as plataformas, todos eles foram muito parceiros de suas produções, estando lado a lado nas discussões de como lidar com os projetos na pandemia, como reorganizar calendários e orçamentos".

A Gullane voltou a filmar em novembro e garante que tudo tem sido feito com muito cuidado. Para Fabiano, o set de filmagem hoje, com todo o rigor, é um dos lugares mais seguros para estar – além da nossa própria casa, é claro. "Tem testagem, procedimentos, medição de temperatura, limpeza, higienização, distanciamento… É com muita responsabilidade que estamos filmando", declara o produtor. A empresa, no momento, está trabalhando em um projeto com a Netflix e, no início do ano, começa a filmar com a Disney. Em relação aos projetos de longas, está em produção de uma animação da "Arca de Noé" e preparando outros para filmar já no primeiro semestre de 2021.


Fabiano Gullane

"Não podemos ficar mais parados do que já ficamos. A indústria audiovisual é uma das que mais apontam para o futuro; hoje, tudo é vídeo. É um mercado muito grande, que cresceu na pandemia e vai continuar crescendo. Estamos no lugar certo e na hora certa. Por isso sou otimista. Falando de indústria – e não de cultura – acho que as pessoas que estão no Governo compreendem isso. O Brasil consumidor é enorme", ressalta Fabiano.

Reflexões acerca do futuro

Apesar da visão otimista, os produtores não deixam de assumir que o setor enfrenta graves problemas – para Fabiano, um dos principais é a urgência por definições regulatórias. "Temos que dar atenção a isso: gerir de uma forma mais saudável a regulação do universo audiovisual no Brasil. Como vai ser a regra para a TV a cabo, para as plataformas… Já que se fatura tanto no Brasil. Não tem problema faturar aqui, isso é ótimo, torço para que aconteça mesmo. Mas tem que ter uma contrapartida para o desenvolvimento do mercado brasileiro. É sobre isso que temos que falar. Regulação tem em qualquer área, qualquer indústria, é normal. Mas as pessoas falam muito desse assunto no negativo, na 'porrada', e eu acho que não é por aí. Prefiro um tom mais agregador. É mais efetivo", pontua Gullane.

Por fim, o produtor conclui: "Temos que fazer nossa política pública voltar a andar – e o mercado está fazendo a parte dele nesse sentido. O mercado só está tão maduro quanto está hoje porque teve uma política pública eficiente lá atrás; mas, sem ela, fica desequilibrado. Ela precisa se fortalecer novamente para andar lado a lado com o mercado. O objetivo tem que ser fortalecer cada vez mais nossa indústria e a nossa economia".

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