Para 2024, Floresta quer fortalecer núcleo de ficção e trabalhar em grandes coproduções

Rosangela Wicher, diretora executiva de operações da Floresta (Foto: Kelly Fuzaro)

O ano de 2023 foi de muito trabalho para a Floresta – ao longo dos últimos 12 meses, foram 18 produções ganhando as telas – entre elas, a sexta e última temporada de "Bugados", para o canal Gloob, e "Rio Connection", uma coprodução internacional entre Floresta, Estúdios Globo e Sony Pictures Television, que estreou no Globoplay em novembro. A produtora é estruturada em dois grandes núcleos: o de entretenimento, onde já vem atuando ao longo dos seus 13 anos de história de forma consistente no mercado, com projetos de reality e talk show, por exemplo, e o de ficção, no qual ela tem investido e buscado uma posição mais consolidada nos últimos três anos. "Neste ano, ganhamos tração nessa frente de ficção. Estamos produzindo para HBO, Netflix e Grupo Globo, entre outros players, e desenvolvendo muitos projetos para os próximos anos. Em desenvolvimento, temos uma equipe de seis pessoas focadas em ampliar o portfólio de compra de IPs de ficção. Adquirindo livros, por exemplo, entre outras propriedades. Terminamos o ano com sentimento de missão cumprida e uma boa perspectiva para 2024", contou Rosangela Wicher, diretora executiva de operações da Floresta, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

E falando nesses projetos para as plataformas de streaming, a executiva relatou ter sentido uma certa retração no mercado. Ela explicou: "Os players estão mais detalhistas, sabendo um pouco mais o que buscar. Houve um aprendizado das plataformas sobre o que o público brasileiro gosta, que tipo de conteúdo tem potencial para viajar. Hoje, os briefings são mais direcionados do que eram três ou quatro anos atrás, onde tudo era uma grande descoberta". Wicher afirmou que há muitos projetos em desenvolvimento, mas que acredita que, nos próximos anos, a quantidade diminua de forma geral. 

Reality show, sitcoms e TV movies 

Em relação a tendências, a diretora segue apostando em reality show. "É uma paixão do brasileiro. Mas temos algumas transformações dentro desse universo, para um reality que tenha um viés mais relacional, além do que já vem sendo feito, com fatores emocionais a mais", pontuou. Segundo ela, trata-se de uma estratégia do mercado para que o formato engaje diferentes públicos, e não apenas o jovem – que representa a maior fatia do público consumidor de reality show -, ampliando seu alcance. "Mas briefing para reality é uma constante. Ano que vem vamos produzir muitos", garantiu. 

Já na frente de ficção, o olhar tem se voltado para sitcoms. "É um formato que reúne uma quantidade maior de episódios, com um custo um pouco menor, porque ele é diluído numa grade maior. Agora, estamos com duas com o Grupo Globo, mas conversando também com outros players. É um conteúdo que o brasileiro consome bastante", destacou. E, do lado da Floresta, eles têm olhado para TV movies. "Queremos começar a produzir conteúdos de cinema para as plataformas. Esse é um pouco do nosso caminho para os próximos anos", adiantou. 

Novela: projeto pioneiro

Mas uma das grandes novidades em projetos da Floresta não é nenhum dos formatos citados acima. Trata-se de "Dona Beja", novela original que a produtora está desenvolvendo para a HBO Max (que, na altura do lançamento, provavelmente já se chamará apenas MAX). As gravações estão em andamento e seguem até o final de fevereiro ou início de março. Wicher dá detalhes do projeto: "Ele é pioneiro no mercado. Produzir esse híbrido de novela com série fora da estrutura de uma emissora de televisão é um desafio muito grande, em termos de infraestrutura e também de produtividade. Estamos falando de uma novela de época sendo rodada num período relativamente curto. Optamos por gravar no Rio de Janeiro porque o estúdio lá tinha uma condição melhor, o elenco estava mais concentrado lá. E trouxemos profissionais incríveis de figurino, cenografia, direção e elenco, este encabeçado pela Grazi, liderando essa 'Dona Beja' mais empoderada e contemporânea. Temos certeza que será um sucesso. Mas é realmente um desafio fazer tudo caber no tempo que temos, com a qualidade que queremos impor nesse produto". 

E, ainda sobre desafios, ela citou a missão de conectar essa equipe híbrida, que conta com pessoas com o mindset de novela, gente de cinema e pessoas que são mais de séries. "São mentalidades e timings muito diferentes, com qualidades em lugares diferentes, e são essas qualidades que buscamos. Mas garantir que num curto tempo esses mindsets se conectem e formem uma cultura única para aquele projeto é um dos maiores desafios", analisou. "Dona Beja" ainda não tem data de estreia confirmada, mas o produto será lançado com exclusividade no streaming da Warner Bros. Discovery com 40 capítulos. "O brasileiro se conecta muito com o formato da novela. Quando as plataformas chegam aqui e entendem que é um modelo de consumo já conhecido do público, vira um objeto de desejo delas. Se vai ser sustentável, ainda não temos como saber, porque vai depender do consumo", completou.

Investimento em conteúdo premium  

Wicher também falou sobre o interesse em coprodução: "Do nosso lado, temos sentido muita abertura para coprodução. Não sentimos tanto aquela exigência, aquela rigidez em manter o IP proprietário 100% das plataformas. Acho que agora elas estão um pouco mais abertas para co-criar modelos de negócio – tanto nacional com nacional quanto nacional com internacional. Temos visto um movimento muito grande nesse sentido, para compor o investimento de diferentes formas e, aí, produzir conteúdos mais premium". 

Neste ano, a Floresta esteve muito presente no mercado internacional. "A gente vem ganhando, na verdade, conquistando intencionalmente esse posicionamento internacional, porque de fato temos viajado. E cada vez que viajamos, nos vemos muito lado a lado das produções internacionais do grupo Sony, do qual somos parte. Eles mesmos falam que não deixamos nada a desejar", disse a diretora. "Temos a questão da língua, que ainda é uma barreira. Mas a gente vem ganhando em qualidade visual inquestionavelmente. Acabamos de lançar 'Rio Connection', por exemplo, que tem muita qualidade estética. E o Brasil está evoluindo também no quesito roteiro – mas ainda entendemos que o volume de roteiristas que o País tem, para chegar no patamar internacional, é pequeno. Precisamos investir em formação nessa frente", ressaltou. 

A executiva enfatizou que, para os próximos anos, o objetivo da Floresta é avançar em coproduções maiores. "Sentimos que, hoje, existe um volume muito grande de obras produzidas, mas de muito baixo investimento. Essas obras, naturalmente, têm menor potencial para viajar. Temos conversado sobre fazer produções maiores, com mais capacidade de levar o Brasil daqui pra fora. Buscamos investimentos maiores para ter valor artístico e de produção robusto e, assim, estar lado a lado de grandes produções internacionais. Entendemos que o momento é positivo para isso", concluiu.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui