Pródigo Filmes trabalha em projetos para streaming e cinema e vê com otimismo o futuro do setor

Produtora tradicional e prestigiada no mercado audiovisual nacional e também fora do país, a Pródigo Filmes está colhendo bons frutos de seus últimos trabalhos e tem uma lista extensa de próximos projetos. Em fevereiro deste ano, a produtora lançou "Cidade Invisível" (foto) na Netflix. A série estrelada por Marco Pigossi e Alessandra Negrini foi a primeira obra do diretor Carlos Saldanha ("A Era do Gelo", "Rio") fora do mundo da animação. A trama que traz figuras conhecidas do folclore brasileiro – como Cuca, Saci e Curupira – como pessoas reais, moradoras do Rio de Janeiro, teve boa repercussão na plataforma e já garantiu uma segunda temporada. "É uma série muito querida na qual apostamos desde o começo. Sua boa repercussão no Brasil e no exterior é algo positivo para nós, como produtores e realizadores, mas também para o mercado no geral, que sempre batalhou em conjunto para levar nosso conteúdo mundo afora. No momento, estamos começando a escrever a segunda temporada, bem no início do processo mesmo. Estamos trabalhando com toda a força e esperando para filmar assim que a pandemia deixar", revela Beto Gauss, sócio e produtor na Pródigo, em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

"Quando o Carlos Saldanha nos trouxe o projeto, ficamos muito interessados pela ousadia de trabalhar com esses personagens lúdicos da infância e revivê-los numa forma de entretenimento diferente", conta o produtor. A série chama a atenção especialmente pelos efeitos especiais, que estão presentes ao longo dos sete episódios da primeira temporada e ajudam a contar a história desses personagens folclóricos que se escondem entre pessoas normais. "Não dá para fazer uma série de realismo fantástico sem efeitos especiais, e o que nos trouxe bastante conforto nesse sentido foi o Saldanha, que já tem bastante experiência com o assunto, com o transformar uma série fantástica em algo que fizesse sentido narrativamente e visualmente falando. Os efeitos especiais fazem parte das narrativas dos nossos personagens e tentamos fazê-los da melhor maneira possível. Ficamos muito contentes com o resultado", acrescenta Gauss, que faz questão de reforçar que o trabalho foi 100% realizado no Brasil, por profissionais brasileiros. "E não deixa nada a desejar para as produções de fora – pelo contrário. Se sobressai muito bem nos efeitos", pontua. 

Próximos trabalhos com as plataformas

Falando em projetos para o streaming, a Pródigo está desenvolvendo uma série para a Amazon Prime Video, "Amar é Para os Fortes", criada por Marcelo D2 e Antonia Pellegrino baseada em um vídeo-álbum que D2 fez quando lançou o disco homônimo. A sinopse diz: "Quando um jovem policial atira contra um menino inocente, uma família precisa lidar com seu desejo de justiça e vingança. Enquanto a outra vai ter que aprender que não há amor sem verdade". Gauss completa: "É a história de duas famílias que vão se encontrando e de garotos da comunidade que vivem pela arte – a batalha deles é essa. É um projeto bem distinto de tudo o que estamos vendo e estamos muito encantados com ele". No momento, os roteiros dos episódios estão sendo escritos e a expectativa é rodar a série ainda neste ano. "Amar é Para os Fortes" é a próxima grande série original de primeira temporada da Pródigo. 

A produtora também está prestando serviços na série "Santo", uma obra da espanhola Nostromo para a Netflix. A Pródigo foi convidada para a parte de produção no Brasil, que é grande, e que conta com Vicente Amorim como um dos diretores e Bruno Gagliasso como um dos protagonistas. "Por mais que seja um serviço, a gente sempre acaba se envolvendo. Estamos empolgados com o projeto. A série será falada nos dois idiomas – português e espanhol – e mais uma vez é muito bom ver o português viajando", diz Gauss. "Santo" começará a ser rodada nos próximos dias, na Espanha, e a etapa no Brasil será mais para frente. 

Beto Gauss é sócio e produtor na Pródigo Filmes

Oportunidades no mercado de streaming 

Beto Gauss comemora o fato de que, hoje, os conteúdos audiovisuais viajam ao redor do mundo com muito mais facilidade, graças ao crescimento do mercado de streaming: "Estamos nesse mercado de conteúdo há anos e agora acabaram as barreiras, o que é uma satisfação enorme para quem produz. Trabalhamos muito nos últimos anos para conseguir exportar nosso conteúdo e isso agora está acontecendo de forma cada vez mais constante". Nesse sentido, o produtor elogia a parceria com a Netflix, que vem desde "Coisa Mais Linda", que já teve duas temporadas: "Nosso trabalho com eles é realmente de coprodução e envolve uma troca constante e verdadeira, decidimos tudo conversando". 

O produtor aponta o bom momento do streaming, com um movimento mundial de criação de novos players, tais como HBO Max, Disney+ e Paramount+, globalmente, e o Globoplay, por exemplo, se firmando como um player muito forte do mercado global e que também traz uma visão abrangente para o mercado internacional. "Se por um lado o mercado de incentivo no país está completamente despedaçado, com as produtoras trabalhando junto das entidades para tentar reverter o cenário que não é nada promissor, e que vem de uma toada muito ruim nos últimos anos, por outro é um alento que a gente tenha os streamings vindo para o Brasil e querendo investir tanto na produção independente nacional. Vejo um espaço muito grande para as séries grandes de ficção, que já fazemos, mas também para outros formatos, como filmes de ficção – a própria Netflix tem investido muito e já soma diversos sucessos nacionais – documentários, séries documentais e reality show. Outros tipos de formato também estão crescendo e isso é bom para o mercado de modo geral", reflete Gauss, que afirma ainda que, quanto mais players, melhor: "Assim a gente consegue, enquanto produtores independentes, ter melhores negociações e mais abrangência, com cada streaming se posicionando de uma maneira diferente no mercado. Acho que todo mundo tem a ganhar". 

O sócio na Pródigo Filmes vê o momento como muito promissor para a indústria. "Esse cenário, com uma retomada da indústria de incentivo, seria uma bomba atômica no bom sentido", brinca. "Isso para reviver nosso mercado e dar oportunidade e pluralidade para todo mundo fazer conteúdo. Temos um mercado criativo como poucos no mundo. Quanto mais espaço a gente tiver, melhor vai ser para indústria. O país é uma potência de consumo e, consequentemente, será cada vez mais uma potência de produção também. Somos, sem sombra de dúvida, um dos principais players do mercado internacional", completa. Gauss acrescenta ainda que há um interesse mundial das pessoas assistirem o que acontece no Brasil – o que até explicaria o sucesso de "Cidade Invisível": "Até pouco tempo atrás, o Brasil era conhecido apenas por futebol e Carnaval. Não menosprezando essas duas coisas de jeito algum, mas a gente tem muito mais história para contar. E histórias genuinamente brasileiras, que só poderiam ter sido criadas aqui". 

Retomada do cinema 

A Pródigo foi uma das primeiras produtoras brasileiras a voltar aos sets de filmagens de longas-metragens após a paralisação imposta com a chegada da pandemia de Covid-19. O filme em questão foi "Papai é Pop", comédia baseada no livro homônimo de Marcos Piangers protagonizada por Lázaro Ramos e Paolla Oliveira. Atualmente, o longa está em fase de edição e tem estreia prevista para o segundo semestre – o lançamento será feito inicialmente nos cinemas e não há planos de estreá-lo diretamente nas plataformas digitais. "Confesso que decidir pela filmagem não foi fácil. Fizemos a pré-produção em outubro do ano passado, quando as coisas pareciam estar melhorando. Tivemos muitas conversas, criamos protocolos mais rígidos do que os até então estabelecidos para o mercado e fomos realmente rigorosos. Começamos a rodar em 11 de janeiro e terminamos em 15 de fevereiro, logo antes de tudo fechar novamente. Tivemos sorte – nenhuma pessoa da equipe pegou Covid e filmamos sem maiores complicações", detalha. A produção de "Papai é Pop" é da Pródigo Films em coprodução com a Galeria Distribuidora e o Grupo Telefilms e a direção é de Caito Ortiz. A Pródigo ainda prepara mais dois filmes aqui no Brasil, mas Gauss acredita que eles não serão rodados ainda em 2021. 

Lázaro Ramos em cena do filme "Papai é Pop"

"É um achismo da minha parte, mas baseado nos números lá de fora e pelo confinamento que existe hoje, o cinema tem uma perspectiva boa para a volta. Queremos acreditar que as coisas vão melhorar e que no segundo semestre os cinemas voltarão – com todos os protocolos, claro, como já estavam tendo. Tem tudo para ser um dos primeiros lugares de entretenimento a voltar e acredito que vá dar certo", declara o produtor. 

Gauss revela ainda que a produtora também está trabalhando em dois filmes que são projetos internacionais. O primeiro deles é "Sebastopol", baseado na obra do escritor Emilio Fraia, e o outro é "Last Goodbye", que será dirigido por Caito Ortiz e encontra-se na fase de financiamento. "Estamos apostando muito no mercado de cinema aqui e lá fora", reforça. 

O audiovisual na pandemia 

"Sempre tivemos a plena consciência de que a gente era uma indústria unida, com muita troca", garante Beto Gauss. "O que aconteceu foi que, a pandemia, somada à situação que nosso mercado se encontra, nos trouxe tempo para conversarmos entre nós, pensarmos, nos unirmos e nos ajudarmos. Vimos as associações ajudando os técnicos, os canais ajudando as produtoras, todo mundo se ajudando. E isso não tem volta. O Covid nos trouxe um tempo rico para trocar, evoluir, desenvolver coproduções. Foi muito bonito ver como a nossa indústria é forte, resistente e resiliente. Estamos juntos, mais fortes do que estávamos antes, unidos por um bem comum, que é levar cultura para as pessoas e gerar empregos. É uma indústria muito importante no Brasil e em qualquer país – uma pena que o Governo atual não enxergue isso. Imagine quantas produções estaríamos lançando se a Ancine estivesse funcionando plenamente?".  

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