Space aposta na segunda temporada de "Um Dia Qualquer"

Augusto Madeira e Vinicius de Oliveira nas gravações da segunda temporada de “Um Dia Qualquer” (Foto: Divulgação)

Em março, tiveram início no Rio de Janeiro as gravações da segunda temporada de "Um Dia Qualquer", série nacional estrelada por Mariana Nunes, Augusto Madeira, Vinícius de Oliveira, Adriano Garib, João Vitor Silva, Eli Ferreira, Lara Tremouroux e Tainá Medina. Ainda sem data prevista para a estreia, a série é produzida pela Elixir Entretenimento e Com Domínio Filmes em coprodução com a Warner Bros. Discovery. A primeira temporada estreou em 2020 no canal Space e está disponível na íntegra na HBO Max. Há também um filme homônimo, que foi lançado em 2021. 

Com direção e roteiro de Pedro von Krüger e produção de Denis Feijão, o drama ficcional volta a discutir temas como desigualdade social, violência, corrupção e família a partir da história de diferentes moradores de um subúrbio carioca. A segunda temporada chega três anos após a primeira, com novas disputas de poder na comunidade, novas alianças e bandeiras sendo levantadas. Quirino (Augusto Madeira) enfrenta a traição do fiel escudeiro Maciel (Vinícius de Oliveira), enquanto Menezes (Adriano Garib) investe na expansão e implementação de caça-níqueis na região. Ao mesmo tempo, Penha (Mariana Nunes) precisa passar por cima de suas convicções para manter seu território salvaguardado dos constantes ataques da milícia. No meio dessa tensão de poderes está Jéssica (Eli Ferreira), agora engajada em uma militância contra o autoritarismo da milícia e na busca pela paz no território.

A parceria entre o canal e a Elixir começou em 2018, primeiramente para a produção do longa – que, por conta da pandemia, acabou sendo lançado depois da estreia dos episódios da primeira leva. "A audiência da série fez com que a gente tivesse a oportunidade de desenvolver em conjunto uma segunda temporada, já desde o início com a equipe criativa da Warner. A série evoluiu de uma maneira muito boa: a história de um plot que se encerrava em 24 horas foi se desenvolvendo. Estamos tratando de temas como desigualdade, violência e corrupção – ou seja, infelizmente é uma matéria-prima que nunca para. A história se torna muito real dentro do contexto que vivemos hoje na sociedade. Na segunda temporada, o protagonismo negro e feminino vem ainda mais forte. Chegam novos personagens e novas temáticas, como a violência doméstica, além da volta da questão das mães da periferia perante a esse poder paralelo", adiantou o produtor Denis Feijão em entrevista exclusiva para TELA VIVA. 

Feijão e Pedro von Krüger, diretor, criador e roteirista da história, têm uma parceria de trabalho de muitos anos. Juntos, já fizeram alguns documentários – e essa "escola" de como retratar a realidade acaba transparecendo na série. "Parte de vivências nossas e da própria cinematografia que a gente faz enquanto técnicos. Pedro também é produtor e fotógrafo, onde a gente acessa essa parte documental, esse tema, na realidade das favelas. Não só do Rio – são coisas que acontecem nas periferias do mundo inteiro. Para mim, é fundamental ter esse parceiro, traz uma segurança na realização muito grande. É o domínio e o controle do que estamos fazendo por vivermos isso há muitos anos", comentou Feijão. 

"Os temas e as locações, por exemplo, são reais. Não criamos nada em estúdio. Os bairros que aparecem na segunda temporada – Marechal Hermes, Ramos, Comunidade Roquete Pinto – são os bairros do Rio de Janeiro mesmo. São propriedades importantes, que valorizam a dramaturgia, a criação e a própria realidade do tema que estamos tratando", acrescentou. E ainda nesse sentido, ele pontuou: "Na produtora, estamos sempre atrás de projetos que contribuam poeticamente para a realidade – tanto no aspecto autoral, de realizadores, como biográfico também. Queremos causar impacto de alguma forma com o que a gente produz e entrega – isso pra mim é fundamental. É o que vale meu trabalho e os investimentos que fazemos nos projetos". 

História de luta e transformação 

Na primeira temporada, o público acompanhou o drama de Penha (Mariana Nunes) em busca de seu filho e sua relação de disputa de poder com Quirino (Augusto Madeira), um ex-policial que se autodenomina dono do bairro. "É importante ressaltar que neste momento Penha é uma mãe, mas ela já foi uma jovem que enfrentou muita coisa. Agora, vamos ver uma segunda grande transformação em sua vida. A história nos faz refletir como as mulheres que ficam em casa são as que mais sofrem nesse contexto. Elas têm muita garra, buscam sempre melhorias na qualidade de vida mesmo em meio a tanta violência", analisou Silvia Fu, head de conteúdo roteirizado da Warner Bros. Discovery, também em uma conversa exclusiva. 

"A segunda temporada traz essa afirmação do protagonismo feminino. O mundo é feminino. E a realidade social da periferia é muito mais agressiva nesse sentido. Essa capacidade de transformação faz com que essa trajetória da Penha na segunda temporada tenha uma virada muito forte", completou o produtor. 

DNA do canal 

Silvia explicou que desde a primeira vez que o canal entrou em contato com a história entendeu que tinha ali uma proximidade muito grande com o DNA do canal Space, que traz conteúdos de ação e adrenalina com uma "coisa a mais". E, para a executiva, isso se refletiu no sucesso da produção: "O público que assiste o canal está acostumado a ver muito conteúdo de fora, são a maioria dos títulos que exibimos. Então por mais que a gente considere muito importante produzir conteúdo nacional, às vezes é algo que não faz sentido estar ali. No streaming essa ordem não tem importância, mas na grade de programação é um ponto fundamental para o sucesso da série. É claro que ela precisa ter qualidade de produção – mas no caso de 'Um Dia Qualquer', o fato dela estar inserida de forma muito orgânica no conteúdo do Space foi o que causou tanto sucesso". 

Ela ainda esclareceu que a demora na continuação – foram três anos entre uma temporada e outra – se deu exclusivamente por conta da pandemia e das paralisações dos recursos do Fundo Setorial. "O nosso maior desafio é a distância entre as temporadas. Todo o resto é positivo. Já conhecemos os pontos sensíveis e já falamos com o público. Quando ele tem alguma noção do que a história está falando, já é um ganho enorme, ainda mais hoje em dia, com tanto conteúdo sendo oferecido. Nesse caminho, lançar uma segunda temporada é um alívio, já nos coloca alguns passinhos à frente", apontou. 

Feijão também comentou essa questão: "A pandemia mudou muita coisa. Até a nossa produção evoluiu tecnicamente. O mercado como um todo se profissionalizou muito mais – não que já não fosse profissional. A série praticamente dobrou de tamanho – para essa temporada, foram dez semanas de filmagens, enquanto a primeira nós rodamos em quatro. O elenco tem 55 nomes, atores e atrizes na sua grande maioria negra. E uma equipe diversa, sempre, a gente preza por isso. Temos mais condições de trabalho agora, mais recursos. Nosso parceiro acreditou muito na história – e ela pede isso. Temos mais locações e uma equipe técnica mais aprimorada e maior também. Quase todo o time técnico e criativo voltou, mas incorporamos muita gente boa e apostamos em lançar novos talentos". 

Silvia concluiu: "A expectativa agora é alta porque a gente vem dessa boa experiência com a primeira. É bom que a primeira temporada já esteja na íntegra na HBO Max – já até colocamos um destaque especial para ela por lá – e também faremos maratonas de exibição próximo da estreia. Mas, de qualquer forma, não é fundamental que a pessoa tenha assistido a primeira para entender a segunda. A segunda foi escrita pensando mais em origem de série, estruturas narrativas que funcionam no linear. Estamos apostando que terá um sucesso a mais. A história tem relação com a realidade, mas sem ser um choque de realidade, porque quem está assistindo quer se desligar de alguma forma". 

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