Head de internacional da Gullane aponta caminhos para a internacionalização do audiovisual nacional  

Laura Rossi, head de internacional da Gullane Entretenimento (Foto: Tela Viva)

Laura Rossi, head de internacional da Gullane Entretenimento, esteve nesta terça-feira, dia 26 de setembro, no Fórum Audiovisual Mercosul, que é parte da programação do FAM (Florianópolis Audiovisual Mercosul), ministrando uma palestra sobre Internacionalização. O tema é um dos seis módulos que integram o curso de capacitação do Projeto Objetiva Empreendedorismo em Foco, promovido pela APRO e pelo SEBRAE, que tem como objetivo atualizar profissionais da indústria audiovisual por meio de uma abordagem contemporânea sobre empreendedorismo, novas tendências, tecnologia e inovação, Branded Content e experiências com conteúdo. 

A executiva contou que a Gullane enxerga a internacionalização como negócio e que um terço dos projetos já lançados pela produtora é de coproduções internacionais. Além dessas coproduções, há também muitos projetos 100% brasileiros que foram comercializados para outros países e que estiveram em festivais e mostras internacionais, que é um outro lado da internacionalização. "É realmente um grande foco para nós", reforçou. 

Laura abordou a importância do processo de internacionalização e coprodução no contexto da indústria audiovisual e destacou três pontos principais que fazem dela um caminho interessante para os projetos: a sustentabilidade do negócio, a diversificação de fontes e a ampliação de mercados. Na sequência, explicou melhor cada um deles. Para ela, diversificar as fontes de financiamento de um projeto com coproduções e fundos internacionais tira um pouco do risco da operação. "Aqui, temos acesso a diversos mecanismos que utilizamos para produção independente, tanto públicos quanto privados, e internacionalizar é acessar diferentes mecanismos de outros países, que têm tempos e realidades diferentes. É uma forma de diluir o risco da nossa operação", apontou. Para endossar esse ponto de vista, ela usou como exemplo a recente crise do FSA, na qual os recursos do Fundo Setorial do Audiovisual da Ancine ficaram paralisados: "Foi bastante prejudicial para as produções que contavam 100% com esses recursos. Por isso essa diversificação de financiamento é importante". 

Outro objetivo é a ampliação de mercado. "Se fizermos um produto caro como é o audiovisual para circular em apenas um território, teremos uma dificuldade maior de fazer com que aquele valor se justifique. A internacionalização aumenta o potencial de receitas e torna a exploração do conteúdo mais sustentável", definiu. 

E dentro da coprodução internacional, Laura pontuou que é válido também entrar como coprodutor minoritário de obras internacionais: "Essa associação com grandes projetos, que temos segurança que serão selecionados em grandes festivais e terão boa circulação no mercado comercial, é importante para nos posicionar como empresa, para além dos nosso próprios projetos. É a posição da empresa no mercado global". E, para além do viés econômico, a internacionalização também envolve exportação cultural. "É a mensagem brasileira sendo levada para diferentes culturas", ressaltou. 

Case nacional 

Laura trouxe como case o filme "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert, uma produção 100% brasileira, assinada pela Gullane. O longa foi premiado em Sundance e Berlin Panorama, indicado ao Critics Choice e ganhador do Prêmio Platino. Além disso, foi distribuído em mais de 70 territórios e escolhido como representante do Brasil para concorrer a uma vaga no Oscar. "É um projeto nacional que seguiu o caminho da internacionalização, que tem como porta de entrada os festivais internacionais. Depois, buscamos a comercialização para outros territórios. Antes do filme ser anunciado como representante do Brasil ao Oscar, ele já tinha levado 100 mil espectadores aos cinemas. O anúncio foi feito enquanto ele ainda estava em cartaz e, no fim, ele somou 500 mil espectadores nas salas de cinema. É o impacto da internacionalização dentro do nosso próprio mercado", destacou. 

Possíveis caminhos 

Existem diversas maneiras de trabalhar a internacionalização de um projeto. Para quem busca coprodução internacional e ainda não tem uma empresa produtora tão grande, Laura recomenda começar participando dos mercados internos que recebem players de fora – como o próprio FAM, que tem o ambiente de mercado ECM+Lab, e o BrLab: "É melhor começar pelo Brasil mesmo do que ir direto nos festivais de fora. Precisa desse 'treinamento'. Depois, é interessante selecionar festivais internacionais que também contam com esses espaços de mercado – como Cannes, Berlim, Veneza – onde há a possibilidade de ver filmes e também de acompanhar palestras e workshops e fazer networking". 

Também é essencial se atentar às possibilidades que a própria Ancine oferece. Atualmente, a Agência tem aberta uma chamada pública para coproduções entre Brasil e Portugal e, durante o próprio FAM, assinou acordos bilaterais de coprodução com Argentina e Uruguai. "Existem vários estágios de financiamento internacional – a parte mais fácil, para quem está iniciando, é por meio dessas ações de fomento da Ancine. É uma forma de acesso ao financiamento bastante simples, e que conta com o respaldo do nosso Estado", observou Laura. "Temos também fundos internacionais que conseguimos acessar, como o Ibermedia, que é aberto para qualquer coprodução entre dois ou mais países ibero-americanos. O Show Me The Fund, criada pelo Cinema do Brasil e o Projeto Paradiso, é uma das várias plataformas e fontes de pesquisa que podem ser usadas para descobrir quais são os fundos internacionais disponíveis para as empresas produtoras brasileiras", citou. 

É claro que a maioria das empresas não possui braço para trabalhar nesse nível de escala – uma vez que negociar com o distribuidor no próprio Brasil já é difícil. Mas uma das maneiras de atingir essa escala é por meio de associação com agentes de vendas – players como MPM Film, Playtime, Figa Films, The Match Factory e Luxbox, entre outros. "É um negócio caro, mas pensando pelo outro lado, é realmente difícil que a gente tenha capacidade de explorar de fato nossos conteúdos em muitos territórios. Por isso é uma forma de viabilizar essa escala para empresas pequenas e médias. É uma boa parceria para alcançar outros mercados e acessar esse efeito multiplicador", concluiu Laura. 

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