Para produtores e players, futuro do cinema está na diversidade de histórias e complementaridade de janelas

A Mixer Films organizou a mesa "Assistir em casa ou ir ao cinema: o que mudou?" nesta quinta-feira, 27 de outubro, no II Encontro de Ideias Audiovisuais, braço de debates e palestras da Mostra de Cinema de SP. Estiveram presentes Cristiana Cunha, gerente de marketing da Globo Filmes; o cineasta Jeferson De; e Malu Miranda, Head de Originais Brasil do Amazon Studios. A mediação foi de João Daniel Tikhomiroff, cineasta, sócio e fundador da Mixer Films. 

Cristiana pontuou que o desafio atual é justamente entender esses caminhos, o que virá pela frente, que tipo de estímulos são necessários para fazer o público voltar ao hábito de ir ao cinema, lembrar dessa experiência – e enfatizou que isso não tem a ver com o gênero do filme: "Lançamos há pouco tempo o documentário 'Maria, ninguém sabe quem eu sou', sobre a Maria Bethânia, e fez 18 mil espectadores. Então não é determinado gênero que vai levar as pessoas ao cinema, e sim um bom filme. Filme bom no cinema tem boca a boca quente, se mantém em cartaz. 'Medida Provisória' é um exemplo, já está há mais de 20 semanas". Jeferson De concordou: "Não tem um gênero específico que leve o público ao cinema. É o filme ser bom, tocar as pessoas. Cinema é experiência coletiva, imersiva, onde vamos dispostos a gostar do que vamos assistir. Em casa, são várias distrações. Embora assistir a um filme pelo celular, no metrô, em deslocamento, por exemplo, também é uma experiência". 

À frente de uma plataforma de streaming, Malu comentou: "O lado criativo sempre foi assombrado pela ameaça do 'assistir em casa' desde que o VHS surgiu. Sempre existiram questões no sentido de se o cinema ia acabar. Mas estamos falando, acima de tudo, sobre a escolha do consumidor – que pode ver no metrô, na TV, com os amigos reunidos em casa ou com desconhecidos no cinema, compartilhando emoções. Isso é mágico. A Amazon, sendo uma empresa de tecnologia, sempre prezou por poder proporcionar tudo a qualquer momento, e isso é muito legal. É sobre você poder 'também' ver em casa, e não no cinema 'ou' em casa. O jeito de consumir, o momento que você quer consumir, tudo isso são escolhas. Essa é a grande vantagem que o streaming trouxe". E Jeferson acrescentou: "E nós temos uma experiência absolutamente nova com o streaming que é a possibilidade de, em um mesmo dia, seu filme ser lançado em mais de 100 países. Mesmo filmes pequenos podem passar por isso. É uma experiência muito diferente do lançamento no cinema". Para a executiva do Prime Video, que está disponível em mais de 240 países e territórios, isso permite que, de fato, tenhamos conversas mundiais sobre aquele mesmo filme. "Mesmo que você esteja isolado em casa, assistindo filme embaixo das cobertas, você conversa sobre ele com o mundo inteiro", disse. 

Cristiana defende a estreia nos cinemas como primeira janela: "Lançar no cinema deixa o produto mais quente, acopla valor, tem divulgação… Todo o 'circo' que se faz pro lançamento em cinema deixa o filme pronto para que a plataforma também 'brinque' com ele, multiplicando os números que ele fez em bilheteria para milhões de espectadores. As janelas são propostas complementares, atendem pessoas diferentes. É legal quando um filme consegue completar o ciclo todo, como é o caso de 'Marighella', que estreou nos cinemas, foi para o streaming e, em breve, será exibido na TV aberta, em formato de minissérie". 

Para os participantes da mesa, a discussão passa pela democratização. "Há muitos lugares do nosso país com pouco ou nenhum acesso à internet. Se o conteúdo quer ser visto, precisa estar em algum momento na TV aberta", alertou Jeferson De. "E precisamos pensar também no número de salas de cinema que temos. Nesse sentido, passando por esse outro lado, a internet pode ajudar", acrescentou Malu. 

E pensando aí no comparativo do streaming com a TV, ela analisou: "A 'criação de um grande evento' é o sonho de todo mundo. Seja no cinema, na TV ou com uma série no streaming assim que lançar. Criar eventos faz parte do que fazemos, tanto no criativo quanto no marketing. Esse evento é necessário, aquilo do 'tem que ver'. Mas a natureza das janelas segue sendo muito diferente. A TV aberta é de graça, você não escolhe quando vai ver e consome de forma passiva. Streaming é o oposto em todos os sentidos". 

Futuro do cinema 

Ao serem questionados sobre qual é o futuro do cinema, os profissionais deram respostas semelhantes. Para Jeferson De, esse futuro está na diversidade: "Uma das coisas mais lindas do streaming é poder ver um filme da Coreia, do México ou do interior de Minas Gerais com apenas um clique. Não há outro caminho pro cinema que não seja a diversidade. Ficar falando mais do mesmo vai contra o próprio negócio". Malu completou: "Enquanto existirem pessoas querendo contar histórias e outras querendo assistir, o cinema não vai morrer. O cinema persiste em toda sua pluralidade. E quanto mais plural, melhor para todos". 

Cristiana finalizou: "O futuro do cinema brasileiro especificamente vai depender bastante do que acontecer neste domingo. Mas de qualquer forma, temos um futuro promissor, de retomada e união da indústria, que deve se reunir para discutir preço de ingresso, campanha de lançamento. A volta aos cinemas ainda não está aquecida, mas estará. A roda está girando. É preciso ter esperança. Temos desafios, mas a retomada vai acontecer". 

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