Como mostrou no balanço financeiro do trimestre, a Telefônica/Vivo até enxerga a crise, mas não necessariamente se preocupa com um apocalipse econômico. "Acredito que a maioria dos players está sofrendo, mas, no final do dia, continua sendo um cenário competitivo e acho que o mercado deverá ficar mais racional em longo prazo", explicou o presidente da companhia, Amos Genish, durante teleconferência nesta quarta, 29. "As empresas vão continuar a investir em qualidade e em rede, mas cada vez mais vão olhar as margens."
Ainda assim, o executivo reconhece que a indústria de telecomunicações tem sofrido menos os efeitos da macroeconomia. "Achamos que o setor mostra alguma resiliência", diz. "As pessoas que ficam desempregadas não podem deixar de ter Internet, querem conectividade. Temos é que focar em um crescimento mais inteligente. Alguns consumidores têm problemas para pagar as contas, então temos que achar um jeito, dar crédito para as pessoas."
Custos de programação
Uma das estratégias para driblar esse cenário é a de aproveitar a infraestrutura de fibra da GVT para ofertar banda larga com maior capacidade onde antes só contava com cobre. Além disso, o objetivo é continuar a fase de crescimento na área de TV por assinatura.
Chave para essa estratégia se tornar bem sucedida é que, com o portfólio da GVT, a Telefônica pode ter maior poder de negociação para a programação. Segundo o CEO, no entanto, isso já pode ser efetuado e não será preciso esperar a companhia ultrapassar o patamar dos 2 milhões de assinantes de TV paga – a empresa fechou junho com 1,786 milhão de acessos. "Não precisamos esperar isso para pegar desconto. A chave é a Globosat, e estamos esperando alguma agenda para mudar, mas acreditamos que não precisamos disso para negociar, temos um grande apetite", declara Genish. Nesse ponto, a sinergia com a nova aquisição está apenas começando. "Achamos que é uma questão de tempo. O conteúdo que queremos, temos negociado, tem sido muito bom e até o final do ano poderemos ter uma melhor visualização".
Sobras
Para a estratégia móvel, aproveitar um possível leilão de sobras de espectro é algo que está em análise. O CEO da Telefônica ressalta que não seriam bandas com alcance nacional, mas declara interesse se for algo estratégico. Ele diz que está esperando para estudar o que a Anatel planeja fazer, mas não garante participação em nada "a menos que decidam leiloar o resto dos 700 MHz". Segundo o diretor de receitas Christian Gebara, a visibilidade no momento é para faixas de 1,8 GHz, 2,6 GHz e 3,5 GHz. "Estamos analisando, a consulta pública começa em agosto, estamos entendendo ainda as condições", disse ele em conferência com jornalistas. "Queremos, sim, participar", garante.
Fistel
Em relação ao possível aumento de quase 189% para a taxa de fiscalização (Fistel), Amos Genish se mostra mais positivo. Ele diz que o Ministério das Comunicações tem um entendimento claro do impacto que isso traria para as empresas e para o consumidor. "Estamos mais otimistas do que costumamos ser, mas o governo tem sido claro e, pelo que sai na mídia, não parece estar na agenda deles até o momento", diz ele, lembrando que a mudança no Fistel ainda teria que ser aprovada no Congresso, que não deve apoiar o aumento. "É uma taxa ineficiente, se olhar para a base pré-paga, (o impacto) vai claramente contra a agenda social (de inclusão)", reclama.
Segundo o CFO da Telefônica, Alberto Horcajo, a empresa teria o mesmo impacto que os consumidores se quase triplicar o aumento da taxa de fiscalização. A operadora registrou despesas de cerca de R$ 1,1 bilhão em Fistel em 2014, e o que foi pago até o momento em 2015 "está em linha com o ano passado".
Concessões
Outro cenário é a revisão quinquenal dos contratos de concessão de telefonia fixa. Amos Genish acredita que a Anatel poderá atrasar em alguns meses essa renovação. Naturalmente, acha positivo caso haja uma mudança substancial para privilegiar investimentos em acesso à Internet. "Seria ótimo reduzir os custos para ficar mais relacionado à banda larga, achamos que seria uma ajuda positiva para os modelos de negócio da companhia", declara ele, citando posicionamento recente do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que disse estudar a revisão com esse fim.
O CFO Alberto Horcajo diz estar confiante. "A Anatel manifestou que até o final de setembro teria o relatório com o posicionamento da agência. Eles vão olhar questões como bens reversíveis para a telefonia pública e novas metas de universalização de serviços. Acreditamos que é possível revisão dos termos de concessão para habilitar a capacidade de (prestação de) serviço das empresas", declarou ele. Todavia, o fim da concessão da telefonia fixa, ressaltou, precisaria alterar a Lei Geral de Telecomunicações. "Vai ser difícil saber realmente quanto a autarquia pode decidir disso, mas obviamente requer aprovação do Congresso", destaca.
Troca de ações com a Vivendi
Horcajo explica ainda que a transação para troca de ações da Telefónica com a Vivendi anunciada nesta quarta-feira deverá ser aprovada até o dia 1º de setembro pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), até por ser parte das obrigações impostas pela entidade à companhia francesa no ato da venda da GVT. "É ótimo para a Telefónica aumentar e ficar com mais de 73% das ações na Telefônica Brasil, e a Vivendi pode ficar com condições talvez mais favoráveis do que se fosse vender ao mercado", explica ele.
A intenção da empresa francesa é zerar a participação na Vivo em um prazo de três anos. Com essa troca de ações, a meta de ficar abaixo dos 5% de participação no prazo de um ano já estaria sendo cumprida, já que ela ficaria com menos de 4%. "As autoridades de concorrência de diversos países terão que revisar, mas o Cade deve aprovar sem ressalva e logo a transação porque ela realmente habilita a Vivendi a cumprir a obrigação. Eles estão ficando com menos de 1% das ações da Telefónica (na Espanha), então não tenho dúvida de que (a autorização) vai sair", concluiu Horcajo.