Em cerimônia realizada na noite da última sexta-feira, 26, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e conduzida pela jornalista Adriana Couto, foram anunciados os vencedores da 33ª edição do Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Curta Kinoforum.
O Prêmio Revelação, para diretores de filmes realizados em escolas e cursos audiovisuais, foi conquistado por "Cantareira" (foto), produção paulista assinada por Rodrigo Ribeyro. A obra, que havia vencido no Festival de Cannes o 3º prêmio na competição Cinéfondation, acompanha um jovem garçom em seu retorno ao lugar em que cresceu: a casa do avô na Serra da Cantareira. A premiação concede uma série de materiais e serviços, que permitem ao diretor a realização de um novo curta-metragem, oferecidos por empresas da área audiovisual, como locação de equipamentos e mixagem. O júri foi formado por Cecilia Barroso, Isabel Wittmann e Mariana Queen Nwabasili.
Na cerimônia também foram divulgados os filmes favoritos pelo público do evento. Os dez filmes brasileiros melhor avaliados são os seguintes, em ordem alfabética: "Adão, Eva e o Fruto Proibido" (Brasil-PB) – R. B. Lima; "Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo" (Brasil-SP) – Guilherme Xavier Ribeiro; "Cantareira" (Brasil-SP) – Rodrigo Ribeyro; "Chaguinhas" (Brasil-SP) – Diego Hajjar e Fernando Martins; "Chão de Fábrica" (Brasil-SP) – Nina Kopko; "Coletânea de Histórias Extremamente Curtas" (Brasil-SP) – Pedro Fraga Villaça; "Ela Mora Logo Ali" (Brasil-RO) – Fabiano Tertuliano de Barros e Rafael Rogante; "Fantasma Neon" (Brasil-RJ) – Leonardo Martinelli; "Pedra Polida" (Brasil-PB, 20 min) – Danny Barbosa; e "Tamo Junto" (Brasil-SP) – Pedro Conti.
Já os dez favoritos entre os curtas estrangeiros, também em ordem alfabética, são: "Aéreo" (Polônia) – Andrzej Jobczyk; "Datsun" (Nova Zelândia) – Mark Albiston; "Frida" (Tunísia) – Mohamed Bouhjar; "Meu Tigre" (França) – Jean-Jean Arnoux; "O Marinheiro Voador" (Canadá) – Amanda Forbise e Wendy Tilby; "O Nascimento de Uma Mão" (Argentina) – Lucila Podestá; "O Sonho de Um Cavalo" (Irã) – Marjan Khosravi; "Passageiro" (Argentina) – Juan Pablo Zaramella; "Sapatos Vermelhos" (República Tcheca) – Anna Pad?rová; e "Soldado" (México) – Francisco Sánchez Solís.
Prêmios de aquisição
Quatro prêmios-aquisição, fruto de parcerias do evento com emissoras de TV e plataformas digitais de streaming, foram revelados no evento.
O Prêmio Canal Brasil de Curtas, no valor de R$ 15 mil e um contrato de licenciamento para o melhor curta dos Programas Brasileiros, escolhido por um júri indicado pela emissora, teve como vencedor "Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo" (Brasil-SP). Dirigida por Guilherme Xavier Ribeiro, a produção se passa na periferia de uma cidade do interior paulista na qual um jovem tenta recuperar sua égua enquanto convive com o crime e o barulho ensurdecedor de uma sociedade conservadora.
O Prêmio TV Cultura, no valor de R$ 8 mil e destinado a um curta produzido no Estado de São Paulo a ser exibido na grade de programação da emissora, foi conquistado por "Tamo Junto", de Pedro Conti. No enredo do filme, dois vizinhos passam a tornar cada momento de interação como grandes preciosidades. O trabalho conta com a voz do rapper Criolo e da atriz Luciana Silveira e com a participação de Emicida na trilha sonora. O júri, nomeado pelo canal, foi composto pela artista visual Claudia Colagrande e pelos cineastas Daniel Santiago e Toni Venturi.
Já a Menção TV Cultura para Novos Olhares, outorgada para curtas produzidos em oficinas de realização audiovisual, garantindo uma janela de exibição na grade da emissora, foi para "Raízes do Mercado". Trata-se de um documentário sobre os bairros Vila Nova e Paquetá e a relação da região com as moradias em situação de cortiços, situadas próximas ao Mercado Municipal na região portuária de Santos (SP). Dirigida por Jaime Santos, Daniel C. Souza, Samara Faustino e Francina F. de Lisboa, a obra é uma realização das Oficinas Querô, que oferecem capacitação audiovisual para jovens de baixa renda e estudantes de escolas públicas da Baixada Santista.
O Prêmio SescTV, destinado a diretores estreantes, contempla um filme brasileiro e um filme estrangeiro com R$ 6 mil cada, além de licenciamento pelo período de dois anos. A iniciativa teve como vencedores "Yon" e "Através da Cidade Invisível". Produção argentina dirigida por Bárbara Lago, "Yon" traz reflexões sobre as sexualidades dissidentes, a relação entre a tecnologia e o corpo humano, a linguagem e a infância. "Através da Cidade Invisível" (Brasil-SP), de Paulo Grangeiro, é conduzido a partir de fragmentos de memória do cineasta Carlos Reichenbach (1945-2012) e discute o papel de formação cultural das salas de cinema, os espaços públicos e a possibilidade de ocupação das ruas da cidade.
O prêmio Porta Curtas e Canal Curta!, promovido, respectivamente, pelo portal e pelo canal a cabo, é destinado a um filme da Mostra Brasil, que recebe R$ 5 mil. Eleito de forma online pelos usuários do portal, o vencedor foi "Manhã de Domingo" (Brasil-RJ), dirigido por Bruno Ribeiro. No enredo da obra, uma pianista negra experimenta uma jornada de reconciliação com suas memórias.
Outros prêmios e troféus
Nova premiação no evento, o Prêmio API é concedido pela Associação das Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro para um para um filme da Mostra Limite e para um título da Mostra Latino-Americana. O contemplado na primeira categoria foi "The Spiral", no qual a cineasta argentina María Silvia Esteve parte de um áudio do WhatsApp para mergulhar em uma espiral descendente. Exibido na Mostra Latino-Americana, a animação chilena "Bestia", de Hugo Covarrubias, focaliza episódio da vida de uma agente da polícia secreta durante a ditadura militar naquele país.
O Troféu Borboleta de Ouro reconhece três destaques (um brasileiro, um estrangeiro e um prêmio especial) para curtas que tratam da diversidade sexual, selecionados pela equipe do Cineclube LGBT+ entre os filmes de 2021 e 2022 programados no festival. O título brasileiro premiado foi "Adão, Eva e o Fruto Proibido" (Brasil-PB, 20 min), de R. B. Lima, sobre uma personagem trans que tem a oportunidade de se aproximar do filho. O destaque estrangeiro escolhido, o peruano "A Vulvaláxia", de Sabrina Franco e Alejandra Gómez de la Torre, é protagonizado por uma adolescente curiosa que ouve uma melodia saída de sua vulva. Já o prêmio especial foi atribuído a Carla da Vitória, personagem focalizada no documentário "Transviar" (Brasil-ES/Alemanha), dirigido por Maíra Tristão. Nascida na tradição das paneleiras de barro da cidade de Vitória, ela é mulher transexual.
Por sua vez, oTroféu Kaiser– Destaque ABCA para Melhor Animação, promovido pela Associação Brasileira de Cinema de Animação, premia o filme com melhor animação exibido no evento. O chileno "Bestia", que já havia sido um dos finalistas ao Oscar da categoria, foi o grande vencedor. Uma menção honrosa foi concedida a "O Teu Nome É" (Portugal/Bélgica), de Paulo Patrício, um documentário animado que evoca Gisberta Salce Jr., transexual brutalmente torturada e assassinada na cidade do Porto em 2006.
Em sua 33ª edição, o Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Curta Kinoforum exibiu 228 filmes, representando 41 países. Foram programados 119 títulos brasileiros, sendo 37 deles em pré-estreia mundial. Foram promovidos encontros, debates, masterclass, lançamento de livros, seminário Conexão USP Kinoforum e uma exposição de arte com NFT.
Dirigido pela produtora cultural Zita Carvalhosa, o festival contou com patrocínio do Itaú, por meio da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério do Turismo, e da Spcine / Prefeitura Municipal de São Paulo. Foi uma realização da Associação Cultural Kinoforum, Sesc, Museu da Imagem e do Som e Cinemateca Brasileira.