Responsabilidades junto à Ancine e burocracia são desafios à co-produção

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O primeiro dia do Telas Fórum, que acontece esta semana em São Paulo, encerrou com o painel "Grandes e pequenos: momentos de união", que reuniu nomes de pequenas e médias produtoras, além de representantes de canais, para falar sobre os processos de co-produção. Paulo Schmidt (Academia de Filmes), Roberto Martha (Scriptonita), Renata Martins (Pink Flamingo), Elisa Chalfon (Viacom) e Maria Rita Nepomuceno (CinebrasilTV) abriram suas próprias experiências, tanto as positivas quanto as negativas, para ressaltar os principais pontos de conflito dentro dessa questão.
Paulo, da Academia de Filmes, abriu sua fala alertando sobre a necessidade de uma definição em relação às divisões de responsabilidade na Ancine, para lidar com questões como direitos autorais, sempre problemáticas dentro das co-produções. Ele afirma que os criativos devem entender seus papéis como produtores dentro do processo de desenvolvimento da obra antes de cobrar suas porcentagens de direitos sobre a mesma.
Em relação ao trabalho na Academia, Schmidt explicou que para cadastrar um projeto para uma potencial co-produção ele já precisa estar bem amadurecido, com dados como público alvo (gênero, faixa etária) e plataforma a qual ele se destina. A avaliação de novos projetos, ali, é feita trimestralmente.
Já a Pink Flamingo, representante do ramo das pequenas produtoras, esteve presente com Renata Martins contando a trajetória da empresa. "Começamos em 2015, com o foco voltado para branded content, e evoluímos para projetos de TV e cinema. Entendemos que temos a criatividade como ponto alto, mas um déficit no histórico da produtora, que é recente e pequena em termos de porte", explicou. Por isso, Renata afirma que a busca da Pink Flamingo é por parcerias de produção com produtoras já posicionadas no mercado, enquanto eles entram com o fator da criatividade e o conteúdo. "Somos pequenos e queremos continuar assim, por isso trabalhamos bem com cases de co-produção", ressaltou.

Benefícios

Representantes dos canais, Elisa Chalfon, da Viacom, e Maria Rita Nepomuceno, do CinebrasilTV, apresentaram seus pontos de vista. Elisa levantou que o processo de co-produção é especialmente benéfico no que diz respeito à busca constante dos canais por trabalhar com empresas fora do eixo Rio – São Paulo: muitas vezes, a parceria ideal é com uma produtora criativa ainda pouco conhecida, fora desse eixo, e outra já estabilizada no mercado, que vai entrar como parceira nesse desenvolvimento. Já Maria Rita explicou que o caminho inverso também acontece. "Às vezes, nos interessamos pelo projeto, mas por conta da pouca experiência da produtora, recomendamos que ele seja feito em co-produção." As duas concordam que, por parte dos canais, o que faz com que eles acreditem em um projeto é a confiança que quem o apresentou está transmitindo. "Precisamos sentir que a pessoa sabe do que está falando para acreditarmos na boa entrega que ela fará lá na frente", definiu Maria Rita.
Roberto Martha, da Scriptonita, voltou ao começo do debate para ressaltar que, no Brasil, falta algo que é muito presente no mercado norte-americano: a divisão clara das posições dentro de uma co-produção. No que diz respeito à Scriptonita, ele contou que eles de fato nasceram para ser uma co-produtora e trabalhar exclusivamente com modelos de parcerias. E Roberto também bateu na tecla do "sair do eixo": "Vamos atrás de boas histórias. Encontramos essas ideias e produzimos por lá, onde essas pessoas estão, entrando com o aporte de inteligência de mercado e produção associada", explicou. O resultado disso, de acordo com o executivo, é um produto com trajetória comercial em potencial. Para os co-produtores, os benefícios são as credenciais que eles adquirem para futuras produções.
A conclusão do painel foi a de que existem diferentes vias para o processo de co-produção, basta encontrar alguma que leve em consideração as expertises e pontos altos de cada parte envolvida. Como desafio, fica a demanda por uma regulação desses termos de co-produção, no que diz respeito especialmente à detenção de direitos e definição clara dos papéis.
Renata finalizou afirmando que co-produção é sempre benéfica: traz troca de experiências, fôlego de produção, repertório e credibilidade.

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