Para Oi, novo AICE seria ruim porque canibalizaria planos atuais

O estudo da PriceWaterhouseCoopers realizado a pedido da Oi sobre a proposta do AICE (Acesso Individual Classe Especial, ou o telefone popular) colocada pela Anatel em consulta pública mostra uma preocupação com a perda de receita que o serviço pode trazer pela migração dos atuais clientes para um plano mais barato. Segundo o estudo da PwC, encaminhado pela Oi como contribuição à consulta, o plano proposto pela Anatel tem potencial de atingir, em seu primeiro ano, uma penetração de mais de 19% na faixa de renda a que se destina (igual ou inferior a R$ 140,00). Segundo dados da própria Oi, hoje a penetração da telefonia fixa nesse segmento, em sua própria base, é de 12,57%. Seria, portanto, um ótimo plano do ponto de vista de políticas públicas.
Em números absolutos, o estudo PwC/Oi indica que o AICE teria potencial de atingir 2,1 milhões de clientes no primeiro ano. O problema, segundo o estudo, é que a maior parte desses clientes potenciais viriam não de novas adesões, mas sim da migração de clientes que já contratam outros planos mais caros da Oi. Pelas contas da operadora, ela vai perder, no primeiro ano, 1,5 milhão de clientes que hoje contratam serviços (tanto promocionais quanto o plano básico) cuja assinatura gira em torno de R$ 30 com impostos, contra uma assinatura de R$ 13,50 do AICE (com impostos) proposta pela Anatel. Apenas 600 mil seriam novos clientes, que hoje não têm telefone. Isso, segundo o estudo da Oi, é ruim para o equilíbrio financeiro da operadora porque reduz a receita já existente. Essa situação geraria uma perda operacional que pode passar de R$ 2,6 bilhões, segundo a Oi, dependendo do perfil de uso que se venha a ter no usuário do AICE. Considerando as receitas que se possa ter com o serviço, a perda final para a operadora pode ser de R$ 125 milhões a R$ 729 milhões ao todo (entre 2012 e 2025). O AICE, diz a Oi, nunca dará resultado positivo, ao contrário do que projeta a Anatel. A principal diferença entre essas duas contas é justamente o quanto que a Oi diz que perderá se oferecer algo mais barato aos seus clientes.
O estudo apresentado pela Oi também aponta a necessidade de investimentos para a expansão do serviço AICE aos usuários do Bolsa Família, que são o alvo da Anatel com a nova proposta. Segundo as estimativas da Oi, entre 10% e 30% dos usuários do Bolsa Família precisariam de investimentos para receber o serviço, ou seja, não têm a rede hoje disponível. Esse valor ficaria em R$ 899 por novo cliente, em média, segundo as contas da Oi. Trata-se de um dado surpreendente, considerando que a rede fixa está, em tese, universalizada e amortizada pela assinatura básica dos clientes atuais. Além disso, segundo o estudo, há um aumento de custo operacional natural com a necessidade de administrar e atender os novos clientes, emitir faturas etc.
"Entendemos que, considerando as premissas assumidas de investimentos, demanda potencial de novos clientes e os custos operacionais incrementais, o novo AICE apresenta um VPL deficitário em todas as situações analisadas, inclusive quando não consideradas as perdas provenientes de atuais clientes de outros planos para o novo AICE", diz o estudo.
A argumentação da Oi talvez explique a razão de o AICE atual, que tem uma receita recorrente significativamente mais alta do que a nova proposta da Anatel, não ter mais de 200 mil clientes até hoje.

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