Regina Duarte assume Secretaria de Cultura propondo pacificação

O presidente Jair Bolsonaro dá posse à secretária especial da Cultura do Ministério do Turismo, Regina Duarte

A atriz Regina Duarte assumiu a Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo em evento com a presença de diversos ministros, do presidente Jair Bolsonaro e da primeira dama, Michelle Bolsonaro.

Em um discurso com diversas referências caras aos valores conservadores, Duarte disse que o seu papel é de pacificação. "Meu propósito aqui é pacificação e diálogo permanente com o setor cultural, com os estados e municípios, com o parlamento e com os órgãos de controle. Ufa!", disse. 

A fala da nova secretária não deixou de passar recados ao próprio governo, enaltecendo a relevância social e econômica dos setores culturais, com os quais o governo vem entrando em claro atrito. "Uma cultura forte consolida a identidade de uma nação. A cultura é um ativo que gera emprego, renda, inclusão social, impostos, acessibilidade e educação, e é nisto que acreditamos", disse.

Abordou, de forma discreta, as obras com temas ou abordagens criticadas pelo governo Bolsonaro. "Tem aquelas que a gente ama e recomenda"… "e tem aquelas que a gente reprova, acha impróprio e bota a boca no trombone: não vai, que é ruim, é constrangedor é uma porcaria. Mas pode acreditar, presidente, que a gente tem, nesse Brasil de meu Deus, uma cultura de ponta, de dar orgulho na gente".

Finalizou o seu discurso voltando a defender a pluralidade na cultura, mas, novamente, pregando união e fazendo referência patriota e religiosa. "Somos mãos de um só corpo. Em nome de que nos recusaríamos nos assumir como parte desse corpo-nação, esse corpo que tem mãos para plantar, para colher, mãos para sobreviver. (Tem) mãos, inclusive, independentes, cada qual livre, para agir à sua maneira e a seu bel prazer, de acordo com as suas individualidades, mas não podemos esquecer de que são mãos de um só corpo-pátria. E que na hora da diversidade, na hora de se proteger do mau tempo, de se preparar para o futuro para filhos e netos, são mãos que sabem que é preciso se unir, trabalhar em conjunto, se dar as mãos e, se preciso, em oração".

Carta cinza

Regina Duarte cobrou do presidente a carta branca prometida, afirmando que o convite para ocupar a pasta "falava em porteira fechada e carta branca". 

Bolsonaro respondeu aos recados em seu discurso, que não foi feito de improviso para evitar novos desentendimentos com os setores culturais. "Geralmente faço uso da palavra, sem ler. Confesso que é um momento muito difícil por que o que muitos têm na cabeça é que eu sou uma pessoa que está longe de amar a Cultura", justificou. 

Sobre a "porteira fechada", que significa autonomia para escolher sua própria equipe, o presidente disse que todos os seus ministros receberam suas pastas desta forma. "Obviamente, em alguns momentos eu exerço meu poder de veto de alguns nomes. Já o fiz em todos os ministérios. Até para proteger a autoridade, que por vezes desconhece algo que chega ao nosso conhecimento", completou. "Isso não é perseguir ninguém, é colocar o ministério e as secretarias na direção que foi tomada pelo chefe do executivo e foi acolhida no longo tempo de campanha", disse.

Em clara referência à carta branca prometida, o presidente Bolsonaro disse que a nova secretária deve passar por um período probatório. "Tenho certeza que você passará por esse momento, pelo seu passado, a sua alegria e, acima de tudo, a sua sinceridade. Você não está vendo um brucutu na sua frente. Tenha certeza disso. Você tem aqui um amigo, a grande ponte para chegar até ele está ao seu lado", disse. Durante o discurso presidencial, Regina Duarte estava sentada entre a primeira dama, Michelle Bolsonaro, e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. 

Bolsonaro voltou a criticar o perfil das obras culturais produzidas no país com dinheiro público. Segundo ele, a cultura foi "cooptada pela política, de modo que foi usada para interesses políticos-partidários". Para ele, uma obra que não encontra respaldo na sociedade brasileira. "Depois de um ano de governo, nós achamos a pessoa certa, que pode valorizar, por exemplo a Lei Rouanet, tão mal utilizada no passado", disse.

Recursos públicos

A nova secretária apontou para uma maior distribuição geográfica dos recursos públicos. "Uma nação tem que nutrir e zelar pela cultura de seu povo, democratizando, repartindo com equilíbrio as fatias do fomento para que todas as regiões do país possam ter viabilizadas e expostas a sua produção, e para que toda a população possa desfrutar de nossa magnífica expressão cultural. Esse é um processo que não tem dono, não é privilégio dos grandes centros, das grandes cidades, é direito de todos", disse.

Ainda, afirmou que é possível fazer muito com os recursos atualmente destinados à cultura, sem deixar de sinalizar por uma busca por mais. "Posso passar por ingênua, mas acredito que se possa fazer muita cultura, arte, tudo, com os recursos que temos. Criativamente, como no meu tempo de amadora", disse. "Acredito também que se possa fazer mais com mais. Acredito na beleza e beleza é inerente ao conceito de arte. E assim, para não fugir à regra, na busca por uma beleza maior, vamos passar o chapéu, como de praxe", completou.
(Foto: Agência Brasil)

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