Para ampliar alcance dos filmes no cinema, Conspiração investe em obras multi-gênero

Manu Gavassi e Rafael Infante estrelam "Não Tem Volta" (Foto: Caio Lirio)

No último dia 23 de novembro, estreou nos cinemas brasileiros o filme "Não Tem Volta", protagonizado por Manu Gavassi e Rafael Infante. O longa é uma produção da Conspiração com coprodução da Star Original Productions e tem distribuição pela Star Distribution e apoio da RioFilme. César Rodrigues assina a direção, com produção de Leonardo M. Barros e Eliana Soárez e produção executiva de Juliana Capelini e Renata Brandão. Assista ao trailer aqui.

A trama apresenta Henrique (Infante), que não consegue superar a separação de Gabriela (Gavassi) mesmo um ano após o término. Para acabar com o sofrimento, ele decide tirar a própria vida, mas como não tem coragem, contrata uma empresa de assassinos de aluguel que tem apenas uma única regra: após a assinatura e o pagamento, a decisão não tem volta, por conta de um sistema peculiar de segurança de informação que garante o anonimato do executor final. Porém, após assinar o contrato, Gabriela retorna e quer reatar a relação. Desesperado para descobrir quem será o seu carrasco, Henrique envolve-se em uma trajetória repleta de situações tensas para se salvar e, finalmente, ficar com a mulher que ama. 

Em entrevista exclusiva para TELA VIVA, Leonardo M. Barros, produtor do longa e sócio da Conspiração, relembrou o início do projeto: "A ideia original é de Fernando Ceylão, com quem já tínhamos trabalhado como ator, mas não como roteirista. Ele trouxe o projeto e achamos a premissa muito original, essa ideia do sujeito que contrata o próprio assassinato e depois se arrepende e tenta reverter". Barros destacou: "Uma característica que nos chamou a atenção, para além do inusitado e da originalidade da história, foi o fato de ser um filme multi-gênero – tem ação, comédia, aventura, suspense e romance". 

A partir daí, a Conspiração levou o projeto para o grupo Disney e o projeto foi desenvolvido, com filmagens em 2022 e lançamento em 2023. "Juntos, elencamos o filme e montamos o financiamento. É um longa independente, que combina mecanismos de incentivo e também recursos privados da Star e da Conspiração, além do apoio da RioFilme", detalhou o produtor. 

Para ele, essa questão do filme multi-gênero é mais comum dentro do mercado de cinema independente. Barros analisou: "Filmes independentes têm essa característica muito diferente dos filmes de estúdio, que tendem a ter gêneros únicos e claramente definidos. Os filmes independentes têm um pouco mais de liberdade nesse aspecto. O mais comum – que não é o caso no nosso filme – é a comédia dramática, que tem vários exemplos de títulos bem sucedidos. Mas aqui, expandimos para quatro ou cinco gêneros. E o Star entendeu a proposta e gostou do filme exatamente por isso – que não deixa de ser uma tentativa de buscar mais público e ampliar o alcance". 

Falando nisso, até a última semana, "Não Tem Volta" seguia dentro das expectativas de bilheteria da produtora, que acredita que o número final vá ficar entre 40 e 80 mil ingressos vendidos. "Era o que esperávamos no cenário atual. Em outras circunstâncias, poderíamos contar com um número bem superior. Mas realisticamente está dentro da previsão", afirmou. 

O produtor ressaltou ainda a grande quantidade de efeitos visuais do longa – e todos foram feitos dentro da Conspiração, por uma equipe própria da produtora. 

"É cedo para falar em retomada"  

Apesar do cinema nacional ter tido estreias bem-sucedidas ao longo de 2023 – como "Nosso Sonho", "Mussum – O Filmis" e "Ó Paí, Ó 2" – Barros não acredita que já seja possível falar em retomada: "Só poderemos falar realmente em retomada quando voltarmos a ter filmes brasileiros no Top 10 do mercado. Esse ano, houve uma melhora significativa no comparativo com os dois anos anteriores. Ainda aquém de 2019, mas bem melhor. No entanto, o filme brasileiro está se recuperando mais lentamente do que o estrangeiro, principalmente o norte-americano". 

E pensando nessas questões relacionadas aos números de bilheteria dos filmes nacionais, o produtor destacou a ausência de cota de tela como uma razão relevante e também pontuou: "Como o filme nacional, sobretudo o mais comercial e popular, está muito ligado ao consumo da classe C, o empobrecimento dessa classe nos últimos anos teve um impacto muito maior nos filmes brasileiros do que nos estrangeiros, que se recuperaram melhor. Elenco esses dois motivos: tirou-se o piso, com a falta de cota de tela, e o teto, com a retração do consumo". Para ele, filmes como "Nosso Sonho" e "Mussum – O Filmis", entre outros, teriam bilheterias no mínimo três vezes maiores em outro contexto. "Paralelo a isso, temos os streamings oferecendo filmes e séries a preços acessíveis. E houve uma significativa mudança de hábito. Por isso, como produtores, precisamos criar títulos muito atraentes", enfatizou. 

Visão otimista para 2024 

Ainda assim, sua visão para 2024 é bem otimista: "Por diversas razões. Vários filmes que tinham ficado represados serão lançados. Filmes grandes e importantes. Além disso, tudo indica que teremos uma cota de tela razoável e sensata, que estabeleça um patamar mínimo para os filmes brasileiros nas salas de cinema. Em terceiro lugar, estão voltando os investimentos públicos para a produção audiovisual – essa é uma parte muito importante, porque movimenta a produção e cria produtos que são de propriedade das empresas brasileiras, propriedades intelectuais que pertencem, pelo menos majoritariamente, às produtoras nacionais, e por isso geram receitas futuras para elas". 

Barros pontua ainda a retomada da RioFilme. "A nova gestão conseguiu rapidamente firmar a RioFilme como importante financiadora e participante da cena audiovisual brasileira. Claro que o foco é o Rio de Janeiro, mas tem impacto nacional. E por fim, estão os contratos das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, que acabam irrigando o setor em vários segmentos. Por isso acredito em um crescimento real do produto nacional no mercado audiovisual brasileiro, seja no cinema e também no streaming e na TV". 

E falando em streaming, o produtor ainda apontou que o mais importante no momento atual é a regulação adequada do VOD no Brasil, pois "este é o único setor que ainda não tem uma regulação", justificou. "Embora o streaming já participe fazendo investimentos privados, precisa também participar do nosso mercado pagando Condecine e contribuindo para fazermos obras independentes nacionais", acrescentou. 

A Conspiração tem diversos projetos para cinema previstos para o próximo ano. Entre os destaques, estão "Tô de Graça", com Rodrigo Sant'Anna, um spin-off da série de comédia do Multishow que chega às salas em abril; "O Auto da Compadecida 2", sequência do filme do ano 2000 que tem previsão de estreia para dezembro de 2024; "Vitória", filme de Andrucha Waddington com Fernanda Montenegro no elenco baseado na história real de Dona Vitória, que enfrentou sozinha os traficantes do Rio de Janeiro; e, dentro do acordo com a Star Distribution, "Vidente por Acidente", um filme voltado para a família. Os dois últimos não têm data de estreia confirmada. 

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