Mostra celebra o centenário da Semana de Arte Moderna

Com patrocínio do Banco do Brasil e incentivo da Lei Rouanet, a mostra Ecos de 1922 – Modernismo no Cinema Brasileiro ocupa o cinema do CCBB São Paulo de 9 de fevereiro a 7 de março com a maior retrospectiva cinematográfica já feita sobre o tema. São aproximadamente 50 filmes, entre longas, médias e curtas-metragens, num vasto recorte geográfico, temporal e conceitual, que vai de 1922 a 2021, de Roraima ao Paraná, e de intelectuais paulistas, como Oswald de Andrade e Mário de Andrade, a artistas e pensadores indígenas contemporâneos, como Jaider Esbell e Denilson Baniwa.

Com curadoria de Diogo Cavour, Feiga Fiszon e Aïcha Barat, e com realização da Lúdica Produções, o evento também contará com debates, palestra, sessão com música ao vivo e sessão com audiodescrição e libras.

"O cinema modernista propriamente dito não existe. Não há um cinema contemporâneo a 1922 feito nos moldes modernistas ou que se reivindique como tal. Talvez o maior impasse de uma mostra de cinema que aborda os ecos de 1922 seja justamente que não houve modernismo per se no cinema. No entanto, este talvez seja nosso maior trunfo para abordar o tema de forma múltipla. Longe de querer fechar um recorte numa única abordagem do tema, Ecos de 1922 – Modernismo no Cinema Brasileiro lança questionamentos, abre frentes, dispara provocações", explica em nota a curadora Aïcha Barat. 

Programação 

Serão exibidos em película 35mm clássicos do cinema brasileiro, como os curtas da série "Brasilianas", de Humberto Mauro (1945–1956); "Limite" (Mário Peixoto, 1931); "Terra em Transe"; (Glauber Rocha, 1967); "Como era gostoso meu francês" (Nelson Pereira dos Santos, 1971); "Iracema, uma transa amazônica" (Jorge Bodanzky e Orlando Senna, 1974); "Ladrões de Cinema" (Fernando Coni Campos, 1977); "Mato eles?" (Sergio Bianchi, 1983); e "Tudo é Brasil" (Rogério Sganzerla, 1997). 

Filmes raros, em cópias digitais especiais, também merecem destaque, como é o caso dos longas "Orgia ou O homem que deu cria" (João Silvério Trevisan, 1970); "Mangue-bangue", (Neville de Almeida, 1971); "A$$untina das Amérikas" (Luiz Rosemberg, 1976) e "Um filme 100% brasileiro" (José Sette, 1985). É também o caso dos curtas "O ataque das araras" (Jairo Ferreira, 1969); "Bárbaro e nosso – Imagens para Oswald de Andrade" (Márcio Souza, 1969); "Herói póstumo da província" (Rudá de Andrade, 1973); "Alma no olho" (Zózimo Bulbul, 1974); "Há terra!" (Ana Vaz, 2016) e "Apiyemiyekî?" (Ana Vaz, 2019).

"É difícil destacar um ou outro filme, a seleção está incrível, quero rever todos. Ver esses filmes no cinema é uma oportunidade única. São muitos filmes em película, mas também tivemos acesso a excelentes cópias digitais", completa o curador Diogo Cavour. 

Ecos de 1922 – Modernismo no Cinema Brasileiro conta ainda com uma seleção de filmes "oswaldianos" de Rogério Sganzerla e de Júlio Bressane, como "Sem essa, Aranha" (Rogério Sganzerla, 1978); "Tabu" (Júlio Bressane, 1982); "Miramar" (Júlio Bressane, 1997) e "Tudo é Brasil" (Rogério Sganzerla, 1997), além dos curtas "Perigo negro" (Rogério Sganzerla, 1992), "Quem seria o feliz conviva de Isadora Duncan?" (Júlio Bressane, 1992) e "Uma noite com Oswald" (Inácio Zatz e Ricardo Dias, 1992) – este último com exibição em 35mm.

Figura central na relação entre o modernismo e o cinema brasileiro, Joaquim Pedro de Andrade também terá destaque especial na mostra. Além da exibição dos longas "Macunaíma" (1969) e "O homem do pau-brasil" (1980) e dos curtas "O mestre de Apipucos" (1959) e "O poeta do Castelo" (1959) – filmes dedicados à obra e às ideias de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Gilberto Freyre e Manuel Bandeira, respectivamente – haverá, ainda, a exibição do média-metragem "O Aleijadinho" (1978) e um debate, no dia 5 de março, sobre a obra do cineasta e sua relação familiar e afetiva com os modernistas. Vale ressaltar, ainda, que todos os seus filmes foram restaurados recentemente e que a mostra contará com cópias 35mm realizadas após restauro.

"Podemos reconhecer esses ecos cinematográficos em diversas adaptações literárias e em cinebiografias de artistas modernistas, mas acima de tudo há uma ligação conceitual e uma vontade de experimentar novas formas, de romper com a tradição conservadora e colonial, de achar outras chaves para pensar o Brasil", afirma Cavour. 

Por fim, a Mostra contará com uma seleção de filmes contemporâneos, entre curtas, médias e longas, documentários e ficção, que abordam a antropofagia a partir de outros vieses: indígena, negro e periférico. "Branco sai, preto fica" (Adirley Queirós, 2012); "Grin" (Isael Maxakali Rolney Freitas e Sueli Maxakali, 2016); "Travessia" (Safira Moreira, 2017); "Por onde anda Makunaíma?" (Rodrigo Séllos, 2020); e "N?h? Yãg M? Yõg Hãm: essa terra é nossa!" (Carolina Canguçu, Isael Maxakali, Roberto Romero e Sueli Maxakali, 2020) serão acompanhados por uma seleção de filmes de internet, disponíveis nas mídias sociais e no site do evento.

No dia 13 de fevereiro, mesma data em que a Semana de 22 teve início há exatos cem anos, haverá um debate online intitulado "Ecos de 1922 na literatura e nas artes plásticas", com Eduardo Sterzi e Verônica Stigger. No dia seguinte, 14, Lilia Schwarcz e Pedro Duarte discutirão os "100 anos da Semana de Arte Moderna: ecos na história e na cultura do Brasil". Este debate online contará com janela de libras.

"De 1922 para cá, ao longo destes 100 anos, a Semana de Arte Moderna foi se estabelecendo no nosso imaginário como o ponto de virada e renovação das artes e do pensamento brasileiro. Mais do que o legado direto deixado pelos intelectuais e artistas ligados à Semana, a mostra Ecos de 1922 pretende sondar as mínimas e as máximas reverberações da atitude modernista naquele que talvez seja o maior símbolo da modernidade: o cinema. De que formas nós, brasileiros do século XXI, plurais e diversos como somos, deglutimos nossa apetitosa produção audiovisual?", complementa a curadora Feiga Fiszon. 

Catálogo 

O catálogo especial da mostra Ecos de 1922 – O Modernismo no Cinema Brasileiro conta com textos inéditos de Ruy Gardnier, Lorraine Mendes, Marília Rothier, Aline Leal, Tainá Cavalieri, Mateus Sanches e Juliano Gomes, além de textos já publicados de Jaider Esbell, Denilson Baniwa, Paulo Antonio Paranaguá, Pedro Duarte, Julierme Morais, Glauber Rocha e Paulo Emílio Salles Gomes. Ele traz, ainda, os Manifestos Modernistas de Oswald de Andrade, um texto de Mário de Andrade sobre o movimento e uma seleção de poemas, artes e propagandas publicadas nas revistas modernistas dos anos 20 (Klaxon e Antropofagia). 

O material apresenta, em uma primeira parte, textos introdutórios, para que o público possa ser contextualizado sobre o movimento modernista dos anos 20 – falando especialmente dos artistas presentes nessa primeira geração. A segunda parte do catálogo é dedicada a releituras críticas, fazendo o esforço de atualizar os pensamentos modernistas nos dias de hoje e de pensar os desdobramentos do modernismo ao longo do século XX. A terceira (e maior) parte do catálogo trata da relação entre o cinema brasileiro e o modernismo, pensando os ecos desse pensamento nas obras de Joaquim Pedro, Glauber, Sganzerla e Bressane, mas também no cinema contemporâneo indígena, negro e periférico. A identidade visual da mostra foi criada a partir da obra "Ficções coloniais (ou finjam que não estou aqui)", de Denilson Baniwa – artista e ativista dos direitos indígenas.

Haverá distribuição gratuita de 300 catálogos impressos e sua versão online estará disponível na íntegra para download, também gratuito. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui