Novo Conselho Superior de Cinema sai esta semana, com foco em paridade e diversidade regional

As mulheres do novo CSC (Foto: Divulgação)

Embora a portaria ainda não tenha sido liberada (a expectativa é que seja publicada ainda esta semana), a nova formação do Conselho Superior de Cinema do Ministério da Cultura já tem nomes confirmados. No último mês, durante o FAM 2023 (Florianópolis Audiovisual Mercosul), Joelma Gonzaga, Secretária do Audiovisual, adiantou que pela primeira vez na história a composição teria o mesmo número de homens e mulheres, além de representantes de todas as regiões do Brasil, e que a demora na nomeação se deu porque ela estaria ouvindo as considerações de diferentes entidades do setor. A coluna da Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, divulgou os nomeados e suplentes, informando que 12 pessoas irão compor a ala da sociedade civil do CSC e que as outras 12 serão indicadas por ministérios do Governo, das pastas Fazenda, Planejamento e Direitos Humanos, além do MinC. A maior parte dos nomes foi confirmada por TELA VIVA. Na comparação com as composições anteriores, nota-se a ausência de representantes das plataformas de streaming e empresas de internet estrangeiras e estúdios internacionais, que figuraram em composições anteriores.

Nomeados e suplentes 

Farão parte como titulares a sócia da Têm Dendê Produções, Vânia Lima; o produtor acreano Clemilson Farias; o diretor de assuntos legais e regulatórios da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), Rodolfo Salema; Cíntia Domit Bittar, sócia da produtora Novelo Filmes; a presidente da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro), Tatiana Carvalho Costa; e a presidente do Forcine (Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual), Aletéia Selonk. A lista segue com o produtor e sócio da Urca Filmes, Leonardo Edde; o diretor de programação da Claro, Fernando Magalhães; o diretor-geral da Paris Filmes, Marcio Fraccaroli; Debora Ivanov e Rosana Alcântara, ex-diretoras da Ancine; e o presidente da Abraplex (Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex), Marcos Barros.

Os suplentes serão Jussara Locateli, coordenadora do FAMES (Fórum Audiovisual de Minas Gerais, Espírito Santo e estados do Sul do Brasil); Gabriel Pires, coordenador do Nordeste Lab; Mauro Garcia, presidente-executivo da Bravi; a cineasta Joyce Prado; a produtora Mariza Leão; a roteirista Jaqueline Souza; Luiza Lins, diretora-geral da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis; Gustavo Steinberg, presidente do BIG Festival; o professor Alfredo Manevy; Paula Gomes, diretora-geral da distribuidora Olhar; Cícero Aragon, diretor-presidente do grupo Box Brazil; e Jack Silva, diretor da AEXIB (Associação dos Exibidores de Pequeno e Médio Porte).  

Paridade de gênero e diversidade regional 

Cíntia Domit Bittar, realizadora audiovisual, sócia da Novelo Filmes, parte da diretoria da API (Associação das Produtoras Independentes do Audiovisual Brasileiro) e vice-presidente do Santacine (Sindicato da Indústria Audiovisual de Santa Catarina) elogiam a secretária do audiovisual, Joelma Gonzaga, por prezar pela paridade de gênero na composição do CSC. "É notável que ela também se mostrou atenta às demandas da descentralização e dos independentes. Tenho ciência dos desafios, mas estou muito feliz e honrada com a indicação, por fazer parte deste Conselho que é o da nova retomada", afirmou em entrevista exclusiva para TELA VIVA. "Acredito no desenvolvimento do nosso audiovisual com mais pluralidade de olhares, diversidade, democratização do fomento e do acesso. O audiovisual brasileiro independente é motivo de orgulho para o país, pois impacta positivamente na nossa cultura e no imaginário, e também gera milhares de empregos, renda e receita. Acredito que este Conselho trabalhará não só pelo setor propriamente dito, mas pela soberania do Brasil", acrescentou. 

Debora Ivanov, por sua vez, que é diretora do movimento +Mulheres Lideranças do Audiovisual Brasileiro, sócia da Gullane Entretenimento e ex-diretora da Ancine, destacou que a inédita paridade de gênero no CSC é uma conquista histórica para as mulheres que, ao longo da história, sempre estiveram em desvantagem em postos estratégicos de tomada de decisão. "Teremos agora 12 mulheres, com diferentes perfis e trajetórias, e de diversas regiões do país. Elas terão o desafio de debater e orientar políticas públicas ao lado de outros importantes representantes do setor e de representantes do Governo Federal", celebrou. 

Diretora e sócia da Têm Dendê Produções, produtora com sede em Salvador – Bahia, Vânia Lima também falou à TELA VIVA sobre o impacto nas decisões e formações de políticas para o audiovisual brasileiro que essa formação com o mesmo número de homens e mulheres poderá ter: "Estabelecer um grupo mais diverso ajuda a estruturar uma política que seja mais inclusiva, participativa e mais próxima do audiovisual que está sendo produzido no Norte, Nordeste, Sul do Brasil, pela diversidade de pessoas e suas relações com o cinema. Afinal, há questões que nos atravessam substancialmente – como machismo, homofobia, racismo – que apenas com paridade podemos enfrentar. Um colegiado com 12 mulheres será fundamental para mudarmos a lógica desigual da nossa indústria". 

Uma das suplentes do novo Conselho, Paula Gomes, diretora-geral da distribuidora Olhar, salientou: "Ao termos um grupo tão variado em sua composição, certamente caminhamos rumo a um ambiente mais plural e equânime para o nosso setor. Apesar da minha atuação no audiovisual nos últimos anos ser a partir de Curitiba, onde co-fundei a Olhar, sou nordestina de Aracaju/SE. Então me sinto com um pé no CONNE e outro no FAMES e apta a representar esse audiovisual fora do eixo. É essencial que tenhamos políticas públicas que atendam a diversidade dos cinemas do nosso país-continente para que os talentos mudem de suas cidades por escolha e não por falta de oportunidades locais, para que o nosso povo seja visto e se veja e para que tenhamos vários 'Brasis' nas telas".

Tatiana Carvalho Costa, presidente da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro), analisou a linha do tempo que culminou na formação do novo Conselho. Ela explicou: "É um Conselho que, de alguma maneira, representa um momento da sociedade brasileira. Passamos nesses últimos anos por um desmonte muito grande das políticas públicas, mas em função de uma luta necessária, vimos crescerem iniciativas que marcaram lugar no cenário do audiovisual brasileiro, sobretudo para conseguirmos resistir. Não só a APAN cresceu nesse momento, mas também a CONNE, para pensar na diversidade regional, e o +Mulheres, que também cresceu nessa resistência. Agora, com esse processo de retomada da democracia e das políticas públicas no setor, seguimos nos fortalecendo com protagonismo e com muito a contribuir para essa reconstrução". 

Ela observou: "A sociedade brasileira mudou. Caminhamos para uma maior pluralidade de protagonismos. Isso significa que esse Conselho Superior de Cinema busca uma coerência com o momento da sociedade brasileira. Se buscamos um processo de reconstrução e fortalecimento da nossa democracia, não dá mais para fazer isso com a ilusão de que algo composto somente por homens brancos, cisgêneros e do Sudeste são a verdadeira representação do Brasil". 

Pessoas negras nas narrativas e dinâmicas econômicas

Tatiana destacou a participação da APAN no Conselho. "A gente nasceu com um propósito e seguimos firmes com ele: provocar o poder público e o mercado para pensar ações afirmativas buscando a diminuição das desigualdades raciais num país de maioria negra e para pensar ainda na incidência das narrativas em geral sobre os imaginários, isto é, como a gente se imagina enquanto sociedade", explicou. "Não estamos falando só de proposições de narrativas negras, mas sim de um pensamento sobre um país, que é plural e diverso, e que historicamente apagou ou estigmatizou as narrativas negras. Então a participação da APAN se dá muito em função do que a gente já tem feito fora dele, que é essa disposição para promover a presença e a permanência de pessoas negras no mercado e nos imaginários de maneira mais ampla, diversa, complexa e próxima do que somos como sociedade. Precisamos de pessoas negras nas narrativas e também na dinâmica econômica – porque não adianta só sairmos nas fotos se o dinheiro não chegar na gente também. E para isso precisamos não só de ações afirmativas, mas também de metodologias não excludentes". 

Histórico 

Por fim, Debora refletiu: "Foram muitas os avanços do setor com os marcos legais construídos ao longo dos últimos 30 anos. A Lei do Audiovisual, a Ancine, o Fundo Setorial e a Lei do SeAC foram conquistas estruturantes, que permitiram o crescimento continuado para o audiovisual brasileiro independente. Nos últimos anos, porém, passamos por grandes dificuldades e grandes mudanças no mercado. Esse novo CSC, com toda sua diversidade, nos traz a oportunidade de renovar o olhar e desenhar novas estratégias para que possamos adentrar num novo ciclo de crescimento, que seja virtuoso e traga ao Brasil ainda mais desenvolvimento econômico, impacto social e identidade nacional". 

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