"Contar novas histórias faz com que elas possam acontecer", dizem autores e roteiristas da Globo 

Maria Beltrão, Dira Paes, Renata Andrade, Thais Pontes e Mario Teixeira (Foto: Globo/ Fabio Rocha)

O terceiro painel do Festival Acontece, promovido pela Globo na última quinta-feira, dia 11 de abril, para reunir o mercado audiovisual e falar sobre o presente e o futuro da indústria, teve como tema "Só tem no Brasil" e reuniu profissionais da casa para debaterem a ideia de que para construir um futuro, primeiro é preciso que ele seja imaginado. A frase vem de uma nova campanha do grupo de mídia que reforça a concepção de que contar novas histórias faz com que elas possam acontecer. 

Nesse sentido, o painel trouxe Thais Pontes e Renata Andrade, criadoras de "Encantado's" – autoras que vieram de uma oficina para autores negros e periféricos – para ilustrar essa importância de trazer a diversidade inclusive do ponto de vista de quem está criando o conteúdo – e não só na frente das câmeras. "É potente imaginar que o que as pessoas estão vendo na tela pode ser o mote, uma fagulha para elas realizarem e buscarem. Eu me vejo nesse lugar – sou telespectadora antes de tudo, gosto muito de televisão. Poder criar novos imaginários e subverter olhares padrões é muito interessante", observou Pontes. "Foi o que acontece com 'Encantados'. O projeto nasceu na oficina, dessa possibilidade que foi dada para que novos autores tivessem uma aceleração profissional e novas histórias fossem contadas. Eu e Renata não conhecíamos ninguém até então. A história de 'Encantado's' surgiu porque queríamos falar da gente, nos ver na tela. Quando há oportunidade para criar e colocar nosso olhar, nascem coisas novas – mesmo que venha do simples, do já conhecido", analisou. A autora concluiu: "É bom ver como a televisão se transformou e, hoje, podemos contar nossas próprias histórias. É muito importante criar novos imaginários". 

Renata Andrade, que trabalha em parceria com Pontes, reforçou a ideia: "Sou uma pessoa que desejou se ver na TV e, muitas vezes, não se viu. Então do lugar de contadora de história que ocupo hoje, entendo ainda mais essa importância". A roteirista destacou ainda que todos – negros, povos originários, pessoas comuns – merecem ter suas representações positivas no audiovisual, de uma maneira que "as inspire e as façam ter orgulho de ser quem são". Por muito tempo, isso não foi possível – as representações seguiam estereótipos e não traziam histórias felizes. "Devemos buscar narrativas que valorizem a autoestima e uma ideia de futuro mais otimista e promissor para essas pessoas. Para mim, o maior barato do meu trabalho é contar história de gente comum. Essas são as melhores histórias", contou Andrade, que celebrou ainda a diversidade que "Encantado's" tem no time de roteiro, no elenco e na equipe. 

A série criada por Pontes e Andrade é uma comédia – e, para elas, esse é um bom caminho para tratar determinadas questões sociais. "Acompanhamos muito os feedbacks do público e percebemos as pessoas em quem nos inspiramos se identificando nas histórias, que era um objetivo nosso e que foi atendido, mas também pessoas sendo apresentadas a questões que, até então, nunca tinham parado para refletir. Entram em contato com outras realidades. E isso através do humor e da leveza", pontuou Andrade. Como exemplo, ela citou uma cena de "Encantado's" em que uma mulher branca pergunta na loja: "Tem lápis cor de pele?", ao que uma mulher negra rebate: "Qual pele? A minha, a sua, a dela ou a dela?", apontando para mulheres de diferentes tons de pele.

Autor de novelas como "Mar do Sertão", de 2022-2023, e "No Rancho Fundo", a próxima novela das seis da TV Globo, Mário Teixeira definiu essas novas possibilidades narrativas e o surgimento de mais diversidade nas produções audiovisuais como "boa e muito rica". Ele afirmou: "O Brasil é um país continental, por isso é importante olhar para os cantos mais longínquos do País. Existem microcosmos brasileiros. Quando olhamos para esse Brasil, podemos ver quantas histórias vão nascer. É um mar de possibilidades de histórias. Só olhando para esse Brasil tão profundo é que vamos conseguir, de fato, mostrar a nossa realidade". Teixeira acrescentou: "Fico muito feliz com essa renovação. Isso nunca foi tão forte na nossa dramaturgia e no audiovisual brasileiro. Estamos fazendo um auto-retrato grande e abrangente". 

Do ponto de vista de quem conta as histórias na frente das câmeras, a atriz Dira Paes afirmou que atores e atrizes têm sede por novas histórias. "Sempre queremos novas perspectivas. Queremos ser olhados do avesso. O audiovisual brasileiro me levou para o País inteiro por meio de minhas personagens. Meu perfil como atriz pertence ao Brasil, mas essa brasilidade tem que ser colhida na fonte – é o regionalismo, aquilo que só tem naquele lugar", disse. Para Paes, o Brasil avançou no sentido de contar histórias mais diversas, mais ainda há muito a alcançar: "Podemos buscar pelo País aquele projeto que vem e conquista a audiência por surpreender. Existe uma gama de possibilidades que o audiovisual pode trazer para o Brasil como conteúdo. Podemos tentar reconstruir nosso País através de uma dramaturgia voltada à nossa brasilidade. Vemos isso no cinema brasileiro quando vamos a festivais internacionais – o que interessa e o que chama a atenção é a nossa brasilidade. É sedutor, conquista. Não tem como não abrir o mercado para o regionalismo brasileiro. Só temos a ganhar com isso". 

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