Brasileiros querem histórias genuínas e contadas a partir de novas perspectivas, diz estudo

Valéria Beltrão, gerente da área de Sintonia com a Sociedade da Globo (Foto: Globo/ Fabio Rocha)

Durante a manhã do Festival Acontece, realizado pela Globo na última quinta-feira, dia 11 de abril, foi apresentado o estudo "O Brasil e o Audiovisual", que busca dar um norte para que o mercado pense nos movimentos do audiovisual à luz da realidade do País. O estudo completo pode ser encontrado na Plataforma Gente, espaço da Globo voltado a revelar comportamentos, histórias e tendências. A apresentação no evento foi da jornalista Maria Beltrão e Valéria Beltrão, gerente da área de Sintonia com a Sociedade (Globo).

A pesquisa pressupõe que, para desvendar o Brasil e o audiovisual brasileiro, é preciso ir além do que é manifesto e explorar particularidades, movimentos, símbolos, nuances, estilos, aspectos, saberes e sabores – ou tudo aquilo que tornam o Brasil e a cultura brasileira singulares. Na primeira parte, "O Brasil como ele é", o estudo traz dados números a respeito da quantidade de pessoas que moram no País com as porcentagens de cada região, faixa-etária, cor e gênero. Fala ainda de grau de escolaridade, força de trabalho, configurações familiares e classes sociais. A pesquisa conclui que o Brasil é um país hierárquico, desigual, burocrático, indulgente e otimista, que tenta equilibrar valores masculinos com femininos e tradição com imediatismo. A maioria da população compartilha alguns valores – entre eles, fé e esperança. Para 96% dos brasileiros, esse é seu principal valor. E a prática das religiões muda, mas o valor da religiosidade, não. Os brasileiros são desiguais e diversos, mas o imaginário que os une é essencialmente positivo – eles se definem, entre outros adjetivos, como alegres, trabalhadores, criativos, fortes e otimistas. 

O mercado audiovisual do Brasil 

Pensando no audiovisual, o estudo propõe que não é possível tratar a brasilidade como conceito único e fechado. "O Brasil nunca foi uma coisa ou outra, mas sim uma coisa e outra", diz o material. Para reforçar esse ponto diverso do País, são apresentador alguns dados a respeito dos últimos dez anos: 115 obras brasileiras exibidas em Cannes e Berlim; 55 vieram de produtoras fora do eixo Rio-SP; e seis dos dez filmes escolhidos para representar o Brasil no Oscar foram realizados por diretores que estão fora desse mesmo eixo. E aí tratando especificamente da Globo, filmes de várias regiões do Brasil foram responsáveis por um aumento de audiência da faixa "Tela Quente" da TV Globo, alcançando quase 46 milhões de brasileiros. Nos últimos anos, houve uma parceria da Globo Filmes com emissoras regionais e afiliadas de várias regiões como Ceará, Bahia, Distrito Federal e Pernambuco. O estudo ainda ressalta que o setor audiovisual é estratégico tanto para afirmação da identidade brasileira quanto como indústria geradora de emprego e renda, lembrando que ele corresponde a 3% do PIB nacional e que, a cada 10 milhões investidos, retornam 13. 

Apesar das recentes evoluções, 82% dos negros concordam que o espaço para pessoas negras na TV brasileira é muito pequena, 79% dos brasileiros e 79% dos negros concordam que atores negros na maioria das vezes atuam representando personagens em posição inferior ou estereotipadas; e 68% dos brasileiros e 72% dos negros concordam que as propagandas no Brasil tendem a privilegiar pessoas brancas. 

Telas e conteúdos  

A pesquisa informa que o brasileiro divide seu dia da seguinte maneira: uma hora e meia no trânsito, sete horas e meia "tranquilo" (dormindo, descansando), sete horas trabalhando e oito horas em frente às telas. Como telas, o estudo considera diferentes devices, e reforça que, hoje, 94% dos domicílios brasileiros possuem TV, 75% delas são Smart TVs, e 58% das pessoas acessam a rede exclusivamente pelo celular. 

Há uma grande variedade de conteúdo consumido: em média, dez tipos diferentes. A título de comparação, nos Estados Unidos são somente cinco. Entre esses tipos, o estudo cita notícias, filmes, novelas, humor e comédia, séries, jogos e eventos esportivos ao vivo, conteúdo religioso, entrevistas, programas de auditório e animações, entre outros. Mesmo entre aqueles com menor variedade de consumo, há uma média de sete tipos de conteúdos diferentes, e os mais jovens e aqueles com maior renda declaram consumir uma diversidade de conteúdos acima a média.

Partindo da premissa que conteúdo cria diálogo e diálogo cria relevância, o estudo conclui que por todo o seu potencial de mobilização e transformação, o audiovisual opera uma construção simbólica sobre o imaginário do que é ser brasileiro. É um lugar de encontros, cria laços e constrói pertencimento.

Novos símbolos para novos futuros 

"Para construir um futuro, primeiro é preciso garantir a possibilidade dele ser imaginado". A frase que aparece na pesquisa também é o mote de uma nova campanha lançada pela TV Globo na noite da última quinta, 11, que fala sobre a importância de trazer histórias mais diversas, contadas por novas vozes, que apresentem novas possibilidades e perspectivas. 

O estudo reforça essa necessidade e elenca referências que os criadores do audiovisual devem seguir para se conectar com o público. Segundo o material, os brasileiros querem, em primeiro lugar, consumir histórias genuínas. O Brasil quer se ver na tela em sua multiplicidade: diferentes gerações, religiões, raças, identidades, orientações sexuais e condições; falando de relacionamento, de amor, de rotina e de dilemas existenciais, indo além do racismo, do machismo e do preconceito; e sem romantizar as dores e sem recorrer à piada ou caricatura para se ver representado. 

Em segundo lugar, estão histórias a partir de novas perspectivas. Hoje, o audiovisual brasileiro abre seus arquivos à luz das novas perguntas formuladas pela sociedade. Novas perguntas criam novos futuros e possibilidades de diálogo. Indexar a partir de raça, gênero e outras representações pode reorganizar a memória ser inspiração e uma forma de promover conexão entre as diferenças. O audiovisual tem também a oportunidade de (re)contar histórias apagadas, mudando de dentro para fora, com maior investimentos em levantamento de dados e pesquisas sobre recortes subnotificados, como pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e indígenas. 

Na sequência, está a demanda por histórias inovadoramente familiares. Os brasileiros têm como principais sentimentos atualmente esperança e ansiedade. O dado tem relação com o fato de que, em 2023, a temática "nostalgia" ganhou as redes sociais, com mais de 1,7 bilhão de manifestações digitais. Isso porque, diante das incertezas e turbulências, as pessoas querem fugir para uma época mais simples, confortável e leve. Especialistas dizem que quase todos os conteúdos variam entre o familiar que surpreende ou a supresa que é familiar. A conclusão é que, na era da instantaneidade, a perenidade de certas histórias é um grande diferencial.

Por fim, estão as histórias catalisadas pela tecnologia, com, por exemplo, aplicações de inteligência artificial, e as "histórias da floresta", isto é, que trazem o patrimônio cultural indígena para as telas e colocam o Brasil e os povos originários como protagonistas no combate às mudanças climáticas. "Histórias genuínas furam bolhas e atravessam o tempo", conclui o estudo. 

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