"Mais Pesado é o Céu", de Petrus Cariry, foi rodado na pandemia e transmite em cena a sensação de futuro incerto

O diretor Petrus Cariry ao lado dos atores Matheus Nachtergaele e Ana Luiza Rios (Foto: Ticiane da Silva/ Agência Pressphoto)

"Mais Pesado é o Céu", dirigido por Petrus Cariry, foi exibido na noite da última segunda-feira, dia 14 de agosto, no Festival de Cinema de Gramado – o filme faz parte da mostra competitiva de longas-brasileiros do evento. Na trama, após acolher uma criança abandonada, Teresa (Ana Luiza Rios) conhece Antônio (Matheus Nachtergaele) e os dois iniciam uma jornada pelas estradas. O passado em comum, para eles, são as memórias de uma cidade submersa no fundo de uma represa. A vida é sonho, mas o futuro é a incerteza.

Trata-se de um trabalho "em família", pois o pai do diretor, Rosemberg Cariry, assina o roteiro (ao lado de Petrus Cariry e Firmino Holanda), enquanto sua irmã, Bárbara Cariry, é a produtora executiva. "Todos os nossos projetos acabam se entrelaçando. Todo argumento que eu escrevo eu mostro para o meu pai e para a minha irmã. Começamos a conversar sobre os processos e, quando vi, já aconteceu. Crescemos assim, acho que não tem muito como fugir disso. Mas é um processo que me dá muita liberdade", contou o diretor em coletiva de imprensa realizada nesta terça, 15. 

Além de assinar a direção e o roteiro, Cariry também é o diretor de fotografia do longa – função que sempre exerce nos projetos em que dirige. "Eu sempre falo que não vou fotografar dessa vez, mas acabo fazendo. Acho que minha forma de dirigir passa muito pela fotografia e pela pintura. Não consigo dirigir sem estar fotografando", analisou o diretor, que aproveitou para elogiar seu elenco: "Em todo filme que fiz, contei com elencos maravilhosos. Mas a parceria específica dos atores que tive nesse projeto e a cumplicidade entre eles me deixaram impressionados. É um filme tenso, difícil, que trata de questões delicadas. Então eu precisava ainda mais dessa parceria. Rodamos ainda na pandemia, quando havia uma tensão constante no ar e um clima de Brasil devastado. Essa própria sensação se reflete na tela". 

Sobre essa sensação, Cariry avalia: "O filme aponta caminhos. A vida real dos personagens é difícil e eles enfrentam situações muito complexas. Por isso é tão pesado – mas sem ser pessimista. No fim, perspectivas afetivas se abrem". E ele acrescenta: "Na família disfuncional que apresentamos, o papel feminino é importantíssimo. As mulheres criam uma rede de apoio em cima daquele mundo patriarcal, machista, de homens brutos, onde estão sempre em situações-limite. Elas estão em uma rede de proteção, se compreendem e não se julgam". 

Em um dos papéis principais do filme, o ator Matheus Nachtergaele destacou que a subjetividade da história é participante integral da experiência, e que ver filmes assim está cada vez mais raro: "O Petrus não obriga os espectadores a acompanharem uma história e, sim, junto dos personagens, refletirem sobre a vida durante a contação de uma história. Nesse caso, não havia uma construção neurótica, realista e psicológica determinada pelo roteiro ou pelo diretor, e sim espaços, tanto para mim quanto para a Ana, colocarmos nossas subjetividades. Trabalhei compondo com o Petrus as pinturas dele, sem atrapalhá-lo com a psicologia do personagem. Pude fazer um trabalho muito feliz no sentido de voltar a filmar apesar dos perigos da pandemia e de fazer um filme raro, de artes, com tempos – coisas que sei que serão cada vez mais raros. De maneira ampla e poética, pude jogar minhas angústias no personagem". 

A atriz Ana Luiza, por sua vez, concordou e acrescentou: "A paisagem do filme, que apresentava um horizonte tão vasto, nos ajudava a criar espaços – olhar grande, respirar, se expandir. Foi um processo forte e afetuoso. A gente discutia muito a narrativa. O tempo inteiro. Petrus sabia o que queria, mas sem apegos aos planos. E eu sei como ele filma bem o Sertão, então tinha certeza que ficaria muito bonito". 

Por fim, a produtora Bárbara Cariry observou que filmar no Sertão sempre tem suas dificuldades, mas que eles já têm uma história nesse sentido. "E nesse caso, o grande diferencial foi a equipe técnica e o elenco. Contamos com muitos parceiros generosos. Quando temos dificuldades, parceria e generosidade são coisas que fazem a diferença. Foi o encontro de uma enorme família de cinema com o desejo de contar boas histórias, caminhar pra frente e resistir", concluiu. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui