Primeiro longa do fotógrafo Klaus Mitteldorf como diretor estreia no Festival de Gramado

Gramado, RS - 19/08/2019 - 47º Festival de Cinema de Gramado - Equipe do Longa-metragem brasileiro Vou Nadar Até Você - Diretor Klaus Mitteldorf - Foto: Edison Vara / Agência Pressphoto

Na noite da última segunda-feira, 19 de agosto, "Vou Nadar Até Você", longa de estreia do fotógrafo Klaus Mitteldorf como diretor, foi exibido pela primeira vez para o público no Palácio dos Festivais, em Gramado, durante a programação de longas-metragens brasileiros da 47ª edição do Festival de Cinema. Equipe e elenco estiveram presentes na sessão – entre eles, Bruna Marquezine, protagonista, que teve com a obra sua primeira experiência de atuação para o cinema.

A trama narra a trajetória de Ophelia (Bruna), uma fotógrafa de Santos que descobre que Tedesco (Peter Ketnath), o pai alemão que nunca conheceu, está em Ubatuba. Ela lhe envia uma carta contando sua história e decide ir a seu encontro à nado. No caminho, é seguida por Smutter (Fernando Alves Pinto), rapaz que mantém uma estranha relação com Tedesco. Durante o percurso, a jovem reflete sobre a busca por seu pai por meio da fotografia ao mesmo tempo em que encontra pessoas que fizeram parte da vida dele no período em que esteve no Brasil.

O longa traz referências do repertório e das obras fotográficas de Mitteldorf, como a exposição "O Último Grito", de 1998, e a série "A Morte de Ophelia", de 1992, conferindo a ele uma linguagem bastante autoral. "O filme foi todo montado em cima dessa história de fotografia. Tem trabalhos que eu fiz, chamando atenção a alguns fatos como a transição de fotografia analógica pro digital. O assunto principal, pra mim, é o que os fotógrafos pretendem ao fotografar alguém, o que a fotografia deles realmente capta. Por isso os personagens são todos ligados à fotografia. Cada um tem um pouco de mim.", conta Klaus, diretamente de Gramado, em entrevista exclusiva para TELA VIVA.

Ainda dentro desse assunto, ele destrincha: "Um dos personagens, Tedesco, é um documentador aparentemente bem sucedido. A questão é que ele nunca conheceu direito as pessoas que fotografou e documentou, o que acontece muito no fotojornalismo – sei porque também trabalhei na área. Isto é, na pressa do dia a dia, fotografamos pessoas e não sabemos quem elas são. Um dos motivos que me levaram a fazer esse filme foi esse: investigar quem são as figuras que eu documento, contar essas histórias.".

Mitteldorf, que esteve na sessão de estreia em Gramado, disse que percebeu esse viés da fotografia por si só, como se ela não retratasse pessoas reais, com histórias próprias, na reação do público que assistiu ao filme. "Muita gente elogiou o longa para mim dizendo que a fotografia dele é linda. Mas, nesse encantamento, o público se distrai e esquece da história que tem por trás dela. É justamente essa discussão que eu trouxe à tona. Meu filme fala sobre isso. Foi a partir desse meu próprio questionamento que surgiu minha vontade de trabalhar com longas-metragens.", justifica. Para ele, existe ainda um contraste de gerações diante dessa questão. "A Ophelia, que é jovem, tem essa curiosidade de saber quem são as pessoas que ela fotografa, preocupação que o Tedesco não tem. É uma característica da nova geração mesmo, querer saber quem está por trás das telas.", pontua.

A primeira experiência de Klaus como diretor foi positiva e, por isso, ele revela já ter outros dois projetos em andamento: "Aprendi com esse filme que, com cinema, você tem que ter coisas sempre engatilhadas, já que os processos são demorados e imprevisíveis. É necessário ir adaptando o projeto no meio do caminho. Nós começamos a filmar em 2016, mas a realidade hoje, no ano de estreia, é outra. Isso é muito importante na hora de fazer um filme: você saber se adaptar e falar com as pessoas na época em que ele vai ser lançado. A linguagem precisa ser atualizada.".

O produtor executivo Luciano Patrick, que assina ainda a codireção da obra, também falou à TELA VIVA com exclusividade. "Meu primeiro contato com o filme foi pela Coração da Selva (uma das produtoras). Meu trabalho lá sempre foi voltado pro artístico – apesar de assinar muitos projetos como produtor executivo, sempre estive envolvido na parte de roteiros, escolha de casting e locações, e muito próximo dos diretores. Esse cuidado com o artístico está no DNA da produtora.", contou. "No caso desse filme, eu comecei fazendo um desenho de produção, traduzindo o que poderíamos potencializar. Conforme ia trabalhando com o Klaus, notei que pensávamos parecido e, muitas vezes, estávamos em processos complementares. O trabalho conjunto foi natural e orgânico.", completou.

Para Patrick, a história da Ophelia se mistura com a dele, que também conheceu o pai recentemente, e com a de Bruna Marquezine. Klaus concorda: "A Bruna conversou muito com a gente sobre autoconhecimento – pra ela, o processo de autoconhecimento da personagem aconteceu com ela própria. E nós sentimos isso desde o começo do trabalho. Foi como se o personagem a tivesse encontrado. Todos fomos nos reconhecendo no caminho, o que nos levou a produzir mais e com mais empolgação.". Patrick acrescenta: "O filme foi um processo de autoconhecimento geral, nos reconhecemos uns nos outros e solucionamos juntos os problemas de forma muito criativa, adaptando as logísticas e as ideias.".

"Vou Nadar Até Você" foi produzido pela Coração da Selva, Mar Filmes e Norami Filmes em coprodução com a 20th Century Fox. A distribuição é da Elo Company e o patrocínio da Pernambucanas. A obra contou ainda com apoio do BRDE, FSA, Ancine e BNDES.

A previsão de estreia do filme no circuito comercial é para o segundo semestre de 2019, ainda sem mês definido.

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