"Nosso Sonho", cinebiografia de Claudinho e Buchecha, estreou nos cinemas de todo o país na última quinta-feira, dia 21 de setembro, com distribuição da Manequim Filmes e produção de Leonardo Edde. Dirigido por Eduardo Albergaria ("Happy Hour – Verdades e Consequências") o filme é produzido pela Urca Filmes em coprodução com a Riofilme, Telecine e Warner Bros Distributing, com apoio da Globo Filmes e com investimentos do Fundo Setorial do Audiovisual e BBDTVM. O argumento é de Fernando Velasco, que também assina o roteiro ao lado de Eduardo Albergaria, Daniel Dias e Mauricio Lissovsky.
Contado a partir do ponto de vista de Buchecha, "Nosso Sonho" destaca a força de superação da dupla e resgata a história por trás da fama que pouca gente conhece, desde a amizade ainda na infância, em uma comunidade de Niterói, até a conquista do Brasil todo com a poesia da periferia. O público também conhecerá como foram compostas algumas das canções que conquistam gerações até hoje.
Os protagonistas Lucas Penteado e Juan Paiva dão vida a Claudinho e Buchecha na tela grande e cantam sucessos da dupla como "Só Love", "Coisa de Cinema" e "Nosso Sonho", que dá título ao filme. O elenco conta ainda com Tatiana Tiburcio, Nando Cunha, Lellê, Clara Moneke, Vinicius "Boca de 09" e Gustavo Coelho e participações especiais de Antonio Pitanga, Isabela Garcia, Negão da BL, FP do Trem Bala, Gabriel do Borel, Flávia Souza e Reinaldo Júnior. Assista ao trailer:
"Lá atrás, quando o Fernando Velasco trouxe a ideia inicial, muita coisa logo veio no nosso coração: a emoção dessa história brasileira de superação, da periferia, e super positiva, que nos leva para um lado totalmente afetuoso e de respeito, de desenvolvimento das pessoas, da arte e da cultura da periferia. Até então, a grande maioria dos retratos da periferia eram só com o lado da violência, da arma. Uma caricatura. Mas esse filme traz a alegria de dois moleques nessa relação que potencializa tudo. Claro que ele tem todas as partes tristes da história, mas o que fica é uma mensagem de esperança, um norte. Ainda mais depois de toda loucura que vivemos nos últimos seis anos, com questões políticas e a pandemia. É um túnel pra gente sair do outro lado e sentir esperança de novo", refletiu o produtor Leonardo Edde em entrevista para TELA VIVA.
O diretor e roteirista Eduardo Albergaria acrescentou: "Acho que 'Nosso Sonho', como o próprio título diz, nos convida a sonhar de novo coletivamente. É um filme que ilumina um Brasil que esquecemos que existe. É uma redescoberta de um Brasil que eu, particularmente, sinto orgulho. De um lado muito simples e verdadeiro, contando a história de Claudinho e Buchecha, o filme faz um convite para lembrarmos de quem a gente é de verdade, da natureza afetuosa do brasileiro. Há pouco tempo – apesar de parecer que faz muito – a identidade brasileira era isso: felicidade e alegria enquanto resistência, como modo de vida. Esses dois meninos captaram essa identidade brasileira naquela época". Ele prosseguiu: "É curioso que os anos 90 foram anos difíceis politicamente e economicamente, mas a memória afetiva que temos desse período é objetivamente muito diferente da que estamos construindo dessa época que acabamos de viver. De alguma maneira, é um modo de olhar a vida. E eu acho isso muito potente".
Albergaria também falou sobre essa questão do retrato da periferia: "A história de Claudinho e Buchecha nos lembra que a realidade não é só isso, essas questões que nos atravessam todos os dias nos jornais. Não é justo que a periferia fique aprisionada nessa identidade violenta. São pessoas que trabalham e que sonham. O Brasil periférico deve reivindicar um lugar mais positivo no nosso senso comum. O Lucas (que interpreta o Claudinho) me disse que esse filme vai salvar a vida de muitas pessoas. E eu e o Leo temos o privilégio e a honra de sermos instrumentos de tudo isso. É o que precisamos para recuperar esse Brasil que não desapareceu – ele sempre existiu, a gente só cobriu com um manto".
Estigma do funk
O diretor avalia que Claudinho e Buchecha entenderam emocionalmente que a alegria e a fé podem ser arbitrárias, e que isso tem uma potência absoluta. "A atitude positiva que eles mantinham perante à vida transformava todo o entorno", observou. Nesse sentido, ele chama a atenção para a ligação entre o funk que eles cantavam com toda essa potência. "Esse gênero, que é tão brasileiro, ainda é muito estigmatizado por nós até os dias de hoje. O lugar do funk já existe, a gente que não se dá conta. Talvez ele seja o principal diálogo da cultura brasileira com o mundo, mas não damos valor. Estamos condicionados a determinados olhares e atitudes", pontuou.
"Isso é extra-filme, mas acredito que esse seja o papel da cultura e o nosso, enquanto produtores, que é provocar algumas questões e fazer perguntas. Pra gente se dar conta coletivamente de coisas que fazemos e que não fazem o menos sentido. O Buchecha me falou que o 'Nosso Sonho' é um filme de cura. Se a gente chegar perto disso, já ficamos muito felizes", concluiu.