Países do Mercosul apresentam demandas semelhantes no setor audiovisual 

Joelma Gonzaga, do Brasil; Facundo de León, do Uruguai; Christian, Paraguai; e Nicolas Battle, da Argentina (Foto: Divulgação FAM)

A Mesa "RECAM 20 Anos" reuniu autoridades do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina para debater as novas agendas para a integração do RECAM – Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul. O bate-papo aconteceu na última sexta-feira, dia 22 de setembro, durante o Encontro de Coprodução do Mercosul – ECM+LAB, evento de mercado que faz parte da programação do Festival FAM – Florianópolis Audiovisual Mercosul. A Secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Joelma Gonzaga, esteve presente no painel e falou sobre o trabalho que tem sido feito em relação a pautas de fomento, difusão e internacionalização da produção brasileira

Com as falas dos representantes do Paraguai, Uruguai e Argentina somadas à apresentação da secretária Joelma, ficou claro que há muitos desafios e objetivos em comum entre os quatro países. Facundo Ponce de León, Presidente da Agência de Cinema e Audiovisual do Uruguai (ACAU) pontuou justamente o RECAM é o lugar para entender quais são essas prioridades e como os territórios podem agir em conjunto. "Nosso grande objetivo é o desenvolvimento da cultura como uma missão internacional. A nossa diferença para os outros países aqui presentes é que nosso mercado é bem pequeno – somos três milhões de habitantes. Por isso acordos internacionais são essenciais para nós", afirmou. 

Entre os principais desafios que enfrenta, León citou que, no Uruguai, 75% das obras audiovisuais foram feitas com dinheiro dos fundos públicos, mas que 97% desses fundos públicos estão concentrados em produção. "É um diagnóstico grave. Precisamos cuidar também do que se passa antes e depois da produção. É uma decisão de política pública importante", alertou. 

Em sua fala, ele também destacou o desafio da questão dos direitos autorais dos conteúdos para as grandes plataformas de streaming e a importância de que cada país mantenha as propriedades intelectuais daquilo que produz: "Estamos falando de identidade cultural. Vamos trabalhar nessa intersecção entre indústria e cultura, pois somos as duas coisas. Audiovisual gera identificação cultural, e as políticas públicas têm que encontrar uma maneira de defender esse valor intangível. As políticas vigentes servem como trampolim para outras coisas se desenvolverem no sentido da cultura e da criação da identidade latino-americana". 

Iniciando sua fala em Guarani, o Presidente do Instituto Nacional de Audiovisual do Paraguai – INAP, Christian Andrés Gayoso Rojas, deu destaque à pauta de inserção audiovisual, que envolve, sobretudo, os povos originários do território do país. Rojas enfatizou a necessidade de fortalecer a produção de um Cinema Indígena de fato, para além do Cinema "sobre temática indígena", reconhecendo efetivamente os povos originários que compõem seus territórios e garantindo que a formação audiovisual chegue a essas comunidades. Ele também lembrou a relevância da RECAM na instalação da Direção Audiovisual no Paraguai e a comemoração de 20 anos do órgão.

Já o Presidente do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais da Argentina – INCAA, Nicolas Battle, ressaltou a importância da volta das reuniões presenciais da RECAM e destacou o bom momento do Brasil: "O Brasil voltou com toda a sua potência cultural, com toda a sua potência cinematográfica, e isso nos estimula muito. Sinto a energia renovada nesse espaço da RECAM que compartilhamos, em que nos sentimos como irmãos. Para nós, é fundamental estarmos juntos, nos vendo olho no olho, e poder debater políticas, avaliar o que estamos fazendo e pensar nos desafios do futuro". Battle ainda enfatizou a potência desses ambientes para firmar e avançar em acordos de coprodução, e "não pensando só na produção, mas também na circulação das obras audiovisuais. Temos pela frente o desafio de fortalecer as redes de salas de cinema do Mercosul". 

O Presidente do INCAA comentou que, no caso do seu país, as principais pautas são reduzir as assimetrias geográficas – na Argentina, 85% dos recursos são voltados para Buenos Aires e arredores, por isso o desafio de trabalhar nessa descentralização; a perspectiva de gênero, garantindo que haja mais espaço para mulheres na direção e que o audiovisual seja mais igualitário; e as agendas relacionadas à sustentabilidade no setor. 

Nesse sentido, León também enfatizou a importância da pauta, dizendo que como adaptar atitudes mais sustentáveis às realidades locais deve ser um dos maiores objetivos do Mercosul como um todo. "Precisamos entender como medir as coisas – a energia que se usa, a quantidade de recibos que se emite, os deslocamentos. E, depois, como reciclar e compensar", pontuou. 

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