A programadora Curta!, responsável pelo canal Curta! e marcas de streaming já consolidadas no cenário nacional, se manifestou sobre a ausência, pelo segundo ano consecutivo, de suas plataformas no Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2023, realizado pela Ancine.
A este noticiário, o sócio fundador do Curta! Júlio Worcman afirmou que, ao desconsiderar plataformas muito relevantes para a distribuição do conteúdo nacional e independente, o estudo é inválido para subsidiar a regulamentação do VOD, incluindo políticas de incentivo ao conteúdo e às plataformas nacionais. "Eu entrego os dados das plataformas sem cobrar nada por isso", ironiza.
O Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2023 aponta que, em termos proporcionais, a plataforma brasileira Box Brazil Play se destaca com 41,3% de conteúdo local em seu catálogo, seguido por Globoplay (35,2%) e Libreflix (31,9%). Segundo o fundador do Curta!, o CurtaOn, se fosse considerado no levantamento, lideraria o ranking com 71% de obras nacionais independentes, com 860 títulos de um catálogo com quase 1,2 mil obras.
"A maioria dos títulos brasileiros no CurtaOn não está em outras plataformas", destaca Worcman. Portanto, se o CurtaOn estivesse considerado entre os 25 principais serviços brasileiros incluídos no levantamento, o Panorama seria diferente. O estudo destaca que, entre os 24 principais serviços, o total de plataformas brasileiras oferece 1,8 mil obras brasileiras independentes de espaço qualificado e 991 obras brasileiras não-independentes ou comuns, em um total de cerca de 14 mil obras disponibilizadas. Com a inclusão do catálogo da plataforma, calcula Worcman, adicionar-se-ia quase 10% ao total de obras disponibilizadas, com mais 1270 obras; e 30% no total de obras brasileiras independentes, com 860 obras produzidas com apoio do Fundo Setorial do Audiovisual e disponibilizadas pelo CurtaOn.
Outra plataforma do grupo Curta!, a PortaCurtas, também desconsiderada no levantamento, é outra que impactaria os dados da cena do conteúdo nacional disponibilizado no VOD: são 1.217 filmes nacionais de todos os gêneros, no formato de curtas-metragens, todos exibidos em festivais e com Certificado de Produto Brasileiro emitido pela Ancine.
As plataformas Curta!
Worcman destaca que a plataforma PortaCurtas foi pioneira, tendo estreado em 2002, três anos antes do YouTube, e conta com 1.217 filmes de curta-metragem de todos os gêneros, todos brasileiros, independentes e com Certificado de Produto Brasileiro (CPB) emitidos pela Ancine. Na internet, conta com 250 mil usuários ativos cadastrados e ainda está distribuída na ClaroTV+. "Deverá distribuir a partir de 2024 perto de R$ 300 mil em royalties aos produtores dos filmes incluídos", diz.
Já o CurtaON, no ar desde novembro de 2019, conta com 1.174 filmes de longa-metragem ou episódios de série documentais disponíveis, sendo 860 brasileiros independentes e com CPB, a maioria produzidos de 2015 para cá com o apoio do Fundo Setorial do Audiovisual. Só na Claro, conta com 18 mil assinantes, além de outros 2 mil no site próprio. A plataforma foi recém lançado na Amazon Channels. A marca deverá distribuir em 2024 perto de R$ 600 mil em royalties por ano aos produtores dos documentários.
A plataforma CurtaEdu disponibiliza conteúdos audiovisuais classificados pela Base Nacional Comum Curricular para utilização por professores em projetos pedagógicos em salas de aula. A plataforma é SVOD B2B2C e tem como clientes redes de ensino públicas e grupos de escolas nos níveis infantil, fundamental I e II e ensino médio. Oferece filmes distribuídos entre as etapas educacionais. Para o infantil e pré escola, disponibiliza séries de animação nacionais de sucesso como "Peixonautas", "PlanetaPalavra" e outras.
Além disso, o grupo Curta! lançará este ano uma nova marca, a Brasiliana TV, dedicada 100% ao conteúdo nacional em todos os gêneros, exceto no formato de curtas-metragens. O catálogo será distribuído também pela ClaroTV e deverá atingir brevemente 500 títulos. Distribuirá anualmente perto de R$ 600 mil em royalties aos produtores dos filmes incluídos.
"Resumindo, a equipe da programadora Curta! considera que o Panorama contratado e divulgado pela Ancine 'contribui para a ignorância sobre uma parte importante do mercado nacional de VOD e portanto não deve servir de subsidio para nortear ações regulatórias ou de políticas públicas de fomento à difusão do audiovisual nacional, podendo levar a equívocos importantes'", diz.
Outro lado
Em nota de esclarecimento, a Ancine confirma que as plataformas do Curta! não são mapeadas pela empresa que monitora e compartilha com a Ancine informações sobre catálogos de serviços de VOD, a BB Media. No estudo, inclusive, a agência reforça a necessidade do aprimoramento das fontes de informações primárias.
"A Ancine entende que a amostra utilizada é significativa para o mercado de VOD no país, contemplando empresas nacionais e estrangeiras, além de várias empresas menores e de nicho. As informações são qualificadas e contribuem para as análises de cenário", aponta.
Monopólio dentro do monopólio.