Produtora de "Benzinho" estreia "Família Submersa" nos cinemas brasileiros

No último ano, o filme "Benzinho", de Gustavo Pizzi, foi um dos maiores sucessos do cinema nacional – ele passou, por exemplo, pela World Dramatic Competition em Sundance e levou os prêmios de Melhor Filme pela Crítica, Melhor Filme pelo Júri Popular, Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Cinema de Gramado. Agora, a produtora do longa, Tatiana Leite, estreia no Brasil uma nova coprodução internacional que já chega em solo nacional com uma bagagem internacional relevante.

"Família Submersa", de María Alché, é uma coprodução entre Argentina, Brasil, Alemanha e Noruega e estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 04 de abril. O filme já passou pela Competição Novos Diretores do Festival de Locarno, faturou o prêmio de Melhor Filme na Mostra Horizontes Latinos do Festival de San Sebastian, recebeu uma menção especial no Festival de Valdívia e sua direção foi eleita a melhor no Festival Internacional de Cine Unam, no México. Para Tatiana, o longa ter passado por festivais e ganhado prêmios funciona como uma "baliza" em solo nacional – como se fosse um selo de "merece atenção". Em entrevista exclusiva ao TELA VIVA, a produtora comemora o fato do filme ter começado sua carreira internacional em agosto do ano passado e reforça que esse caminho longo já não é tão comum no meio: "Há muitos filmes sendo feitos hoje, no mundo inteiro. Tem sido mais raro títulos se repetindo em premiações. Antes, a obra era lançada, fazia um ano e pouco de carreira em festival. Hoje, são tantos que essa trajetória diminuiu. Então é interessante ver um filme se afirmando assim, por tanto tempo.".

No enredo de "Família Submersa", Marcela (Mercedes Morán) perde sua irmã Rina e fica totalmente abalada com o acontecimento. Mas sua rotina segue – ela precisa ajudar os filhos, fazer as tarefas de casa e, agora, esvaziar o apartamento da irmã. No processo, Marcela acaba se apoiando em Nacho (Esteban Bigliardi), um jovem amigo de seus filhos. Conforme o tempo passa, o passado e o presente da moça se entrelaçam e ela começa a questionar sua própria natureza. Mercedes, a protagonista, e Maria, a diretora, já tinham trabalhado juntas em "La Santa Ninã" como atrizes – mas essa é a primeira experiência de Maria como diretora. "Fiquei impressionada com as primeiras imagens que vi do filme. Ele tem um diferencial e não parece ser uma primeira experiência de direção de longa.", conta Tatiana, que acompanhou o processo desde a escritura do roteiro. Sobre as possíveis comparações com "Benzinho", a produtora analisa: "São filmes diferentes, mas curiosamente têm em comum protagonistas que são mães de família e estão, no momento, questionando seus outros espaços na sociedade para além da maternidade. Ambas as obras retratam como elas vão lidando com isso.".

De forma não proposital, o filme contou com uma equipe formada essencialmente por mulheres, com destaque para a diretora de fotografia Hélène Louvart e para a montadora brasileira Lívia Serpa – a mesma de "Benzinho", "Divino Amor" e "Santiago". Fazem parte do time ainda a diretora de arte Mariela Ripodas, a desenhista de som Julia Huberman, a produtora Bárbara Francisco e a assistente de direção Victoria Comune.

A obra é assinada pela Pasto, da Argentina, com coprodução com a brasileira Bubbles Project (de Tatiana), a alemã Pandora Film Production e a norueguesa 4 1/2 Films, além da produtora associada TvZero. A Esfera Filmes é a distribuidora. O filme teve ainda apoio do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais e seu projeto foi vencedor do Concurso INCAA – ANCINE, FSA, BRDE, SorFond (Noruega), Visions Sud Est (Suíça), Film und Medien Stiftung NRW (Alemanha). Sobre as coproduções como um evidente caminho de sucesso para o cinema nacional, Tatiana discorre: "Nunca estivemos tão próximos de outros países, especialmente na América Latina. Finalmente chegamos a um estágio em que podemos colaborar com filmes do mundo inteiro. E isso é importante não só para a produção do filme brasileiro, mas também para esse processo de troca e amadurecimento com outras cinematografias. Em projetos que originalmente são de outros países, nós, brasileiros, estamos contribuindo artística e tecnicamente, e viabilizando coproduções que fazem a diferença. Nos últimos três anos o mercado internacional de cinema lançou projetos com coproduções brasileiras em diferentes frentes. Hoje, o Brasil está tão inserido nesse contexto como qualquer outro país. O interesse do mundo pelo nosso cinema está crescendo para além do continente e chegando na Europa e na Ásia, por exemplo. O cinema nunca foi tão híbrido.". A produtora conta ainda que, para o mercado de fora, o cinema brasileiro está mais diverso e propondo mais linguagens do que o restante da América Latina, e essa opinião está diretamente ligada com essas coproduções. "Pela primeira vez em muitos anos sinto que há uma representação dessa diversidade não só na linguagem, mas nos universos.", conclui.

A Bubbles tem uma série de projetos em desenvolvimento nos quais atua como coprodutora minoritária e majoritária – entre os títulos com lançamento previsto para breve estão "Nona: Se me Molham, eu os Queimo", uma coprodução com o Chile que já está em circulação pelos festivais internacionais e contará com distribuição da Vitrine. A produtora também está finalizando "Cora" de Matias Mariani e Gustavo Rosa de Moura, e desenvolvendo os projetos "Outros Tempos", de Christiane Jatahy; "A Herança", de João Cândido Zacharias; "Neuros", de Guilherme Coelho; e "Regra 34", de Julia Murat.

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