O Rio2C, um dos maiores eventos de inovação da América Latina, foi realizado no Rio de Janeiro ao longo da última semana, em sua primeira edição presencial desde o início da pandemia. Executivos de grandes empresas do audiovisual, especialmente das principais plataformas de streaming do Brasil, estiveram presentes no evento, participando de painéis, palestras e debates e apresentando seus projetos mais recentes e planos para os próximos meses. Ao observar a lista de estreias futuras de plataformas como Netflix, HBO Max, Paramount+, Prime Video e Globoplay, é nítido o investimento em produções originais nacionais, com talentos já conhecidos do público brasileiro, histórias que permeiam nossa cultura e formatos que costumam registrar bons números de audiência por aqui.
A Netflix, por exemplo, anunciou duas estreias de peso: “Só se for por amor”, série que buscou no estilo musical do “sertanejo sofrência” a inspiração para contar uma história sobre corações partidos, sonhos, ambição e fama, e um projeto de ficção, com título ainda em definição, inspirado na tragédia que ficou conhecida como a “Chacina da Candelária”, que traz Luis Lomenha como showrunner e Jabuti Filmes e Kromaki na produção. Mas a grande aposta da plataforma está mesmo nos títulos de comédia, em um movimento bastante encorajado pelo sucesso de “A Sogra que te Pariu” – a primeira temporada da série atingiu a marca de mais de 11 milhões de horas assistidas apenas na sua semana de estreia e alcançou o sexto lugar no Top 10 Global de séries de língua não-inglesa da plataforma de streaming. Durante o evento, Elisabetta Zenatti, vice-presidente de Conteúdo da Netflix no Brasil, confirmou a produção da segunda temporada da série do ator e roteirista Rodrigo Sant’Anna. Um especial de comédia do talento, intitulado “Cheguei”, também aparece entre os próximos lançamentos da plataforma, com estreia prevista para 19 de maio. “Teremos especialmente neste ano uma grande parte da nossa programação dedicada à comédia”, adiantou Zenatti.
Um tema muito sensível no que diz respeito às produções originais dos serviços de streaming é o tipo de contrato que eles firmam com as produtoras independentes. Nesse sentido, a executiva da Netflix comentou: “Existem muitos modelos de negócio possíveis e nós estamos abertos a novas possibilidades. Há o modelo de produção de original Netflix, já estabelecido, onde entramos desde o começo no desenvolvimento da produção e trata-se de um trabalho efetivamente feito em parceria; também estamos abertos a licenciamento, onde não há todo esse envolvimento da Netflix na produção, que é de responsabilidade do produtor; e as coproduções. Existe abertura para novos modelos, só precisamos realmente desenhar como será essa parceria como ela se monetizará, porque estamos falando de modelos diferentes de aporte por parte da Netflix e de direitos. É uma equação que precisa ser equilibrada para as duas partes”.
Já a HBO Max deixou clara a intenção de investir mais em conteúdos de não-ficção, especialmente no gênero de true crime, e anunciou durante o evento “Pacto Brutal”, produção inspirada no caso do assassinato da atriz Daniella Perez, e a série documental “PCC – Poder Secreto”. Verônica Villa, head de desenvolvimento de não-ficção para a HBO Max do Brasil, falou sobre “Pacto Brutal”, que ela definiu como um projeto muito potente: “Fechamos uma parceria com a Glória Perez, que teve licença da Globo para trabalhar conosco. Ela deu um depoimento muito verdadeiro e visceral sobre esse caso, como se estivesse fechando um ciclo. Ela foi muito participativa no processo, praticamente se converteu em uma investigadora profissional. Levantou muito material de fotos, vídeos, arquivos, clipping de imprensa. Foi uma base excelente para prepararmos o projeto, que se baseia nos autos do processo, e não na versão de um ou de outro”. Já “PCC – Poder Secreto” estreia já agora no mês de maio, narrando a trajetória da maior organização criminosa do Brasil e da América do Sul. “O diferencial do projeto é que temos uma perspectiva de dentro do PCC, com acesso a ex-integrantes, além de pessoas e famílias que tiveram suas vidas atravessadas pelo comando”, disse Verônica.
Outra estreia próxima da plataforma da HBO – dessa vez fora do gênero true crime mas ainda dentro do formato não-ficção – é o reality “A Ponte – The Bridge Brasil”, com apresentação do ator Murilo Rosa e produção da Endemol Shine Brasil. Na dinâmica do programa, 12 participantes, entre anônimos e famosos, devem conviver juntos por 20 dias em uma pequena casa, no meio da floresta, e cumprir um desafio: construir uma ponte de 250 metros que vá da casa até uma ilha, onde está um baú com 500 mil reais. Chegando lá, eles devem decidir quem do grupo será o vencedor do prêmio – este, pode decidir ficar com o valor integral ou dividir da maneira que julgar melhor. Mas ao longo do processo, dilemas e enigmas vão surgindo, e fatores como fome e a convivência podem acabar impactando a missão.
“Caçula” entre os serviços de streaming presentes no Rio2C, o Paramount+ conta com nomes fortes de mulheres da indústria audiovisual nacional para comandarem suas produções: Maria Angela de Jesus é a diretora sênior de conteúdo e gestão de produção do VIS Brasil e Tereza Gonzales é a diretora sênior do grupo. Pode-se dizer, aliás, que a presença feminina é marcante na plataforma: sua primeira série original, “As Seguidoras”, lançada em março deste ano, foi dirigida por Mariana Youssef e Mariana Bastos, criada por Manuela Cantuária e protagonizada por Maria Bopp.
Definindo seu interesse em conteúdos “autênticos e relevantes”, o VIS, que vem de produções para TV, YouTube e streaming, pretende trazer esse viés de “falar com todo mundo” também para as produções do Paramount+. Entre os próximos projetos a serem lançados para a plataforma, estão o longa de comédia “Vai Dar Nada”; a série documental “Adriano, Imperador”; uma adaptação audiovisual do livro “Marcelo Marmelo Martelo”, de Ruth Rocha; uma série sobre o lutador Anderson Silva, o Spider; e “Escola de Quebrada”, longa produzido em parceria com KondZilla. Ou seja, ainda não há uma linha específica de gêneros ou formatos. “Nosso line-up revela uma diversificação de projetos. Tem série, documentário, longa, produção infantil… Por isso estamos abertos para as produtoras. Podem nos apresentar o que quiserem, sem limites. Contanto que o projeto seja bom”, confirmou Tereza Gonzales durante o evento.
Por fim, o Prime Video promoveu um painel de destaque no Rio de Janeiro, listando quatro estreias inéditas, duas novas temporadas de séries já consagradas na plataforma e três novas contratações, além de um portal de submissão de projetos aberto a produtoras independentes – o que indica que o fôlego da empresa para produzir localmente ainda vai longe. As estreias inéditas – “Caravana das Drags”, “Novela”, “Amar é para os fortes” e “Cangaço Novo” – junto das novas temporadas de “DOM” e “Manhãs de Setembro” mostram que, de forma direta ou mais indireta, temas sociais estão bem presentes nas obras originais do Prime Video.
Observando os próximos lançamentos da plataforma, bem como recentes iniciativas, tais como Tiago Leifert e Casimiro narrando e comentando, respectivamente, uma partida da Copa do Brasil; o “Luva de Pedreiro”, figura famosa da internet, anunciado como garoto propaganda da competição no Prime Video; e a contratação de talentos muito conhecidos do público brasileiro, como Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães, além de Fabiana Karla, anunciada durante o próprio evento, é possível afirmar que uma das estratégias da Amazon no Brasil é manter-se atenta ao que está em alta nas redes sociais e até na TV para criar novos produtos e ações com força capaz de atrair o grande público. Vale mencionar que os valores praticados pela plataforma – R$14,90 no plano mensal e R$119 no plano mensal, em números recém-atualizados – ajudam nesse sentido.
“Estamos há três anos no Brasil e investindo em conteúdos originais locais de brasileiros para brasileiros. Acreditamos que quanto mais autênticos somos, mais viajamos pelo mundo contando nossas histórias. Por isso, estamos constantemente criando oportunidades para roteiristas, diretores, produtores, atores, atrizes e criadores de conteúdo. Nos definimos como home for talent, um lar para os talentos contarem suas histórias”, declarou Malu Miranda, head de conteúdo original para o Brasil do Amazon Studios.
O Globoplay – caso à parte entre as empresas, uma vez que trata-se de uma empresa 100% brasileira – faz parte do Grupo Globo, que quer e precisa trabalhar com a produção independente e pretende ampliar os orçamentos das parcerias, atingindo valores de três a cinco milhões por episódio. A mensagem foi passada ao mercado por Erick Brêtas, diretor de produtos digitais e canais pagos da Globo, responsável também pela Globo Filmes.
Em 2022, a Globo realizará 194 produções em parceria com o mercado independente, das quais 17 serão para o Globoplay – um número bem representativo. Entre as novidades de séries originais para a plataforma, está “Rensga Hits!”, uma produção com a Glaz Entretenimento; “O jogo que mudou a história”, sobre facções criminosas no Rio, com produção da Afroreggae; e uma produção biográfica sobre a Xuxa, em parceria com a Gullane. Já entre os filmes, os títulos anunciados para o streaming foram “Ainda estou aqui”, adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva com direção de Walter Salles e produção da Videofilmes e RT Features; “Enterre seus mortos”, baseado no livro de Ana Paula Maia, também com a RT Features; e “Dona Vitória”, longa que marca a volta da atriz Fernanda Montenegro, em uma parceria de produção com a Conspiração Filmes e My Mama (este projeto será lançado tanto no Globoplay quanto na TV Globo).