Teles brasileiras terão de correr para migrar para o IPv6, diz NIC.br

Com cerca de oito milhões de endereços IPv4 sobrando no Brasil, o esgotamento de novos números com esse protocolo está previsto já para o dia 15 de maio, segundo previsão do LACNIC, bloco regional da Internet Assigned Numbers Authority (IANA). Para o NIC.br, as empresas de telecomunicações perderam 15 anos de avisos para começarem a migração para o IPv6, e agora terão de correr e gastar mais para adotar o novo padrão de protocolo. E não foi por falta de aviso.

O alerta foi intensificado nos últimos anos, mas não parece ter surtido grandes efeitos. "Há dois anos e meio tentamos acordos com operadoras para uma implantação mais rápida, mas infelizmente isso não aconteceu", revela o analista de projetos do CEPTRO.br e do NIC.br, Edwin Santos Cordeiro, durante congresso de provedores da Associação Brasileira de Internet (Abranet) em São Paulo nesta quinta, 10. "Esses 15 anos que você usou para não colocar o IPv6, você vai ter que colocar agora em um ano e com gastos muito maiores", detalha.

A questão é que a maioria dos endereços IP atualmente são da quarta versão, mais antiga. Mas a partir do momento em que grandes sistemas autônomos (AS) e companhias de Internet como Facebook e Google passarem a oferecer conteúdo exclusivamente por IPv6, as operadoras que não tiverem migrado não conseguiram levar esse conteúdo ao usuário. "Você não vai conseguir manter seu negócio e seus clientes fiéis", declara Cordeiro.

O analista afirma que é possível adotar o padrão no Brasil, citando o progresso do Parque Ecológico de Itaipu, um AS com usinas e parque tecnológico em Foz do Iguaçu (PR) que têm 87% do projeto concluído. Mas isso parece ser exceção. "No País temos alguns pequenos e médios provedores com IPv6 ativo. Os grandes estão trabalhando para isso, com algumas redes de teste em cidades do interior. Gostaríamos que tivesse sido mais rápido, mas não está sendo", explica. A maior implantação de IPv6 no mundo, segundo ele, é a do provedor norte-americano Comcast, com 25% de tráfego no padrão.

Espremendo o moribundo

"O argumento de que ninguém sabe de onde veio (o IPv6) não é válido, já não é um padrão novo", afirma o diretor-presidente da NIC.br, Demi Getschko. Na visão dele, o pior a fazer é postergar essa migração para o IPv6, tentando utilizar tecnologias como o Carrier Grade NATs (CGN), que acumula diferentes endereços IPv4 para tornar um só para as operadoras. "O NAT é uma excrescência para aproveitar números IPv4", reclama.

Isso porque a CGN impossibilita a identificação correta de endereços de IP de máquinas, permitindo falhas na investigação de crimes cibernéticos e na análise forense em casos de fraude eletrônica. "Agora estão tentando de novo com carrier de NAT, mas isso tem efeitos colaterais e eu acho que protelar isso (migração para o novo protocolo) não seria bom para ninguém. Deveríamos entrar no mundo limpo do IPv6", diz Getschko.

Sem brincadeira

Dirigindo-se aos representantes de provedores de Internet durante o evento, o diretor de projetos especiais e de desenvolvimento do NIC.br e do PTT.br, Milton Kaouru, mostrou a gravidade das consequências da inércia no assunto. "Se você não é um AS, vai ficar dependendo de um semiprovider, e eles podem se tornar caro, podem comercializar para vocês de forma bastante onerosa", declara, citando o valor de mais de US$ 15 por endereço de IP. "Esse negócio não é brincadeira, vocês precisam ver isso como ameaça. Se eu fosse vocês, ficaria muito preocupado", declara.

Uma solução, diz Kaoru, é que as empresas procurem se cadastrar no NIC.br como sistemas autônimos e participem das trocas de tráfego. "Vocês vão ter ganho de tráfego e oportunidade de negociar capacidades muito mais tranquilamente", explica.

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